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quarta-feira, 29 de abril de 2009

Desolada...

com isto.

Um link nunca é de graça

Estou umbilicalmente ligada ao Geração Rasca . Foi lá que experimentei escrever num blogue colectivo e que me enriqueci e cresci nestas lides blogosféricas ao colaborar em algo que não era só meu. Entretanto, mudei e com a mudança veio a saída do Geração ou GR. Não obstante, esta semana acabei por voltar pela mão da Cristina, uma mulher do Nuorte, a braços com a experiência recente de viver na Mouraria, com os inevitáveis problemas lexicais que isso lhe traz. Pela sua imensa generosidade, este modesto cantinho blogosférico foi nomeado o Convidado da Semana. Regozijei naturalmente. Apesar de ser um animal escoiceante caso me enfureçam ou eu me enfureça sozinha, saibam que também acontece, fiquei muito feliz e sensibilizada. Acorri a agradecer à Cristina e ao Geração Rasca, a pensar com os meus botões Que queridos!, sorrindo para o que se cruzou no meu caminho leve e solto. Voltei depois, umas horas talvez, para saber se me tinham respondido e, com um pouco mais de tempo, observei o título deste meu blogue na barra lateral, pena que seja do lado direito. Foi aí que se me fez luz - desculpa lá André, mas ninguém diz Fez-se-me Alvalade - e percebi que para honrar o nome desta casita e não defraudar os meus colegas Rasquianos seria de bom-tom escrever todos os dias, o que convenhamos, nos tempos que correm é uma aventura homérica. Esta é pois a garantia de que haverá posts novos todos os dias, e muito poucas fotografias, enquanto durar o reinado. Cá para mim foi uma forma airosa de me pôr a postar diariamante. Um link nunca é de graça.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Cronicando

Pelo fim de tarde num dia da semana transacta rumei ao ginásio ou fitness club ou qualquer outro eufemismo que lhe queiram aplicar não tanto para cumprir o ritual de saúde e bem-estar mas para me esfalfar em algo que definitivamente me afastasse o sorriso complacente da jovem mulher com quem me cruzo diariamente. A monitora foi solícita e atenta e ao ver-me em inusitado esforço arremessou-me Está cheia de força hoje. Sorri o melhor que pude e adiantei Cheia de força e furiosa. A monitora não se ficou E pelo que vejo é alguma injustiça. Nada mais certeiro. Acrescentei que sim, adicionando-lhe um elogio pela perspicácia ao que ela sorriu embevecida pelo feito, e continuei ao que tinha ido. Desta feita nada de tonificar ou emagrecer. Que fosse para o diabo a proximidade do Verão e a iminência da Primavera, a probabilidade dos vestidos frescos e esvoaçantes que mais revelam do que ocultam. Para o diabo com tudo isso.
...


Para ler o resto nada como uma saltadinha ao PNETMulher


imagem: Paula Rego, Sit

domingo, 26 de abril de 2009

O tempo da descoberta

Faz hoje trinta e cinco anos que a mulher do PIDE dormiu lá em casa. Apesar do meu pai ter visto o PIDE rumar ao seu trabalho, talvez na António Maria Cardoso, e não o ter avisado de que havia uma revolução em curso e que provavelmente não voltaria para jantar. A mulher do PIDE era colega da minha mãe na escola, tinha dois filhos pequenos, o mais novo ainda de colo, e ficou completamente só com as crianças numa casa que ficava na mesma rua que a nossa, apenas umas casas abaixo e do outro lado. Do PIDE ninguém teve pena lá em casa. Havia de pagar o que fez aos outros, os primos da minha mãe eram repetidas vezes presos pela PIDE bem como o padre amigo da família, sabia-se lá em casa muito bem quem eram e ao que iam, mas a pobre mulher, professora de Francês com duas crianças pequenas, era digna de compaixão e assim dormiu a primeira de algumas noites no sofá-cama da sala com a criançada.
Além da mulher do PIDE havia também a mulher do capitão que por não ser de confiança tinha ficado de fora de todas as movimentações dos capitães e no dia exacto, enquanto todos se deslocavam para Lisboa, ele dormia o sono dos justos. A mulher do capitão não sabia de nada naquele 25 de Abril. Foi portanto com enorme surpresa e risco de apoplexia que a minha mãe sob o olhar vigilante de Américo Tomás e Marcelo Caetano pendurados a cinzento numa sala do liceu, a informou de que algo estava a acontecer. A mulher do capitão não dormiu lá em casa, mas faz parte das personagens que vivem no meu vinte e cinco de Abril, onde a protagonista continua a ser a minha mãe, uma vez que foi através dela que a revolução chegou até mim.
Naquele dia de manhã, acho que estava um dia cinzento, a minha mãe tentava sintonizar em vão uma estação de rádio que transmitisse a música habitual mas em vez disso encontrava música clássica. Terá sido num desses momentos que ouviu o comunicado das Forças Armadas e que não mais se conteve de alegria. Fomos acordados com a sua euforia pueril, a chama da espera que se acendia, o tempo de todas as utopias, de repente, tão presente nas nossas vidas, e que permaneceu durante muito tempo. E depois vieram mais pessoas, pessoas tão díspares: os amigos do Ultramar com as inevitáveis incertezas e ressentimento contra algo que lhes tirara tudo o que haviam construído ao longo de décadas em Angola, o exotismo da fala e das roupas, tudo tão novo, tão rápido, o amigo desertor que encontrara abrigo em casa dos meus pais durante a recruta e que se desfardava no mais ínfimo espaço de tempo para se libertar da grilheta de uma guerra que ele antecipava mas para a qual a Bélgica surgiu como a fuga plausível, os amigos que nos acusavam de sermos progressistas e que reclamavam estranhamente que a politica estraga as amizades, o chefe de polícia temido e temível pela população estudantil e o padre do "reviralho" que se tornara nosso amigo inseparável, a amizade dura até hoje, e que se juntava ao grupo de amigos que coloria aquele tempo de mudança súbita.
E depois vieram palavras desconhecidas antes, uma explosão lexical de braço dado com as pessoas pela rua subitamente coloridas e livres, a música que ecoava a cada esquina, as tertúlias estimulantes lá por casa e a descoberta de um outro tempo, enquanto eu deixava abruptamente a minha infância. Muitas descobertas, portanto.

