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terça-feira, 23 de agosto de 2011

O meu vizinho, o copromanta

Os livros, ah os livros! Companheiros de jornada e deslindadores de mistérios, chaves para os enigmas do mundo. Penso nisto enquanto saio de casa e a presença daquele monstro que vem despejar a fossa se me atravessa ao caminho e cumpre a função para que foi chamada: esvazia a caca da vizinhança. Vou pensando que terá sido feito dele. Vivia algures lá na outra aldeia que me acolheu madrasta durante um ano mal medido, tempo a mais para sítios hostis, e de vez em quando avistava-o da janela. Depois de dar umas voltas ao quintal de sua casa, verificando de caminho, abóboras e feijão verde, favas se fosse tempo delas e couves caso o Natal estivesse perto, parava junto à fossa. E olhava. Sendo adepta de que quanto mais se mexe na caca pior cheira, aquele comportamento permaneceu durante um tempo um enigma insondável. Que diabo. É que havia um campo em volta. Ele havia flores, silvestres e das outras, estrelícias, por exemplo dão-se muito bem por aqui, ele havia passarinhos, cães a ladrar, galinhas a cacarejar, patos a grasnar e perus, se o Natal surgia lá ao fundo na curva de Novembro. E havia o silêncio tão próprio do campo, sem carros nem trânsito, ausente dos bulícios das urbes endiabradas. E a fossa, o entretêm preferido deste peculiar habitante da aldeia. Quando vinha o homem da fossa, com a carripana para purgar o bicho, o homem observava com acuidade o processo, mantendo-se perto. Mas estava tudo lá. Naquele livro que terei comprado algures no Brasil, estava escarrapachado o deslindar do mistério, já que Jonas, a personagem principal, era um copromanta. E que será isso? Ora, um copromanta é alguém que lê o seu futuro nas próprias fezes, sim, muito nojento, mas o que era o meu vizinho se não um copromanta? Está para se saber se não lhe terá saído o Euromilhões depois da copromancia dedicada nas sucessivas observações à sua querida fossa ou se terá por estes dias um programa de televisão a adivinhar o futuro alheio. Os livros, ah os livros, dizia eu.

2 comentários:

  1. Sim, os livros que isto não está para copromancias ou lá o que exactamente isso é...

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  2. Isto são coisas de quem mora no campo e quase às portas de Lisboa ainda tem uma fossa. Inacreditável!!!! :)

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