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domingo, 29 de novembro de 2009

Desafios

Desafia-me aqui a estimada Maria do Sol a completar estas frases. Vamos ver o que sai:

Eu já tive a mania que podia voltar a ser profissionalmente muito feliz, como nos sete anos que estive no Ensino Superior.

Eu nunca fui às Cataratas de Iguaçú nem a Buenos Aires, mas gostava muito.

Eu sei que estou a ficar velha e a precisar de óculos para ver ao perto mas finjo que não é nada comigo até ao dia.

Eu quero viajar, viajar, viajar, viajar, viajar.

Eu sonho sempre viajar, viajar, viajar, viajar, viajar mais.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Ah é verdade...

Hoje está lá mais um giro e talentoso, um dos meus preferidos. Desde que o vi no papel do Bardo a minha vida nunca mais foi a mesma. Ora confirmem aqui se não é muito mais muito mais giro que o original.

H1N1 do nosso contentamento

Ena. Ena. Ena. Hoje foi um dos dias grandes da minha vida profissional. Hoje foi um daqueles dias por que esperei ansiosamente. Hoje foi um dos dias em que apliquei as duas décadas de conhecimentos adquiridos, a prática acumulada nestes vinte anos de giz, quadro, livros, sorrisos, fúrias, vitórias e choros. Hoje foi um daqueles dias em que, sim, valeu a pena levantar-me para enfrentar as hordas de adolescentes, os rebanhos de professores, os enxames de funcionários entre o burburinho das obras e o luxo dos monoblocos. Hoje valeu a pena. E foi hoje portanto mais um daqueles momentos que enchem um professor de orgulho, o ar importante, sentada na secretária, um leque de perguntas que se desdobrou como um toque de mágica. E foi tudo isto quando de repente a espreitar por entre os verbos modais können, dürfen, müssen, sollen, mögen e wollen, möchten Sie? Ja, danke. Können Sie? Ja, natürlich a Francisca se lembrou de atirar para o ar Stora, estou quente. Acho que tenho febre. Pára. Pára tudo. A professora experiente e competente na arte misteriosa de medir febres e calores aproximou-se da suspeitosa Francisca, suspeita também. Febre? A professora abeira-se da Francisca, faz um ar grave e atira. Francisca, vá lá fora à funcionária tirar a febre. A professora diligente e obediente a abanar a cauda e arfar de satisfação abeirou-se da secretária, de onde tirou criteriosamente um formulário, ah, um formulário, ah, um relatório, ah, um papel para relatar, escrever, descrever, preencher. Ah alegria das alegrias. E a Francisca voltou. Francisca, tem febre? Atira a professora de caneta na mão, fiel cumpridora dos seus deveres profissionais. Tenho 36 e 9. Os colegas rematam foi bué da rápido. Pois foi, foi só pôr o termómetro no ouvido, deu logo. Ora, concentra-se a professora a fazer a cruzinha no <37, e sintomas respiratórios? Tenho tosse. Dores no corpo? Doem-me as costas. Diarreia, vómitos? Não, stora. O relatório no fim. A recomendação a letras maiores É favor entregar na sala dos professores. A professora arfa mais uma vez, abana a cauda e retoma as outras funções, essas, de entretanto ensinar umas coisitas para quebrar a monotonia da Gripe A. Há dias que valem a pena. Que seríamos nós sem mais um papel para preencher, um formulário, um relatório, um inquérito, um questionário? Sim, que seria de nós?

terça-feira, 24 de novembro de 2009

E o prémio vai para...

A única que percebeu aqui em baixo que eu estava a sentir-me deste tamanhanhinho. Muito obrigada pela vossa colaboração.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Parva, imbecil e idiota

