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terça-feira, 14 de setembro de 2010

Blá blá blá

Lindo. Maravilhoso. Desde que no fim do ano passado começaram as obras na Escola que um dos argumentos para o que nos esperou durante o tormentoso ano a acarretar com livros de ponto, computadores, projectores, leitores de Cds e os habituais manuais, era de que a escola iria ficar bem equipada. Linda. Maravilhosa. Nova. Bem equipada. Na verdade, estive-me literalmente nas tintas para o argumento. Tendo alguma dificuldade em projectar-me no futuro, aquele presente pareceu-me pesado e longo. As caminhadas quase sem intervalos entre os edifícios que nos restavam e o campo de jogos onde tinham sido plantados os moderníssimos monoblocos, com chuva e frio, e se choveu no Inverno passado, a ameaça da Gripe A, a vigilância constante de espirros e tosses, diarreias e febres não me tornou na mais optimista das criaturas embora tivesse feito o que qualquer alma pensante faz: esperado até que passasse e dado alento aos queixumes dos alunos desanimados. E à medida que as obras avançavam os ais de admiração ecoavam por aqueles que sentadinhos com os burocráticos rabos em cadeiras burocraticamente requintadas se espantavam pelo andamento das obras e os resultados que só elas veriam. Eu por mim, continuava a acarretar tudo às costas, a correr entre edifícios e monoblocos para recolher e devolver livros de ponto, e absolutamente cega perante tão maravilhosas maravilhas da arquitectura escolar e que trariam a luz às pobres almas cegas e cansadas preocupadas com a tarefa de fazer e dar o seu melhor para que os alunos não saíssem prejudicados com o alvoroço. E este ano redobraram-se os ais e os uis perante a obra acabada. Ai que bonita está a tua escola! A escola ficou espectacular! E tudo isto estaria tudo bem, mesmo resvalando na minha carapaça de rapariga céptica, se uma vez chegada à Escola não me tivesse deparado com salas mais pequenas do que antes, salas onde não conseguirei circular entre os alunos para os ajudar e o ambiente se torna pesado de tantas almas a respirar, a sala de professores é exígua para tantas almas ensinantes, o gabinete não tem uma única janela que se possa abrir para o exterior e para cúmulo, quando vinha lampeira para casa e me dei à extravagância de pensar Eh pá, amanhã vou pôr os putos nos computadores para fazerem um quiz e procurarem informação e blá blá blá, seguiu-se um corropio de actividades possíveis prenhes de eduquês a cuja descrição vos poupo, e me abeirei deste bicho de que vos escrevo e esbarrei com as maravilhas da escola nova: não há salas com computadores disponíveis naquela hora. Nem hoje nem amanhã nem depois nem depois de amanhã nem na próxima semana nem no próximo mês ou período. Nada. Niente. Nicles. Regressarei pois ao bom e velho manual, às vetustas fotocópias, aos métodos caducos de dar aulas. Belo choque tecnológico. Belas obras. E é por isso que não quero saber das obras e da escola nova. Dêem-me condições e depois falaremos. Até lá continuarei a não querer saber.

4 comentários:

  1. Espantoso! É bem certo que as aparências iludem... A escola está realmente linda, mas, pelo que dizes, é só por fora... É triste ver que o mais importante (o interior e as condições necessárias...) foi esquecido. Beijão

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  2. A sala dos professores é claustrofóbica. Estou ansiosa pelos sumários digitais para não ter de lá ir :(

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  3. Quanta estupidez por aí à solta.

    :))

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  4. Verdade, Maria do Sol. Infelizmente :(

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