Também no Delito de Opinião

Momento sitemeter (21)

Desta vez tenho a resposta para entrada que trouxe o estimado leitor até a este blogue. Quem derrota Hades é a avó Paulita, a única que regressou do Reino dos Mortos num Janeiro longínquo.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Momento de sorte

Há gente com sorte e gatos também. Naquele dia de Inverno nada faria prever o acontecido. Recebo um telefonema pela hora de jantar, a voz soturna indiciava uma preocupação e um infortúnio Vou mais tarde. Encontrei um gatinho atropelado e vou levá-lo ao veterinário. Horas depois o prognóstico era reservado e pela descrição tudo levava a crer que o pobre bichano, trôpego e ensanguentado, não sobreviveria às horas seguintes. Depois as conversas que se repetiam, Coitadinho do gato, e é gatinho ainda, é pequeno, deve ter fugido da casa de alguém… Não ia lá deixar o gato na estrada… e enquanto a consciência se tranquilizava por ter sido feito o que devia ser feito, a preocupação e o pesar pairava. Não ia safar-se. O gato foi ficando nas nossas conversas durante a noite. Coitadinho. No dia seguinte, a romaria ao veterinário e quando cheguei a casa da minha mãe pela hora do almoço fui brindada com a presença de um gatinho algures entre os três e quatro meses, com pelagem que mais parecia um dálmata e um ronronar insistente e tranquilizador. Impossível resistir. O gato não só tinha sobrevivido como estava já perfeitamente ambientado e infinitamente grato pelo salvamento. O ronronar constante era a prova inequívoca. Que os humanos conseguissem ser tão gratos. Digam olá ao Gastão.

fotografia minha

quarta-feira, 22 de abril de 2009

terça-feira, 21 de abril de 2009

E terça-feira

O que levará uma franco-excluída como eu a usar um título em francês?
Nada como dar uma saltadinha ao PNETMulher para se dissiparem as dúvidas.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

