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Todas as cidades belas que conheço são como ostras que guardam no interior a pérola da sua existência e, tal como as ostras, podem parecer rudes e irregulares na dureza do seu exterior e, exactamente como as ostras, revelam-se sublimes, quando nos deparamos com a beleza do seu interior. Não cheguei nunca a cidade alguma que deixasse antever, pelos seus subúrbios, a magia do seu centro. Amesterdão ou Praga são, partindo dos respectivos aeroportos, apenas lugares como outros e os percursos deixam-nos expectantes e desiludidos. É isto Amesterdão? E os canais? E as cornijas ornamentadas? Não, não pode ser isto.
E, não sendo Salzburg excepção, assim foi também. Deparei-me à chegada com mais um amontoado de edifícios, comedidos, mas ainda atípicos, assaltando-me de imediato uma discreta indignação Afinal foi aqui que nasceu Georg Trakl? Então foi aqui que nasceu o grande Wolfgang, Wolferl para os íntimos? E foi, foi ali naquela belíssima pequena cidade, afinal.
Bastou seguir o Salzach, virar à direita e seguir as hordas de turistas, que, ainda assim, não constituem impedimento para fruir esta cidade tão arrumada, tão limpa, tão elegante, tão grandiosa na beleza das suas ruas e ruelas estreitas, cuidadas a rigor com a delicadeza e carinho de quem decora pela primeira vez a sua primeira casa, para encontrarmos a casa onde Wolfgang Amadeus Mozart viu a luz do mundo pela primeira vez e, logo após o choro de recém-nascido, percorreu-me na fantasia o irreverente cravo do génio e a casa tornou-se mais viva, mais exultante como toda a cidade nos inúmeros eventos musicais que a celebrizam.
E assim regressei à Getreidegasse para me perder nas fachadas das lojas, mais fascinantes que a panóplia de souvenirs amiúde baptizados com o prefixo Mozart e adornados com a elegância do requinte austríaco. E foi assim que entendi a que meu pai se referia sempre que via Música no Coração e, deleitando-se com o Capitão von Trapp a cantar Edelweiss, me (re)contava que aquela era uma pequena flor branca existente apenas nos Alpes e, por isso, entrei na loja e entre violinos e artefactos de madeira, também eu, tão turista como todos os turistas do mundo, comprei um singelo Edelweiss, talhado manualmente, em homenagem à minha infância e a quem a tornou mais feliz pelo entoar do Edelweiss.
Salzburg é uma bênção para os sentidos: a música calcorreia as ruas salpicadas de monumentos barrocos e palácios sumptuosos como a Residenz ou Hellbrunn, testemunhos dum esplendor onde a urbe parece ter alicerçado a sua harmonia arquitectónica, o mercado alegra-nos a alma com o colorido de legumes e flores e o paladar é mimado com as típicíssimas Mozartkugeln, de degustação obrigatória para quem queira provar a que sabe Salzburg. A cidade é serena e magnífica vista da altaneira Hohensalzburg, omissa no passado de cruz gamada, pacificando-nos com a vida como se toda ela fosse tão leve como o gargalhar espontâneo do Amadeus de Forman saboreando uma Melange no mítico Tomaselli e tão romântica como o entoar suave do Edelweiss, Edelweiss...
esta-me a dar uma coisinha ma, estou aver freiras rodopiantes nas montanhas Austriacas....
ResponderEliminar;-P
The hills are alive with the sound of music... ;-)
ResponderEliminarWith songs thay have sung... For a thousand yeaaaaaaaaaars!!!!!!!!
ResponderEliminar:op
(ainda bem que isto é silencioso...)