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quarta-feira, 30 de junho de 2010

O mundo estranho do futebol

Para uma leiga como eu, o mundo do futebol é um mundo estranho, muito estranho, tão estranho que se torna difícil decifrá-lo. É que não é só o facto de vinte e dois homens correrem como desalmados atrás duma bola, com mais um ou dois ou três a fiscalizar o seu comportamento, não vão fazer traquinices, não é só o mistério do balneário que freudianamente imagino coroado de homens em trajes menores, bem menores, benzós deus, com os corpinhos atléticos e esculturais, ainda luzidios da prática do desporto viril e que contraditoriamente com o faro de perdigueira com que vim equipada de origem me causa até vómitos só de pressentir os odores acres a machos exaustos. Não é só o futebolês, essa linguagem única, cheia de prognósticos depois do jogo ou quadrados que se fazem com três. O que me inquieta neste desporto que há quem diga rei, não é apenas isso, porque como se sabe sou uma republicana empedernida e sou contra cargos que não sejam eleitos por essa massa desalmada chamada povo.
O mundo estranho do futebol caracteriza-se por linhas de orientação onde a palavra pode será sancionada, cortada, calada, proibida. Vejamos Deco. Deco não jogava na posição costumeira, Deco não estava habituado, Deco diz que não estava habituado com aquele seu ar doce de cachorrinho abandonado. Ora se isto fosse num mundo normal não havia nada de mal, o rapaz nunca tinha jogado naquela posição e ao afirmá-lo reportou-se apenas a uma evidência facilmente comprovável, sim, eu sei que reina por aqui uma redundância, mas apeteceu-me. Errado. Deco teve de retratar-se como se tivesse caluniado alguém o Almighty Queiroz, esse Obi Wan Kenobi do futebol luso, o Gandalf dos esféricos lusitanos. Outro exemplo: Hugo Almeida. O jovem e viril rapaz diz que não estava esgotado quando o Queiroz Almighty o substituiu. Contudo, o contraditório surgiu e Queiroz, o Grande, afirmou “Quando eu digo que um jogador está cansado, é porque está cansado.” Livrai-vos pois rapazes de afirmações análogas. Deve ter sido o que aconteceu com Nani “Quando eu digo que tens uma lesão na clavícula, tens uma lesão na clavícula” e por aí fora. Preocupante. Muito preocupante. Imagine-se o que poderá acontecer com todos estes rapazes à mercê das vontades queirozianas e restringidos a duas palavritas apenas Heil Queiroz!
E sendo Queiroz quem é, o Timoneiro da Redondinha, cabem-lhe as decisões técnico-tácticas, reparem nesta propriedade de linguagem, portanto se põe os rapazes a jogar onde não devem, tira os que estão a render e põe os coxos, quando a coisa não corre bem, de quem é a responsabilidade? Pois, desse mesmo. Todos sabem mas ai de quem ousar atravessar essa tormenta da verbalização do óbvio. Coube desta feita ao nosso rapagão que quando questionado por uma justificação para a faena letal dos nuestros hermanos respondeu “Perguntem ao Carlos Queiroz”. Ai dele! Ai de todos nós! Até esse rapaz valoroso que vende pequenos-almoços por insignificantes quantias, o tal que algures em 2002 terá ameaçado sair da selecção do seu país porque tinha um nome a defender, veio apunhalar o derriço da mulherio, a mascote que transpira testosterona e põe os estrogénios em desvairo. Se o futebol não é um mundo estranho, não sei o que é, mas democrático não é com toda a certeza.

Still...

terça-feira, 29 de junho de 2010

Considerações de uma 'gaija' a ver bola (15)

Volta Scolari!!!

Considerações de uma 'gaija' a ver bola (14)

Coisas que se ouvem cá em casa: 'o Queiroz devia ser sodomizado por uma zebra' e não foi a minha mãe que disse para que conste...

Considerações de uma 'gaija' a ver bola (13)

Os miúdos sem pêlos parecem galinhas depenadas. Credo.

Considerações de uma 'gaija' a ver bola (12)

Sócrates, filho, acabou-se-te o sossego.

Considerações de uma 'gaija' a ver bola (11)

Eduardo a Santo já, ou, pelo menos, Beato.

Considerações de uma 'gaija' a ver bola (10)

Rais parta os miúdos.

Considerações de uma 'gaija' a ver bola (9)

Ó miúdos, pá, têm oito minutos para marcar um golo!!!!

Considerações de uma 'gaija' a ver bola (8)

Estou desolada! a minha vida jamais será a mesma depois de ter largado um impropério à frente da minha mãe.

Considerações de uma 'gaija' a ver bola (7)

Se eu podia ver a bola sem o Facebook e as minhas amigas? Podia, mas jamais seria a mesma coisa!

