Que consigamos rir no meio da adversidade
A Curva da Estrada
A Morte é a Curva da Estrada. Morrer é só não ser visto.
Fernando Pessoa
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terça-feira, 24 de dezembro de 2013
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
terça-feira, 1 de janeiro de 2013
terça-feira, 25 de dezembro de 2012
sábado, 22 de dezembro de 2012
Sem resposta
Às vezes pergunto-me o que fazer aos quarenta e sete anos, com vinte e cinco anos de ensino, sem qualquer possibilidade de mudar de profissão, pouca de mudar de país e quase nenhuma além de aguentar a um canto tanta humilhação do país a quem dei duas décadas de trabalho dedicado.
Estantes e gavetas:
ai portugal portugal,
ossos do ofício
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Countdown
Vinte e três e cinquenta e seis. A lareira crepita. As gatas dormem. Reina a paz nesta casa. Planifico mentalmente a semana que entrará dentro em pouco e penso que me faltarão umas três semanas para acabar o primeiro período. E não era isto que eu queria que a profissão que um abracei se tivesse tornado: um fardo, um incómodo e o desejo que acabe depressa. Faltam três semanas para entrar por aquela porta, abandonar os livros e respirar bem fundo, livre e liberta de algo que me atormenta.
sábado, 17 de novembro de 2012
A vida num prato
Não gosto de gente branda. Não
gosto de sabores insossos. Não gosto de apertos de mão moles. Não gosto de
sorrisos amarelos ou de desviar de conversas. Não gosto de gente que se escusa
a tomadas de posição, que não consegue dizer uma coisa desabrida se for
necessário ou que vive existências beatíficas de ausência de palavras. E não
gosto de conversa chocha. E de gente manipuladora. É que a manipulação é a arte
de dissimular, contornar, dominar o outro até que ele ceda aos nossos intentos
sem que o tenhamos afirmado assertivamente. Acontece que esta forma de vida já
foi mais turbulenta do que é agora, afinal a idade madura, chamemos-lhe assim, não
é só sentir o corpo a ceder implacável à força da gravidade e trouxe-me alguma
sensatez com a qual não me tenho dado mal. Esta verborreia serve para dizer que
também na comida gosto de sabores fortes, daqueles que nos fazem sentir, beber
um vinho intenso ou proclamar as qualidades orgásticas daquilo que ingerimos e gargalhar
a seguir com os comensais à nossa frente. Acontece também que por isto que
acabei de dizer não gosto de gente que torce o nariz à comida e se resume a uma
garfada de nariz torcido, proclamando que estão cheios, como fêmeas em véspera de parir. Terão noção da vida que
passa a seu lado? E pronto, agora que já desabafei, aqui fica uma receita que é
uma extensão da intensidade com que a vida deve ser vivida. Ou como eu acho que deve ser vivida.
domingo, 11 de novembro de 2012
Quietos e calados até terça-feira, dia 13*
Depois desta triste figura aqui descrita e que graças aos deuses não foi autorizada na Alemanha como os autores queriam, eis que surge este que descobri no 2 dedos de conversa da Helena. Em verdade nos digo que estou ansiosa que a Merkel se vá. Nunca se sabe com o que nos brindará a imaginação tuga.
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
Consultório Jonet
Querida Isabelinha, estou a pensar fazer bifes para o almoço mas não sei se não estarei a viver acima das possibilidades. Deverei fazer antes umas bifanas fora do prazo ou será preferível contentar-me com os couratos do suíno? Grata pela atenção.
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
Pão por um deus desconhecido
Nove e vinte e cinco. Os cães ladram inquietos. Eles vêm aí. Sei que são eles. Espreito pela janela do quarto e vejo-os. Desço as escadas a tempo de lhes abrir a porta. Dizem ao que vêm sorridentes para soltar um lamento de seguida ‘Está tudo na missa. Ninguém nos abre a porta’. E o outro ‘e ele tem de se ir embora às dez’. Sempre achei que a religião é como o amor ainda em que numa proporção diferente, em demasia matar-nos-á e agradeço aos meus deuses por me terem arredado de sacristias e outros lugares estranhos de santos em esgares e sofrimentos, não nos bastasse já a vida. As crianças terão doces. Abrem-me os sacos de pano e para lá vou despejando com a supervisão dos dois a mesma, a mesmíssima quantidade de guloseimas: chupas, rebuçados, moedas de chocolate. Foram as primeiras das últimas crianças que vieram a minha casa pedir Pão-por-Deus. Acabou este ano com uma garota sorridente de sobrancelhas ralas que me inquiriu à saída ‘Posso fazer uma pergunta?’ Claro!’ ‘Esta árvore que tem aqui chama-se como?’ ‘Azevinho.’ ‘É isso’ diz-me. E a conversa corre solta sobre o azevinho e as bolinhas vermelhas numa manhã de sol brilhante indiferente ao país que anoitece. Quando voltei para dentro e a minha porta fechou-se pela derradeira vez. Dentro dela anoiteci. Estranho país o que mata as tradições. Estranho país o que nos matará a todos.
