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domingo, 4 de junho de 2006

Feira do Livro

Muitos editores portugueses continuam a lançar livros como se fossem artigos funerários. Fazem-no com a mesma discrição, o mesmo desgosto, o mesmo falso pudor com que um cangalheiro divulga os seus serviços. Não admira que vendam poucos livros. Admirável é que consigam vender algum.
A Feira do Livro de Lisboa, o maior acontecimento do género em Portugal, cumpre-se, a cada ano, como uma fatalidade. Levantam-se no Parque Eduardo VII aqueles casebres tristes — tão feios, meu Deus, tão desamparados! —, enchem-se de livros, muitos livros, e os portugueses vão, em multidão melancólica, poupar uns tostões. Há encontros de escritores com os seus leitores? Diz-se que sim, murmura-se que tais coisas por vezes acontecem, mas acho que nunca ninguém viu nenhum. Aproveita-se a ocasião para realizar eventos paralelos ligados à produção literária, tradução, direitos de autor, artes gráficas? Não. A maioria dos editores estão interessados apenas em vender livros. Pouco se preocupam com o essencial: formar leitores.


José Eduardo Agualusa in A Substância do Amor.

5 comentários:

  1. Ou como ironizava também o Markl um dia destes, na rádio: Para quê ir à feira do livro, se há livros e esses preços, o ano todo, nos hipermercados?

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  2. Também ouvi essa do Markl. Mas acho que este ano não estão destaque nenhum à feira. O site é o que se sabe e é difícil saber quem está onde. Este ano já não posso ir à caça do autógrafo ;)

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  3. Humildemente subscrevo as palavras do Agualusa. Por exemplo: o novo de Philip Roth já foi publicado nos EUA. Agora sei que daqui a seis meses vou andar feito melga a perguntar nas livrarias se já saiu a versão portuguesa. É que ninguém sabe quando eles saem. E digo isto com conhecimento de causa: existem livrarias que já nem me deixam entrar. Pensam «lá vem o melga perguntar se este ou aquele livro já saiu», e não fazem por menos, fecham imediatamente a porta...;)
    Beijo

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  4. Concordando com tudo, excepto com os "casebres tristes". Agora que foram pintados, dão um colorido engraçado no meio do verde do Parque.
    E apesar de tudo o resto, nunca consigo resistir a lá ir...

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  5. Fantasminha, este texto do Agualusa já é de 2000, daí os casebres.

    Carlos,
    O Roth está na minha lista de ignorâncias mas conheço muito bem esse sentimento.

    Bjs

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