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domingo, 23 de agosto de 2009

Pela manhã

Os domingos de manhã convidam ao remanso. Sem incumbências e tarefas, os momentos alongam-se na preguiça de coisa nenhuma. Lá fora silêncio esporadicamente interrompido pelo ladrar fugaz dos cães, a manifestação assertiva da existência entre festas e ossos remanescentes do grelhado estival. E silêncio que se deixa quebrar pelo miado fininho, caracteristicamente feminino sem deixar margem para dúvida quanto à autoria. E depois aparece. Trepa para cima da mesa, primeiro aconchega-se por trás do ecrã para a seguir, pata ante pata, se aproximar com a elegância e subtileza que só os gatos têm, uma pata no colo, cautelosa, depois outra. Sem cerimónia o enroscar macio, pouco lhe interessa a vontade alheia, um suspiro pungente, uma conversa a vozes e miados discretos de satisfação. E por fim o ronronar intenso, a suavidade e feminilidade do pêlo curto no meu colo, o calor apaziguador, um novelo de carinho enroscado em mim enquanto verto estas palavras.

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