Há dias em que a saudade me oprime as palavras na garganta. Acredito que não a saudade mas o sofrimento e a angústia terão tido o mesmo efeito sobre o meu pai naquele dia em Madalena. O sofrimento dos outros fazia-o sofrer.
Na verdade, São Tomé foi o seu primeiro e único contacto com África e desses dias ficou mais do que o episódio em Madalena, uma terra perdida no interior da ilha. De Madalena ficou a África da televisão. A África das crianças atropelando-se para chegar a uma qualquer coisa, ansiosas e andrajosas. Vi o meu pai encostado a uma árvore com as palavras presas na garganta e a angústia solta no olhar. Jamais repetirei algo assim. Não se distinguindo a necessidade da curiosidade tudo nos parece tristemente necessidade, pobreza, e a culpa de tanto possuirmos, mesmo quando tão pouco temos, é uma inevitabilidade conformada.
De São Tomé ficou também o perfume do café acabado de fazer, o aroma do pão torrado e o colorido do mamão. A emoldurar os sentidos, uma vegetação luxuriante, o calor húmido tropical e o mar em frente, vasto, decorado com uma ilhota no meio a recortar a linha do horizonte e nós os três tranquilos, olhando o mar, trocando palavras plácidas, saboreando as torradas e o mamão, bebendo o café pela manhã, perguntando-nos se viveria mesmo ali uma moreia imensa como nos haviam contado.
Há momentos que não cabem em palavras.
O facto dos nossos queridos terem sido poupados ao sofrimento serve-nos de consolo. Mas não anulam a nossa dor da perda.
ResponderEliminarO teu texto é muito bonito, como sempre. E o vestido, se for verde, també. ;)
Acredita que é mesmo um dos meus consolos, mas como dizes não anula a dor.
ResponderEliminarO vestidito era verde, amarelo e laranja ;-)