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quarta-feira, 10 de maio de 2006

Dispersos III

Há dias em que não consigo escrever. Passo em revista os dias, os momentos, a semanas, vejo as folhas do calendário a deslizarem celeremente, as estações a cumprimentarem-me ou a despedirem-se, sinto a brisa das páginas da agenda, os meses, um a um, cedendo a Cronos e penso sim, e daí? Há dias em que me estranho a mim própria. Há dias em que estranho os que depois de partirem se encontram de repente a meu lado que farão ali? Que fazes aí? pergunto eu. Há dias em que não sei muito bem como foi que aconteceu, como aconteceu afinal essa ausência perpétua, porque foi assim esse partir repentino e pergunto-me sim, porque foi? Há dias em que não sei muito bem como aqui cheguei, questiono o que fiz até aqui e se o que fiz até aqui foi por mim feito ou mera consequência do que se não pode deter, acaso da torrente imparável da vida. Há dias em que por saber quem sou e como cheguei então até aqui, apetece-me antes ser outra.

imagem: Paul Gauguin, A Carrancuda.

4 comentários:

  1. 'Há dias em que não consigo escrever'. Desejo.te muitos dias em que não consigas escrever e nenhum dia em que não consigas viver.
    Bj
    PS: no post do dia da mãe no meu estaminé, está lá um pequeno agradecimento a todos os que deixaram as suas palavras.

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  2. Obrigada e bem-vindo, Carlos.

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  3. Se continuares não conseguindo escrever assim está ótimo, pois não-escreves maravilhosamente.
    Risos.
    Adoro tua não-escrita.
    Beijos,

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  4. E se tu fosses outra, quem seríamos nós? Menos do que somos porque somos quem somos por tu seres quem és.

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