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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Vêm aí os russos (4)

Diz Wladimir Kaminer no seu último livro Meine russischen Nachbarn, ‘Os meus vizinhos russos’, infelizmente não traduzido para Português, que eles, os moscovitas, podem ser simpáticos, educados e inteligentes. Só não podem sê-lo todos os dias. Naquele dia não era o dia. Talvez no dia seguinte ou no anterior. Aquele não. Quando me dirigi ao balcão que indicava em parangonas, também em Inglês Turismo da Cidade de Moscovo, a russa do lado de lá, loura e de olhos cristalinos, espetou-mos como uma farpa. Arranhando um inglês bárbaro, mostrou-se indisponível assim que lhe estendi o mapa para que me indicasse algo. Não podia, agora não. Irritada perguntei-lhe se não era o turismo da cidade de Moscovo. Que sim, blá blá blá. Que eu fosse à recepção. Enquanto isto e depois dos episódios anteriores arranquei-lhe o mapa das mãos, furiosa quase irada, e fui à minha vida assustada. Estaria a ficar como eles do convívio? Nem eu me reconhecia. Kaminer também diz que queixar-se de Moscovo tem uma grande tradição e que entretanto se tornou numa evidência. Ele lá saberá. O escritor entretanto de nacionalidade alemã mas russo de nascimento, foi para Berlim no início dos anos 90 e lá ficou a contar as suas histórias na cidade alemã. Sabe bem do que fala.
A vida moscovita também é feita de prazeres. Passear no GUM é um prazer. Aos fins-de-semana, os moscovitas, neste aspecto tão parecidinhos com uma certa camada de lisboetas, rumam ao Centro Comercial. Não que não o frequentem durante a semana mas ao fim-de-semana é muito concorrido. O GUM não é apenas um centro comercial, dir-me-ão. Certo. Centro comercial fica numa outra praça ali bem perto num espaço subterrâneo e tem detector de metais à porta. Que encorajador. Construído nos anos vinte do século passado, o GUM é deslumbrante e luminoso. Faz lembrar uma estação de comboios com os tectos abobados e translúcidos. Surpreendente que num país que se queria comunista houvesse a preocupação deste fausto, sendo o mesmo válido para o Metro. O povo merecia o melhor. Pena que o ideal se tivesse desvanecido com o tempo. Os moscovitas aproveitam o GUM para várias coisas, fazer compras é uma delas, assim haja rublos que aguentem, a outra tirar fotografias ao lado de um carro de alta cilindrada ou lá o que era que estava em exposição lá dentro, coisa mais disparatada, e a outra deixar-se fotografar em poses várias, de preferência nas pontes que unem os vários corredores quase em mezanine. Muitos levam fotógrafo, par, ramos de flores e desabrocham em caras e carinhas, sorrisos não, as mulheres exibem as suas poses mais sensuais como se quisessem seduzir a máquina fotográfica e em qualquer momento lhes lambessem a lente. Tudo devidamente registado para mais tarde recordar. E casamentos. Depois de um breve périplo pela Praça Vermelha para a fotografia da praxe há que rumar ao GUM para se deixar fotografar, noivo, noiva e convidados num número nunca superior a cinco, com a Dior lá no fundo, a Furla, ajudem-me que sou pouco entendida nessas marcas da moda. Sim, os russos gostam da moda, do fausto, da afirmação e da ostentação. Quem diria que poderiam afinal ser parecidos com os portugueses.

fotografia minha

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