terça-feira, 14 de abril de 2009

A arte de parar

Na aldeia existe um código desconhecido a forasteiros e transeuntes de ocasião, um acordo não verbal, escrito em lado algum de que se tenha memória que dita de forma oculta as regras de conduta rodoviária. Desengane-se quem, em tempo de passeio ou de volta domingueira de arejamento da indumentária sagrada, ousar pensar que, entrando pelas ruas estreitas do vilarejo, está em posse dos conhecimentos basilares para circular em segurança. Na aldeia reina quem está na aldeia e quem está na aldeia reina como entende: os ritmos impostos pelo remanso dos vagares e algum sossego. Na aldeia, não impera a preguiça, impera a sua própria cadência e nesta cadência idiossincrática não cabem as normas e prescrições dos afobados condutores citadinos a espumar pelos escapes o fumo do stress da urbe sempre marcado pelo fortissimo vivacissimo das correrias destemperadas.
Na aldeia, um sentido proibido é um sentido proibido, regra respeitada sem discussões ou transgressões conhecidas mas um estacionamento proibido nem sempre é estacionamento proibido. Há dias em que é proibido, outros em que as riscas amarelas servem apenas o propósito de quebrar a monotonia do asfalto acinzentado e outros ainda que são cabalmente ignorados, tão ignorados que se lhes estaciona por cima. Nos dias em que anda à roda a clientela da tabacaria espraia-se tabacaria afora, nesses dias o estacionamento proibido não é estacionamento proibido, a sorte pode ser uma urgência, nos dias em que há missa é maioritariamente ignorado e nos dias em que há velórios na igreja idem. Razões de monta evidentemente. Contudo, em dias de muita chuva ou muito sol os estacionamentos proibidos observam o mesmo lastro de permissividade. Se chove não há tempo para delongas e se está sol para quê ter tanta pressa.
Para viver na aldeia é preciso largar à porta os espartilhos da condução orientada pelo tempo limite de deslocação entre um ponto e outro. Atestei-o quando num dia passado me fiz à aldeia vinda da cidade, envolta num furioso incandescente de semáforos e passadeiras. Movida a frenesi urbano e ainda com o fumo dos escapes presente na pituitária, ousei entrar irrequieta na ruela estreita para desembocar na igreja. À minha frente um carro branco pausado e lento. Sem aviso prévio parou na faixa de rodagem e condutor e transeunte encetaram o que parecia ser uma conversa amistosa, o sol de fim de tarde convidava à cavaqueira inconsequente. Exasperei de impaciência, refilei de incompreensão e enraiveci de intolerância. Tudo isto sozinha no meu carro, enquanto a conversa continuava absolutamente alheia e indiferente ao meu desesperar colérico e, quando terminaram, fui ainda simpaticamente cumprimentada pelo condutor sorridente. Melhor do que qualquer livro de auto-ajuda a aldeia convida a um dos ensinamentos que tenho como válidos para os dias de correria desvairada: há que saber parar.

Esta crónica escrita para o PNETMulher foi inspirada pelo Mestre José Franco que se me atravessou no caminho num dia de correria desenfreada. Repesquei-a hoje no dia em partiu e deixou a aldeia mais pobre.

Crónica


Vão lá ver o que se passa Entre Mulheres.
No PnetMulher.

domingo, 12 de abril de 2009

Anjos e demónios

Convivo numa base diária com um desses seres extraordinários que encontram uma explicação esotérica para todos os fenómenos que nos rodeiam, pessoal ou profissionalmente. Naquilo que uns vêem coisa nenhuma ou apenas uma grande acaso ou uma fortuita coincidência, este ser de luz e mezinhas encontra desígnios e caminhos de uma grande ordem esotérica que, felizmente, escapa à maioria – mal de mim se tivesse de aturar isto sempre. Admito que a espaços até lhe acho piada. Sei pelo olhar ou sorriso que foi encontrada uma explicação para o perfume que se pôs no ar, a corrente de ar que atravessou a sala ou para os energúmenos – e quantos – que se atravessam nas vidas comuns de gente comum, na minha inclusive. Sabendo de antemão a teoria, as dificuldades surgem para que cresçamos, evoluamos e percorramos esse calvário de vidas passadas, o karma que se nos agarrou à nascença e que só percorrido nos libertará, ou coisa que o valha, prevejo com relativa facilidade – será porventura o meu karma?- a resposta adequada.
E assim vou vivendo tranquila, sem lhe dar grande crédito, confesso, nem sempre tenho paciência para estes devaneios onde os insubordinados e mal-educados me foram postos no caminho para que eu evolua. Ficaria eternamente grata se fossem fazer progredir ou evoluir outros necessitados seres e me deixassem cá sossegada, de preferência, sem ter de me irritar frequentemente e chamar a atenção para tudo e mais alguma coisa. Se viram A Turma sabem exactamente do que falo.
Mas hoje – há sempre um mas e também um hoje- fiquei estupefacta ao ler este comentário e fui na senda da notícia. Aparentemente o Ministério que me tutela, ou o organismo competente para o efeito, acreditou uma acção de formação sobre crianças índigo, os tais seres que se me atravessam na vida profissional e que afinal não são insolentes e malcriados, são seres de outro mundo, de aura colorida que têm uma grande dificuldade em aceitar a autoridade. Esta será umas das acções de formação acreditada para efeitos de progressão na carreira – ainda não consegui entender de todo onde foram buscar o enquadramento legal para a dita- o que não deixa de ser uma coisa do outro mundo, uma vez que actualmente o professor só pode formar-se em áreas que sejam do interesse da sua escola. Seria pois de esperar que o Ministério da Educação tão interessado em promover o rigor e competência apostasse nos mesmos.
Estou ansiosa que tal chegue à minha escola. Deve haver um desígnio superior para tanto dislate, tal como me ensina diariamente a criatura de luz. Depois das acções de formação de TIC e de outras sobre a avaliação de professores, eis que surge este fenómeno. Agradeço que me avisem quando houver algo verdadeiramente importante e que forme profissionais mais competentes cientifica e pedagogicamente. É disso que precisamos. Tudo o resto é conversa fiada e muito triste.

