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sexta-feira, 11 de novembro de 2005

Da Ciência e outras inquietações

Quando o meu pai ao tomar conhecimento de que alguém sofria de cancro, ou outra doença conhecida como incurável, lamentava sempre, impressionado e consternado Coitado, está condenado.... O meu pai era do tempo em que quase todas as doenças do foro oncológico eram incuráveis. Julgo que essa preocupação esteve sempre presente na sua vida. Lá teria a sua razão porque ironicamente morreu de neoplasia do pulmão, condenado, portanto o meu querido pai. E como dói dizer isto…
Nesses momentos em que se solidarizava com o infortúnio alheio, eu tentava sempre iluminar o meu pai com a candeia da Ciência, dizendo-lhe Ah, papá, a Ciência evoluiu muito… hoje em dia há muitos casos de sucesso. Apontava-lhe alguns também para o tranquilizar. O meu pai tinha pavor da ideia de morte, dos rituais da morte, da morte em si. Nunca dei conta que tivesse medo de morrer, contudo.
A Ciência sempre teve um papel importante nas minhas crenças. Surge sempre como um recurso para corroborar pontos de vista frequentemente, estendendo-se esta atitude à minha prática lectiva. Foi isso que aconteceu, quando um deste dias no início da semana, a propósito da vida das baleias e de outros cetáceos afirmei que havia evidência que a Moby Dick seria uma sperm whale. Os alunos estranharam a palavra sperm e pediram-me que repetisse pensando estarem a ouvir mal. Esclareci que era científico, que era o nome científico daquele género de baleia Daí até aos documentários da National Geographic foi um tiro e dai até aos rituais iniciáticos e outros que envolvem a ablação do clítoris e a circuncisão outro. Os únicos três rapazes da turma, não familiarizados com a prática, tomaram como verdade que tal consistia na amputação do dito membro viril. Expliquei-lhes que não e isto, pois claro, com uma série de constrangimentos semânticos não vá algum paizinho aparecer e acusar-me de ser uma badalhoca desavergonhada. Rematei, no entanto, que era científico que os homens circuncidados tinham menos probabilidades de contrair o VIH. Como é tranquilizante o apoio da Ciência. A dor infligida pelo acto tinha pelo menos a contrapartida da alguma clemência da pandemia contemporânea.
Foi também na dita Ciência que me apoiei para atestar peremptoriamente o género dos meus gatinhos. Diz a Ciência que as tartarugas são sempre fêmeas e os amarelos, numa proporção imensa, machos. Ontem de manhã, enquanto arrumava os despojos do dia anterior na bancada da cozinha e ao ver passar, garboso, o meu gatinho amarelo, feito e parido cá em casa, atravessou-me o pensamento que os pequenotes atingiam já a idade púbere, seis meses no fim deste mês, e que, por conseguinte, o amigo Jobim devia ser já portador de duas observáveis protuberâncias viris. Tal não se observava e de repente vi-me a braços com uma questão importante: o Jobim não era um Jobim! Virei-o e revirei-o em busca das bolas perdidas. El@ não se mostrou incomodad@ mas eu cá por mim, senti-me mais uma vez traída pela Ciência.

3 comentários:

  1. E agora? Tens que rebaptizar a bichana!
    Já a levaste ao vet? Pode até ser macho e os testículos não terem descido devido a algum problema fisiológico...

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  2. Tchi!! Ao fim de 6 meses descobres que o Jobim é uma Jobima?? :) Que trauma para a bichanita....

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  3. Também já pensei nisso, Elsita, é que ainda não estou completamete convencida... e quanto à descoberta, Fantasminha, andava tão ocupada que nem me lembrei de ir ver e fiei-me na Ciência...

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