Páginas

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Raios

Só gostava de saber quem foi a besta, e estou a ser simpática, que espetou um pontapé no nosso Gastão e o deixou com uma pata partida.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Entre dois toques de telefone

Logo pela madrugada o telefone tocou. Diz que tinha havido uma intempérie tamanha, estradas cortadas, ventania furiosa, árvores na estrada e o diabo a sete. Levanto-me pelas oito horas neste meu primeiro dia abençoado pela falta de aulas, professores, alunos, monoblocos, fichas, avaliações e relatórios, e espreito pela janela para conferir o temporal. Muito bem. Os vidros da cozinha tinham farrapinhos de esterco e palha, nada que seja muito natalício, mas lá que tinham, tinham, o estendal móvel estava plantado na relva de pernas para o ar e uma das havaianas antigas que descansavam do lado de lá da porta para as eventualidades estava igualmente de borco virado a fazer companhia ao estendal. Podia muito bem ser uma instalação, um hino à subversão feminina, o ódio aos trabalhos domésticos presente no estado calamitoso do estendal, a insurreição na inversão da chinela, mas juro que eu estava inocente.
Segunda evidência da fúria da mãe natureza: não havia luz. Ora não havendo luz, duas das coisas mais importantes na minha manhã, café e notícias, tinham ido com o vento, assim mesmo gone with the wind, e portanto comecei a ver este dia com muito maus olhos. Sem luz, não há muito que se possa fazer em casa, assim sendo rumo a um desses antros do consumismo para finalizar uns presentes de Natal e chego a casa lá pela uma hora com uma neura furiosa que faria inveja ao episódio mais depressivo de tpm.
Depois do almoço, dirijo-me ao banco e eis que reparo que o meu cartão tinha desaparecido. Puxando pela cabeça descobri que o tinha deixado na loja, lá no antro do consumismo, cá para mim um aviso divino dos excessos, e zás rumo de volta ao covil danado. Nesta altura, sem café da manhã, sem notícias, sem luz em casa e sem cartão, respirei fundo umas dezenas de vezes para afugentar a ira, e depois de mais um périplo regresso finalmente a casa, os sacos que se largam, as compras que se arrumam e finalmente as notícias. Isso é que seria muito bom. Mas não. A televisão muda e queda, o aviso de que não havia sinal. Sem sinal. No signal. Kaputt. Três quartos de hora de telefonemas depois, há que aceitar o pior. Terça-feira, ou seja daqui quase a uma semana, receberemos a visita do Sr. Dr. Eng.º Meo Técnico de televisões achacadas com o mau tempo. Até lá nicles. Assim sendo, acende-se a lareira para compor o ambiente. Acendia-se porque depois da lenha no sítio certo descobre-se que não há acendalhas e sem elas, lareira népia. Que bem que isto está a correr. Toca o telefone uma boa hora depois. Dona Leonor? Sim, sou eu, Dona Francisquinha. A senhora viu o ferro em cima da banca? Vi. Pensei que estava quente. Mas olhe, não liga. Não liga? Não, até pensei que era da ficha, mas não. Ah não se preocupe, deixe lá, as coisas estragam-se. E foi o último telefonema do dia.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Terceiro-mundo

Pois se há coisa que abomino é frio. Ora Inverno é frio, logo é normal que esteja um frio danado e este frio danado até suportável enquanto se anda na rua. Nada que uma camisola a mais, um par de meias sobressalente ou umas luvas extra não ponham no sítio. O que não é normal é que não se usem aquecedores e que hoje tenha passado umas seis horas em reuniões de avaliação em salas com uma temperatura inferior à exterior. Raio de miserabilismo terceiro-mundista.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Ena

Aqui estou de lareira acesa, notas dadas e a alma descansada. Um verdadeiro luxo.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Domingo, 13 de Dezembro...

e dois presentes comprados. Por este andar preciso de mais umas semanas até ao Natal.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Jingle Bells

A partir de hoje e até dia 25 vai haver posts alusivos à época festiva no Delito de Opinião. Podem espreitar aqui.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Ena

Amanhã tenho o Sábado livre, coisa que não acontece desde Setembro.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Thanksgiving

Dia de Acção de Graças. O feriado dos feriados. Mais importante do que o Natal, dizem, mas sem presentes. A professora que a espaços acha que pode acabar com a ignorância dos seus alunos fica a ruminar a ideia e pensa com os canudos negros Vou dar uma coisa diferente aos putos, hoje é Thanksgiving. Para a próxima vez que aparecer o Dia de Acção de Graças já sabem o que é. A professora puxa pela cabeça. O quê? E lembra-se que a par de um texto do Bill Bryson aquela ilustração do Rockwell é mesmo o ideal. E é diferente. E vai pô-los a falar e dá para introduzir algum vocabulário. Agarra-se ao computador, engendra uma estratégia, desenvolve uma actividade e chega à aula lampeira Vamos ver se isto hoje corre bem, o Rockwell pespegado a preto e branco nas fichas de trabalho, o livro da Taschen para que melhor vejam, outras ilustrações também, e a aula começa. E corre bem. Depois da discussão a tarefa seguinte: preenchimento de uns balões de conversa e de pensamento que a professora escarrapachou cuidadosamente sobre as personagens. A adesão foi total e o corrupio ainda maior. A professora ufana do seu feito e do interesse dos seus alunos, secretamente feliz Estes putos são mesmo espertos. De lá do fundo levanta-se uma voz Stora, venha cá. A stora vai. A stora corrige. A stora explica que o plural de tooth é teeth e regressa para a leitura em voz alta do havia sido escrito nos balões, as falas que já tinha individualmente conferido, calcorreando alegremente o seu socrático monobloco. E a voz começa. Era a avó, a avó na cabeceira da mesa. Escrito estava It’s a pity I don’t have teeth, pobre da avó que era desdentada, tão desdentada que teria de prescindir do peru, era desdentada até ele se ter esquecido do -th final e de o ter substituído por um simples -t, pungente e definitivo. Afinal o que a avó não tinha era outra coisa, coisa essa que a turma cheia de rapazes não pôde deixar em vão. E levantou-se um burburinho, a risota abafada até alguém ter proferido em tom audível o equivalente em português e outro alguém ter perguntado Então e boobs? E outro ainda E breasts? A stora explicou sucinta e fugazmente as diferenças sociolinguísticas do item vocabular em causa acompanhado das óbvias advertências pedagógicas. Afinal a stora não quer que os seus alunos sejam uns ignorantes, sem saber que nomes chamar a quê, não vá um dia o vocabulário fazer-lhes falta e culparem mais uma vez essa cambada de incompetentes que têm por missão pôr tino na educação deste país e que só querem fazer manifestações, os inúteis. A língua inglesa é muito traiçoeira, admitamo-lo. O Thanksgiving ainda mais. E a avó uma desavergonhada. Assim não há condições.