Budapeste
Foto: minha
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E pronto. Ainda não foi desta que me acorrentei aos portões da Basílica do Palácio. Deviam ser umas oito horas quando o Hélder me chamou Anda cá! anda ver isto! Quando cheguei à porta da rua, o inacreditável aconteceu. Luz. Tínhamos luz! Tínhamos luz na rua! A esta hora estarão a pensar que tem isso de extraordinário. No Portugal contemporâneo poucos serão os lugarejos que não tenham iluminação pública. Ele há a insularidade, ele há o profundistão, ele há o isolamento e a interioridade, mas aqui, a um terço do caminho entre o mar e a cidade de Ulisses, a iluminação pública não deu sinal de si durante quase três semanas, a segunda vez este Inverno. Temi pela vida das minhas bichanas. A vizinha do lado bem poderia ter aproveitado para inadvertidamente passar a ferro um dos seis gatos que possuímos, nós e os restantes vizinhos. Informou apenas que ia atropelando uma pessoa, o que ninguém estranhou, uma vez que conduz com a velocidade da Michelle Mouton pelas ruas da aldeia. Os telefonemas à EDP não se fizeram esperar, estou certa que ao ritmo de mais do que um por dia e, semana após semana, nada, nadica de nada, cada telefonema como se fosse o primeiro e não faltou uma certa dose de sobranceria e arrogância por parte de quem atendeu. No meu derradeiro telefonema, informei a senhora que me atendeu que percebia finalmente por que é que as pessoas se esganiçavam perante as câmaras de televisão, isto por outras palavras, e pelo meio informei-a que seguidamente iria apresentar queixa na DECO, o bicho-papão dos incompetentes deste país e a segurança dos consumidores. Não sei se foi pela visão assustadora de me ver aos gritos na TV, a solução plausível para o regresso da luz esgotadas todas as reclamações, ou acorrentada aos portões da Basílica, outra solução possível, apenas pelo medo da DECO ou pura coincidência, a verdade é que finalmente nos nasceu um sol na rua causador de estranheza e outros incómodos oftálmicos mediante as três semanas de trevas. Lux facta esd.
Nesse dia a minha mãe estava indignada. O filho de uns amigos nossos, quase família, teria feito anos e, tendo recebido imensas mensagens de felicitações pelo aniversário, não respondeu a uma, uminha sequer. Para a minha mãe coisa assim roça a falta de educação. Onde é que já se viu? Mas o rapaz tinha uma razão plausível para este acto. Onde é que já se viu mas é, gastar tanto dinheiro e na hora fez as contas: x sms a y cêntimos tornar-se-iam uma quantia astronómica e incomportável mesmo para quem vive sem qualquer preocupação financeira.