Fim de tarde em Berlim. Junto à Gedächtniskirche grupos de turistas passeiam-se pelas bancas de postais, contemplando a Igreja e o que ficou dela.. Ao fundo o Kurfürstendam, sem a elegância de outrora, ainda assim imponente, árvores que se erguem de um lado e de outro. Dou uma volta, deito o olho aos postais, cumprindo parcialmente a minha existência de turista na mais emblemática do século XX e do outro lado da praça avisto a desgraça das desgraças, a tentação das tentações, mesmo com poucas horas de sono pelo voo madrugador aquilo a que resisto jamais: uma livraria. Do outro lado e em rebordo redondo ladeando a praça, as parangonas anunciavam o espaço, ainda mais evidenciado pelas bancas de saldos ou livros de ocasião no passeio. Faço um desvio. O Kurfürstendam pode esperar, dez dias seriam. Entro, como sempre, na senda das novidades e tendo em conta que já não visitava solo germânico há uns anos acorro fazendo mentalmente as contas do que perdi naqueles anos de ausência. No escaparate do lado esquerdo as novidades, nada pior para uma alma geminiana, a novidade, e deparo com um livro que havia de trazer na bagagem, um dos muitos.
O título sugestivo, Generation Doof, é uma réplica a um outro livro que apareceu há uns anos na Alemanha intitulado Generation Golf, o retrato de uma geração que cresceu com o famoso carro. Mas doof marcaria toda a diferença, porque doof em alemão significa parvo. Estaríamos pois perante a Geração Parva, embora o título soe pessimamente em português, pelo que arriscaria antes, Geração Cretina ou Geração Idiota, Imbecil também não iria mal.
No recato do lar, há livros que deixo a marinar durante uns tempos, pego no livro, enfastiada com as letras lusas e cansada das anglófonas num desses dias de Primavera serôdia. O episódio inicial revela um conteúdo promissor. Num concurso de beleza, foi pedido às candidatas que identificassem no mapa do seu país alguns Estados Federais e até cidades. A outra concorrente foi pedido que indicasse onde ficava a ex-RDA ao que a prestável beleza teutónica desenhou um risco longitudinal e arrumou a Baviera para a ex-Alemanha de Leste. E o disparate continuou: a Polónia no meio da Alemanha, Berlim logo ao lado.
A Geração Idiota pavoneia-se livro afora. Abrange indivíduos dos 15 aos 45 anos, o que não me deixou nada tranquila, e que se manifesta nas mais diversas áreas da vida: pessoal, profissional, no amor, no lazer, na educação, na relação com o dinheiro. Abundam os comportamentos desconexos, sem maneiras e imbecis. O livro é profusamente ilustrado com exemplos. A estupidificação em frente do LCD de última geração, esparramados no sofá entre snacks hipercalóricos, algures entre o DVD e a XBox e um sem número de gadgets.
Teria já lido cerca de metade do livro quando fui tomada por um assomo de provincianismo e dei por mim a pensar que afinal, cá no nosso cantinho luso, não estávamos assim tão mal, já que os alemães sofriam da mesma ignorância e imbecilidade. Foi tudo isto antes de me aperceber – dêem-me o desconto, afinal estou quase no limite de idade para fazer parte da imbecil geração – que também os alemães, os ingleses, talvez os franceses, quiçá os espanhóis. Asnos e imbecis. A globalização no seu esplendor. Uma pandemia para a qual se desconhece vacina.



Também no Delito de Opinião

Muros

Há novos muros de Berlim, novas cortinas de ferro, novas barreiras, ódios velhos renovados. Os famintos e perseguidos batem à porta dos prósperos — prósperos estes muitas vezes às custas dos que exploraram tanto tempo — e as portas se fecham. O diferente é visto com desconfiança ou desprezo. O diferente é inimigo, o fanatismo substitui a razão e a fraternidade, as religiões humanistas se pervertem, o homem é cada vez mais o lobo do homem.

João Ubaldo Ribeiro, (1993), Um Brasileiro em Berlim, Rio de Janeiro, Nova Fronteira.

domingo, 8 de novembro de 2009

Berlim (14)


