
— Não se incomodem, não se incomodem
e ao chegarmos ao elevador não a encontramos já, tentamos lembrar-nos do seu nome e esquecemo-lo
- Trago-o na ponta da língua
procuramos no álbum e é aquela pessoa na última fila dos retratos de grupo, meio apagada pelo tempo ou com demasiada sombra na cara, percebe-se um bocadinho de blusa, o penteado composto, quase nada. Chega uma altura em que a morte principia a conviver com a gente, se torna diária, íntima, existe no espelho da barba, nos nossos gestos, no modo de meter a chave à porta, entrar em casa, acender a luz, o sofá e os móveis de repente ali e a morte ao nosso lado, caladinha, usando o nosso corpo, a nossa tosse, a nossa voz, a pesar-nos por dentro
António Lobo Antunes, Terceiro Livro de Crónicas
:)
ResponderEliminarÉ o teu sogro e o meu pai. Nunca lha falhava nada, pena é que eu não lhe tenha herdado isso também.