Também no Delito de Opinião

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Tradições e blasfémias

Brian: Look, you've got it all wrong! You don't NEED to follow ME, You don't NEED to follow ANYBODY! You've got to think for your selves! You're ALL individuals!

E, todos os anos, a época anunciava-se. No tempo dos dois canais de televisão, Internet inexistente não havia como fugir do peso que se nos instalava na alma sempre que, findo há um tempo o Carnaval, a Páscoa se anunciava deprimente. Música soturna e filmes que se repetiam até à exaustão, a vida de Cristo, a vida e a paixão de Cristo, a vida, a paixão e a ressurreição de Cristo. O Estado é laico, já o era então, mas os canais de televisão não se reconheciam como tal talvez e mesmo que o fizessem impunha-se a contenção da época, eventualmente o gosto e fervor dos espectadores por estas coisas da fé. Muito embora se apregoe que quando não se gosta de algo, pode sempre fechar-se os olhos, desligar a televisão, o rádio, ou virar-se as costas, tal nunca surgiu como opção nesses tempos remotos dos dois canais e de uma idade de pouca autonomia e diversidade à escolha.
O meu filme da Páscoa chegou uns anos mais tarde, não sei exactamente quando, nem interessa para a história, sei que veio para ficar e Páscoa que se quer Páscoa por estes lados é certamente celebrada com A Vida de Brian. Lado a lado com o pão-de-ló e o queijo da serra – há hábitos que não saem nunca – ouve-se Always look on the bright side of life. Pode até ser blasfemo, censurado pelos mais fervorosos cristãos com ou sem sentido de humor, porém, poucos filmes me divertem tanto como a Vida do pobre Brian. Tomado pelo Messias desde o dia em que nasceu, o mesmo do Messias e no estábulo imediatamente ao lado, Brian vai experimentando as agruras de viver com a aura do Salvador numa sátira hilariante do implacável e corrosivo humor inglês. Estar no sítio errado à hora errada nunca foi tão verdade, pobre Brian, contudo, há sempre que olhar para o lado mais sorridente da vida.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Pensamentos profundos

Lareira acesa em Abril é como um branco de carapinha e um preto de cabeleira loura: não é natural.

Nacos de prosa (9)

We’d finished discussing Bastille Day, and the teacher had moved on to Easter, which was represented in our text books by a black and white photograph of a chocolate bell lying upon a bed of palm fronds.
“And what does one do on Easter? Would anyone tell us?”
The Italian nanny was attempting to answer the teacher’s latest question when the Moroccan student interrupted, shouting, “Excuse me, but what’s an Easter?” It would seem that despite having grown up in a Muslim country, she would have heard it mentioned once or twice, but no. “I meant it,” she said. “I have no idea what you people are talking about.”
The teacher called upon the rest of us to explain. The Poles led the charge to the best of their ability. “It is,” said one, “a party for the little boy of God who call his self Jesus and… oh, shit.” She faltered and her fellow countryman came to her aid. The rest of the class jumped in, offering bits of information that would have given the pope an aneurysm.“He die one day and then he go above of my head to live with your father.” “He weared of himself the long hair and after he die, the first day he came back here for to say hello to the peoples.” “He nice the Jesus. “He make the good things, and on Easter we be sad because somebody makes him dead today.”

David Sedaris, (2000), Me talk pretty one day, Great Britain, Abacus.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Terça-feira


Ai os homens, os homens...
Ide lá espreitar, lá onde as mulheres são umas grandes conversadeiras.
No PNETMulher obviamente

sábado, 4 de abril de 2009

Momento sitemeter (20)

Florbela espanca mãe. Ó Florbela, isso faz-se? Vai lá escrever uns sonetos e deixa-te de violências.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Marcos

Acabo de escrever a minha 50ª crónica.

Bulímico e exigente

O problema de se ter um blogue é que, se não o domesticarmos, ele toma conta da nossa vida e exige palavras, textos e imagens todos os dias. Há que alimentá-lo, regá-lo, acariciá-lo, dar-lhe colinho e deixá-lo dormir enroscado aos nossos pés, enquanto procuramos mais palavras para o alimentar. Mesmo domesticado continua a exigi-las. Este, por exemplo, tornou-se tão exigente que o tenho posto de castigo e, portanto, tenho-me coibido de o alimentar para ver se ele se põe no seu lugar. Adormeceu, entretanto, até ressona levemente. Quando acordar voltarei para mais aventuras. Mais vale isto do que queixar-me de que não tenho tempo.