Também no Delito de Opinião.
Das entranhas
Desta vez não é raiva, indignação, fúria. Desta vez é uma profunda desilusão. Com o país, com a minha vida transformada em vidinha de contar cêntimos com tantos cortes. A perspectiva de uma vida pequenina de estatelar o nariz nas montras e ver o mundo sem lhe poder tocar. E ter de me resignar. Dizem-me por aí que gastámos de mais. Enchem-se bocas balofas de moralismos bafientos. Desta vez é vontade de parar. Baixar os braços. Esconder-me até que tudo isto passe ou pegar nas malas e sair de vez sem remorsos nem saudades. Bater a porta. Esquecer que alguma vez fui professora e partir definitivamente para outra. Não há nada que pague 'isto', tanto sacrifício, tanta humilhação. Nada.
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
terça-feira, 2 de outubro de 2012
sábado, 22 de setembro de 2012
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
Palavras intraduzíveis
As palavras contam. Contam sempre e contam muito, mesmo que digamos que uma fotografia vale mais que mil palavras ou que o silêncio é de ouro. Nada contra e também é verdade, a vida nunca é a preto e branco e há sempre várias versões para a mesma história. E agora chega de frases feitas. Os portugueses ligam às palavras e gostam de alardear e apregoar que são detentores da única palavra que não tem tradução. Acontece que eu tenho muito orgulho da palavra ‘saudade’ mas não acho que seja a única sem equivalente noutras línguas. Consigo encontrar em inglês uma ou outra cuja tradução fica aquém do significado. Quem já pôs pé nas ilhas britânicas e na ilha esmeralda terá sido invadido por uma panóplia de sensações contraditórias. Primeiro, a certeza de que jamais seriam capazes de viver num lugar com a invernia a assombrar-lhe os dias, o nevoeiro e a bruma como companheiros presentes e diários, o frio a açoitar-lhes os corpos e o vento a sacudir-lhes os cabelos como quem varre furiosamente as folhas de outono. A segunda, e muito falada, é a ‘frieza’ dos povos ali acima de França. Diz que são pouco dados a contactos amistosos, metem-se em casa como se fossem tocas e não vão em comboiadas, a menos que sejam bem regadas e num ambiente de festança desvairada. O português é rapaz a quem faz falta a ladainha da desgraça e para quem a pergunta/cumprimento ‘tudo bem?’ terá como resposta certa o desfilar de misérias, joanetes, bicos de papagaio e maleitas diversas, um certo recolhimento na exibição das dores privadas é encarado como sinal de frieza. ‘Lá em cima’ não querem saber de joanetes e catarros. Ponto. E vinha isto a propósito do que não se traduz. Uma das sensações contraditórias naquelas ilhas plantadas no meio do mar fustigadas por vento e circundadas por mares alterados é contraposta por uma das minhas sensações e sentimentos preferidos consubstanciados em Inglês pela palavra ‘cozy’. Alguém porventura terá encontrado um equivalente justo àquela sensação de se entrar numa casa cuidada, aquecida e confortável onde tudo parece cuidadosamente colocado e delicado, coroada por uma chávena de chá bem quente e uns scones e uma fatia de bolo caseiro? Ou a sensação de lareira acesa, fogo a crepitar mansinho e olhos brilhantes entretidos em palavras doces e momentos tranquilos? E ainda assim faltam-me as descrições. É isto mas é mais. Por agora fiquemo-nos por uma fatia de bolo caseiro feito com ingredientes a sério e uma chávena de chá perfumado.
Receita aqui.