East Side Gallery

O direito à memória

Se a arte imita a vida ou a vida imita a arte é tão discutível como nos perdermos em considerações sobre o ovo e a galinha. Tenho, não obstante, como certo que coexistem numa relação absoluta de interdependência e que os contextos sociais e políticos são muitas vezes impulsionadores de novas correntes literárias ou tendências.
Foi assim, quando em 9 Novembro de 1989, o Muro de Berlim foi metaforica e literalmente derrubado pela vontade dos homens e mulheres sedentos de mudança. O mundo geográfico alargou-se, fronteiras foram quebradas e com a abertura do Leste e a reunificação da Alemanha, uma nova ordem social surgiu. O encanto foi definhando com a passagem do tempo e as dificuldades de adaptação de ambos os lados intensificaram-se. Seriam afinal ein Volk – um povo só?
E o que tem a literatura a ver com tudo isto? Durante as décadas em que o mundo se dividiu, uma geração cresceu. Desconhecendo as diferenças entre o Leste e o Ocidente, assumiu como sua a realidade quotidiana dos países em que viviam. Sem nunca ter sofrido a separação violenta iniciada em 13 de Agosto de 1961, tinham histórias para contar, histórias além da História, histórias e aventuras de uma infância e adolescência mais ou menos feliz, mais ou menos colorida mas tão legítima como qualquer outra. Surgiu pois uma nova geração de escritores cuja temática central se debruça sobre a vivência anterior a 1989. Thomas Brussig e Jana Hensel são penas dois dos muitos autores que invadiriam o mercado editorial alemão. Brussig destaca-se pelo tom irónico e leve com que aborda a vida para lá do Muro e preenche com palavras o imaginário mitificado do Leste visto pelo Ocidente, enquanto Jana Hensel distingue-se pelo seu carácter autobiográfico, não-ficcional, portanto.
Na Alemanha, esta novíssima literatura não foi acolhida de braços abertos como haviam sido os cidadãos da RDA em Novembro de 1989. Frequentemente acusados de leviandade na abordagem de uma questão tão sensível como a história contemporânea alemã na segunda metade do século XX, e, em casos mais extremos, de desejar o regresso do passado e, com ele, o regime totalitário da RDA, os autores defendem-se, exigindo a legitimidade das memórias apolíticas que forjaram sua matriz.
E, porque acredito que existe memória sem cor política, não posso concordar mais: que faria com a memória da minha primeira ida ao teatro no defunto Monumental para ver o Pinóquio, titubeante e mínima, pela mão segura do meu querido pai? Deito-a fora, apenas porque aconteceu antes de Abril de 74? E o que faço à memória do homem da bolacha americana empurrando um carrinho verde pelo areal infinito e agreste da Figueira da Foz? Faço delete? Lembrar não é necessariamente homenagear ou militar, logo, lembrar a RDA não implica a observância do sistema político então vigente, tal como as memórias de antes de 1974 não atiram os seus donos para as secretárias da António Maria Cardoso, felizmente para mim. A memória é a matéria de que as vidas são feitas, sem ela não há passado e, sem passado, dificilmente chegaremos ao futuro.


Texto repescado do baú da memória

Na fotografia Ampelmann ou Ampelmännchen, um dos símbolos da RDA, transformado em objecto de culto e comercializado em todo o tipo de parafernália para saciar a fome voraz dos turistas. Pode ser encontrado agora pela cidade inteira.

Berlim (13)


Nas margens do Spree

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Necessidades

Às vezes, se me perguntam o que faria se ganhasse o Euromilhões, a resposta é a de sempre. Além de uma ou outra melhoria pontual na minha qualidade de vida, o dinheiro servir-me-ia para fazer aquilo que surge em primeiro lugar destacado: viajar. Muito.Tudo o resto posso fazer enquanto viajo: ler, conhecer, passear, ver rua e museus e gente, deter-me a ver o movimento ou a tranquilidade, parar sossegada numa esplanada ou recolher-me no último andar de uma livraria para aconchegar a alma e o corpo numa belíssima chávena de chá enquanto chove lá fora ou enrolar-me num cachecol, pôr gorro e luvas e perder-me nas multidões num mercado de um qualquer Sábado ou Domingo de manhã e posso escrever e posso amar e posso observar e sentir sempre. E vem isto a propósito desta vontade que me deu de regressar a Berlim, a culpa é das fotografias e do 9 de Novembro. Agora que se aproxima o Natal prevejo Mercados de Natal em cada ponto da cidade e para todos os gostos, tradicionais ou alternativos, e imagino-me, mau grado o meu desamor ao frio, aconchegada em casacos e cachecóis, as mãos protegidas por luvas enquanto o tempo pára no primeiro gole de Glühwein. E era para dar asas a este ímpeto que eu queria o dito guito europeu, para poder decidir hoje  que amanhã vou beber um Glühwein a Berlim sem que isso causasse mossa no orçamento ou que tivesse sequer de fazer contas. Um verdadeiro perigo, pensando melhor e a bem de todos, é até bom que nem saia.

Berlim (4)


Haus des Lehrers
(Casa do Professor)
Alexanderplatz

Berlim (3)


Unter den Linden

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

domingo, 1 de novembro de 2009

Berlim (1)


Em evocação de uma das cidades europeias mais fascinantes e dos 20 anos da Queda do Muro de Berlim até dia 9 vai haver fotografias minhas da cidade.