
No último aniversário do meu pai, a minha mãe ofereceu-lhe este mesmo CD. Não que Adriana Partimpim fizesse parte dos seus gostos musicais. Ambos gostavam muito desta canção e nela estava contida a declaração do seu amor inabalável de 51 anos de vidas partilhadas. A parte preferida de ambos era mesmo a do Queijo sem goiabada, também porque não existindo um sem o outro em casa dos meus pais e na casa dos pais dos meus pai, herança da vovó brasileira, mãe do meu pai, o meu pai sabia como era desasado, sensaborão e desprovido de intensidade o queijo sem goiabada, também a goiabada sem o queijo. A minha mãe concordava.
Que o Romeu vivesse sem a Julieta mais não era do que o recurso a uma referência literária, muitas vezes apenas mais um cliché dos amores sofridos e impossíveis. Que existisse neném sem chupeta ou circo sem palhaço eram apenas figuras de estilo para exprimir a urgência do amor. Nenhuma das metáforas detinha a intensidade do queijo sem goiaba para ambos que, precisamente por serem contrastantes no sabor, são um deleite para o palato e uma lição para a vida: o que não é contrastante torna-se monótono. Quando um é igual ao outro, um é apenas a continuação do outro, não outro. Tal não era aplicável aos meus queridos pais. Encontravam-se na diferença, respeitavam-se na divergência e amavam-se com tudo isso e acima de tudo isto. Um amor assim não se pode sequer explicar e agradeço a Adriana uma das mais eloquentes formas de o apresentar.
Quero acreditar que lá onde está o meu pai memória desta vida não se consente, senão estaria decerto cantando para minha mãe Queijo sem goiabada/ Assim sou eu sem você… eu não existo longe de você/ E a solidão é o meu pior castigo…
Que bonito. Que belo exemplo tens nos teus pais. Todos os amores deviam ser assim. Só é AMOR se for assim.
ResponderEliminarParabéns pelo teu dom da escrita.
ResponderEliminarAdoro ler as tuas mensagens. E esta tocou-me de um modo especial.
Lembrei-me logo do meu avó paterno que me observa, lá de onde ele está, a já algum tempo.
Beijinhos
Obrigada, patxocas!
ResponderEliminarÉ de facto um óptimo exemplo, Belém, mas acho que não há dois amores iguais :))
ResponderEliminarhoje vou abrir uma lata de goiabada e pensar nos teus pais (mesmo sem nunca os ter conhecido)
ResponderEliminarÉs uma linda, Joana, bonita homenagem :))
ResponderEliminarAdoro ler o que escreves, fazes-me sentir bem e emocionada... Transmites tão bem o que sentes, e o que os teus pais sentiam um pelo outro. E ainda tiveram a sorte de te ter a ti...
ResponderEliminarJinhos!
Lindo L.!! Estou contigo, nao ha dois amores iguais...mas que os ha especiais, isso ha!
ResponderEliminarBeijos