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
domingo, 16 de setembro de 2012
sábado, 15 de setembro de 2012
sexta-feira, 14 de setembro de 2012
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
E da noite se fez dia.
Enquanto assistia no Facebook ao 'coiso' que nos (des)governa, fui beijada pela declaração doce de uma aluna. Poupo-vos aos detalhes, não vão fugir daqui a correr, saltando entre posts e links, para não escorregarem na lamechice pungente, mas digo-vos que palavras assim alumiam o dia e aquecem o coração. Fazem valer a pena. Tudo. Não há mais nada que um professor possa desejar. Pronto. Já disse.
domingo, 9 de setembro de 2012
Isto não são excepções e não vai haver aumento de impostos e eu sou o Pai Natal
O (des)governo abre mão de milhões de euros em excepções que simpaticamente epitetou de 'adaptações' e outros sinónimos agradáveis. Honra lhes seja feita que são muito criativos a dourar a realidade: Relvas licenciou-se como se viu mas não é bem assim. É tudo legal e transparente e a léguas de distância de José Sócrates que pelo menos não teve equivalências por rancho folclórico nenhum. Menos mal para ele. Na sexta-feira brindaram-nos com o mais abjecto aumento de impostos, apelidaram-no, contudo, de qualquer outra coisa como se fôssemos incapazes de fazer contas e pensar. Nada é o que parece. Nem mesmo o (des)governo. É bem pior do que parecia.
Também no Delito de Opinião.
A corja que nos governa
Umas horas depois de nos ter comunicado ao País o corte nos salários.
É a isto que estamos entregues.
sábado, 8 de setembro de 2012
Num (des)governo perto de si
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
terça-feira, 4 de setembro de 2012
Crónica de uma desgraça anunciada
A alma recostada na arte de nada
fazer. Acordar de manhã e vestir uma roupa confortável e inconsequente,
havaianas nos pés e a esperança de dias longos de sol sem preocupações
Estatelar os pés na relva e conversar sobre coisa nenhuma com as gatas que se
vão enrolando, entrando e saindo de casa sem restrições como se também a elas
fosse permitida uma quebra na rotina. Telemóvel mudo e quedo. E depois sair
daqui de passaporte no bolso ou cartão de cidadão ou bilhete de identidade,
algo que me permita galgar fronteiras para deixar para trás um país decadente
de governantes execrandos. Estava eu nesta vida de nada fazer quando fui
chamada pelas minhas obrigações de fada do lar. Rumo ao supermercado, era um Sábado
de manhã talvez, passeio rápida pelos corredores de lista na mão para não me
perder e me encontrar em coisas que não preciso, e quando estava lá no corredor
dos queijos, quase depois de me ter encontrado num delicioso queijo Feta, vi-a
do outro lado, na encruzilhada entre as margarinas e os gelados. Trazia a mesma
roupa que usa nos dia-a-dia que vamos partilhando, preocupante só de si, e que
me fez soar os alarmes e regressar por instantes à vida profissional. O coração
a bater mais forte, tomado de aflições para me recompor e mandar às urtigas
isso que se chama de vida profissional. Abeiro-me da criatura acompanhada das
crias, lanço-lhe um cumprimento sincero de sorriso largo bronzeado e do outro
lado sou recebida com um esgar de espanto, um misto de qualquer coisa entre a
surpresa e o horror. Digo-lhe Olá! Responde-me de mão no peito Ai credo! Gosto
muito de te ver mas só de pensar no que aí vem… Rosto contristado como se fosse
mensageira da desgraça, euzinha vinda de cobiçar um queijo Feta, acabada de
sair da secção de legumes tão saudáveis. Esperei pela capitulação, um olá, uma qualquer expressão que me permitisse ver que a criatura estava a brincar. Não estava. Resmunguei qualquer coisa e dei corda
às havaianas, sim, vou de havaianas ao supermercado, desaparecendo entre as
bolachas e as tostas.
E parece que amanhã é esse tal dia primeiro do ‘que vem aí…’, um daqueles anos que ninguém deseja. Depois desta recepção estou pronta para tudo. Let the games begin.
E parece que amanhã é esse tal dia primeiro do ‘que vem aí…’, um daqueles anos que ninguém deseja. Depois desta recepção estou pronta para tudo. Let the games begin.