Considerações de uma 'gaija' a ver bola (6)

'Ó Hugo Almeida, pá!!' transcrição fiel do que se ouve cá em casa.

Considerações de uma 'gaija' a ver bola (5)

O Poyol já cortava aquele cabelo, parece o Peter Frampton.

Considerações de uma 'gaija' a ver bola (4)

O Ronaldo é feio mas é um grande cavalão, benzó deus como o miúdo cresceu.

Considerações de uma 'gaija' a ver bola (3)

'O canhoto da Figueira da Foz' é bem.

Considerações de uma 'gaija' a ver bola (2)

Os nossos miúdos são mais giros que os espanhóis, excluindo o Bruno Alves.

Considerações de uma 'gaija' a ver bola: (1)

O Carlos Queiroz é giro.

Considerações de uma 'gaija' a ver bola

E o que é uma mulher faz quando vinte e dois valorosos rapazes se degladiam em frente a um bola? Vejamos as hipóteses:
  1. Vai às compras empanturrar-se de coisas que não precisa para coisa nenhuma.
  2. Senta-se em frente da televisão com tremoços e bejecas e comenta furiosamente como se entendesse alguma coisa de futebol.
  3.  Fecha-se na cozinha e prepara uma jantar opíparo para o seu consorte.
  4. Grita desalmadamente pelos jogadores, chama-lhes nomes e incentiva-os, tudo a seu tempo.
  5. Agarra-se ao Facebook e vai debitando disparates.
Parabéns, se assinalou a última resposta. Seguem-se os desvaires de uma gaija que nada entende de futebol. Com muita pena minha não constam os comentários das amigas que me acompanharam ao longo destes 90 minutos de negregura lusa.

sábado, 26 de junho de 2010

Alívio

Nada como levantar-me a um Sábado pela fresca e não ter que pensar que ainda tenho uma acta para acabar, um relatório para concluir, aulas para preparar, formulários para preencher e gente que não interessa a ninguém, não os meus alunos, para aturar. Um alívio. Um alívio completo. Para ser perfeito só falta sol e calor.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Pérolas lexicais

Nada faria prever que num simplérrimo voo Madrid –Lisboa eu fosse aprender uma palavra que me tem dado tanto jeito e que hoje se me apresenta como uma verdadeira revelação. Algures nos lugares traseiros do avião, também conhecido aqui e ali por aeronave, e depois de umas horas num outro vindos de Istambul, fui atacada por um bando de turistas. Traziam às costas uma mochila indicadora de que vinham em grupo, uma peregrinação, apurei depois, e falavam aquela linguagem típica do português típico quando faz viagens típicas acompanhado de portugueses típicos a sítios típicos. Pareciam ter comprado este mundo e o outro, já que além da mochila cor-de-laranja da magnânima agência de viagens que os levou a ver o sítio onde a Virgem nasceu e Petra, imagine-se, e Israel, não querem lá ver, desdobravam-se em sacos e malas que a custo queriam fazer caber nos overhead compartments – gosto disto, nada como uma palavritas em inglês para condimentar a coisa. Quando finalmente assentaram arraiais a conversa deslizou fluida com um sem número de queixumes que incluía, por exemplo, o passeio de burro, Nunca mais! Balha-me Nossa Sinhora! e a escala manhosa em Madrid Ai quem dera a minha casinha! e ainda uma tal de mulher de quem ouvi frequentemente dizer E depois eu disse-lhe, bem à laia de reprimenda e remoque, como quem esgrime um combate. E estava a coisa a correr bem, tudo sentado, à espera de partir, quando de repente a ocupante do lugar à minha frente se lembrou, achou, sentiu, pressentiu e teve a certeza que o seu banco, esse mesmo onde ia sentada, estava com as costas demasiado rebatidas. Fazendo uso do seu habitual desenrascanço sentou-se no banco, agarrou as costas do dito vigorosamente e começou a abaná-lo com igual intensidade. É que para este ser o material não tinha sempre razão, logo havia que repor, a bem ou mal, a ordem das coisas. A companheira do lado com quem partilhara a viagem de burro pela Terra Santa e os queixumes da vida malvada ainda tentou avisar que não valia a pena. Em vão, contudo. Quando ela alegou que íamos apertados ali atrás, ainda esbocei um sorriso e larguei umas palavras Deixe estar, não incomoda nada, mas o mais divertido foi quando se virou para o passageiro a meu lado e disse Oh coitado do sinhor! Até bai aí todo encunicado!. E pronto, lembrei-me desta magnífica palavra, uma verdadeira pérola lexical, porque julgo ser esse o problema dos nossos deputados para viajarem em executiva, primeira ou outra presunção manhosa tão típica dos povos do Sul, em voos longos. Não querem ficar encunicados lá entre os bancos do povão, o mesmo povão que lhes paga as mordomias.

Constatações

Estou tão cansada que até estou deprimida. Raios.