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segunda-feira, 5 de março de 2012

Lotação esgotada

Estava um belo dia de sol e de Primavera, era uma segunda-feira, o Benfica tinha ganho o campeonato no dia anterior e eu tinha aulas até às seis e meia, quando a Lolita pariu quatro filhotes. Uma exactamente igual a ela, uma quase preta, uma amarela, foi um até aos seis meses e eu ter feito a constatação lapalisseana que na ausência de testículos, o Jobim era uma, e uma tartaruga tricolor. Adoro gatos amarelos, tive um desgosto imenso quando um me desapareceu e uma frustração desgraçada por não ter acolhido o pai delas, um ruivo robusto, bem-disposto, carinhoso e palrador e foi sem qualquer novidade que a amarela ficaria cá em casa. Às outras três caber-me-ia arranjar um lar. Não sei exactamente quando a tartaruga tricolor terá entendido que o seu destino não era esta casa e como tal encetou uma luta sem igual, um verdadeiro braço de ferro de olhares de súplica bem de frente para nós, a beleza aplicada ao infinito na tarefa de nos fazer vergar pela evidência de que éramos afinal uns fracos perante a insistência, sedução e choradinho do bicho. Não me lembro em que dia mas lembro-me muito bem de exaurida pela luta desigual ter admitido Eu não consigo dar a gata! E vão três. 
Estava um belo dia de fim de Agosto, era Domingo, tinha a alma inquieta pela véspera de mais uma viagem, um destino que sempre quisera conhecer, a mala aberta na sala, quando pela manhã, enquanto alimentávamos o cão do vizinho, ouvimos um gato a miar no canavial. Podia ser uma das nossas, sim, podia, e resolvemos ir ver o que se passava. O que se passava era mais uma tartaruguinha mínima, aflita e assustada que se escondeu quando nos viu e adentrou o canavial. O resto foi um Domingo de ouvido alerta com a bichana em miados intermitentes. Seriam umas quatro horas e voltei lá armada de biscoitos para lhe matar a fome. Depois de alguma persistência consegui apanhá-la e trouxe-a agarrada a mim até casa. Tadinha da minha bichana. Ficou na casa dos meus vizinhos o período das férias. Quando finalmente tinha convencido uns outros vizinhos a ficar com ela e quando estava a ser levada para casa travou-se de razões e arranhou tudo o que lhe apareceu à frente, cão e vizinha que a devolveu à precedência. Mais um finca-pé. Vamos ver quem me consegue tirar desta casa. Pois. E vão quatro.
Apareceu-me aqui um belo dia de Inverno, de sol também, fita-nos de longe mas vai-se aproximando, espreita cá para dentro pela porta da sala e mia-me rapioqueiro. Já lhe passei a mão pelo pêlo e lhe ofereci uns biscoitinhos. Quer brincadeira e conversa. É lindo, grande e cinzento, demos-lhe o nome de Boris, e morro de medo que também tenha sido abandonado. Mas o que me trouxe a este post é outra razão. Chega de desfiar a existência contada pelos gatos. Amigos felinos que estão a ler isto, parem de passar palavra que aqui no recato da aldeia vivem uns parvalhões de coração mole rendidos a uns ronrons e uns olhares de súplica, se faz favor. Temos lotação esgotada, sim? Grata pela atenção. E agora vão ronronar para outro lado.


7 comentários:

  1. Gosto muito do teu post (talvez porque gosto muito do meu Mel).
    A tricolor é gata? Malandra? (Digo isso porque a irmão do Mel é assim e é terrível)
    Beijinho e obrigada por esta viagem ao mundo das quatro patas

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  2. Realmente o Boris também é muito lindo! :))

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  3. Olá Mané :)
    Sim, a tricolor é gata, as tricolores são sempre fêmeas.
    Obrigada pela visita.

    Pois é, minha mãe, e hoje pela fresca já andava lá por perto.

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  4. É impossível resistir a um Boris tão fofinho! (com ou sem ronron)

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  5. Já hoje cá veio :) É lindo!

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  6. Eu adorava ter uma tricolor e uma laranja, são tão giras :)
    E a mim não me deixam levar para casa os gatos canitos que aparecem lá na rua! ;)

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  7. São mesmo. Todos os laranjas que conheci têm muito bom feitio, a minha Ruiva é um doce, as outras são bem mais espevitadas e a Guidinha está com tanto mimo que até tenho vergonha :)
    Hoje o Boris não apareceu.

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