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
Matemática ou a falta dela
"Ministério promete quadro a 8000 professores" hoje na capa do Diário de Notícias. Por outro lado e "de acordo com o ministério, o número de professores efectivos que integram o concurso de mobilidade interna, no ano lectivo de 2012/2013, é de 5733", diz-se no Público.
Se bem entendi, existem neste momento mais de cinco mil professores do quadro sem lugar, e já nem falo dos contratados, e o Ministério da Educação, que engendrou legislação, mexeu airosamente na estrutura curricular com pompa e circunstância, aumentou o número de alunos por turma e os horários dos professores e remeteu esses quase cinco mil para a antecâmara do desemprego, quer que oito mil passem a integrar os quadros. Tudo isto numa altura em que Vítor Gaspar se prepara para cortar na Educação. Gostava de saber quem andam a tentar enganar. Já que o Crato é das Ciências Exactas, exactas e precisas na forma como desbaratinando a Educação neste país, podia pelo menos apresentar algo minimamente credível ou será pedir muito?
Também no Delito de Opinião.
Estantes e gavetas:
ai portugal portugal,
ossos do ofício
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
Agosto
Agosto. Agosto e Janeiro. Janeiro porque é frio, cinzento, um mês de espera longa de dias breves e céu opaco que repousa como um manto cinzento, pesado. E o frio. E o nada acontecer. Uma sequência de minutos, horas, dias, semanas a fio sem que nada se faça se não esperar a alvorada e o dealbar de um tempo de esperança.
Agosto porque foi sempre mês de demoras longas e ausências dilatadas. Que chegasses. Que tivesses tempo, vontade para aproveitar a vida que se passeava a teu lado sem que reparasses, ensombrado por afazeres imperiosos que me colocavam em espera, a nós em suspenso. Janeiro virá, Janeiro de esperas longas. Espreito o fim de tarde e vejo a tarja de mar que me acompanha sempre que me abeiro da cozinha, a tarja de mar cinzento, azul, prateada ao pôr-do-sol, mutante ao longo do ano e vou agradecendo a graça deste Agosto contigo. Prazeres pequenos inconfessáveis, coisas só nossas, cumplicidades que não permitem palavras. Chamas-me de lá de fora enquanto juntos respiramos a tarde que se abandona lentamente nos braços da noite. Chamas-me para ver o luar de Agosto que se adivinha Vem ver a lua! e eu vou e sei que hei-de ter saudades deste Agosto.
Receita aqui.
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
quarta-feira, 25 de julho de 2012
Vida de professor
Sala de directores de turma. Final de tarde. Esventro o dossier que ajudei a engordar ao longo do ano e folha a folha vou estirpando a pasta obesa de papéis incómodos, vãos agora, horas e horas perdidas ao longo do ano. Vejo-a chegar na penumbra. O estio espreita pelas frestas das janelas em réstias de luz ténues de fim de tarde. Cumprimentamo-nos. Pergunto-lhe E novidades? Não há, responde-me, não sei onde fico. Recolhemo-nos na arrumação da papelada com perguntas pelo meio E isto? Deito fora ou é para o arquivo? Isso aí é o dossier das actas? Resmungo como sempre contra burocracia e trabalho que não dá frutos. Resmungo muito. Resmungo sempre. Rasgo papéis com vigor, ausento-me na senda de um dossier perdido. Regresso. Ela está ao telefone. Empato por uns minutos a minha saída na esperança de que acabe o telefonema e me possa também despedir. Aproximo-me da secretária onde a ouço despedir-se longamente. A conversa vai longa sem prenúncio de um final. Chego perto, toco-lhe no braço e aceno com a mão. Interrompe o telefonema e pede um instante Espera só um bocadinho. Está aqui a Leonor para se despedir. Abraçamo-nos. Dou-lhe um beijo e digo, quando lhe ouço os primeiros soluços, Vá, não fiques assim! Engulo o primeiro soluço, engulo as lágrimas teimosas e digo-lhe Tenho esperança. Nada está perdido! Toco-lhe na mão, um consolo inútil. Digo-lhe ainda Não fiques assim. Lanço-lhe um sorriso desajeitado.
E saio.
sábado, 21 de julho de 2012
Helena Cidade Moura
A minha profunda admiração por alguém que ajudou o país a sair das trevas da ignorância. Partiu sexta-feira.
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