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quinta-feira, 11 de maio de 2006

Mamas, seios e maminhas

Episódios assim acontecem regra geral no início das aulas. Ontem tinha uma aluna a querer vender rifas. Perguntei então o que saía, que estavam eles a rifar. Ela respondeu cinco bebidas brancas ou dez imperiais na Festa de Gala. É lógico que não lhe comprei rifa alguma, até porque caso me saísse o prémio jamais poderia usufruir do mesmo na Festa de Gala, a bem da pouquíssima boa reputação que nos resta e do meu próprio fígado. Perguntei-lhe se não conseguiriam ter arranjado algo mais consentâneo com a Escola. Ela disse penas, enfadada com a frustração do negócio Pois, setora, eu bem lhes disse, mas eles quiseram assim… No final do dia, numa outra turma, e enquanto trocavam maleitas várias, colites e apendicites, ocorrência muito comum na turma em questão, a R. disse Ai setora, sabe lá, no ano passado tive de fazer uma colonscopia… Foi horrível! Acrescentei pois, é um exame muito doloroso... sem mais detalhes e tentando rematar por ali a conversa. A N. perguntou, baixando progressivamente a voz Isso não é um exame que se faz enfiando um tubo pelo cu? Lá que é, é, mas pronto, repreendida com o olhar, não precisava de mais explicações quanto ao cariz explícito da linguagem utilizada. Sugeri-lhe, recomendei-lhe, relembrei-lhe que seria boa ideia usar outras palavras, sei lá, ânus, parecia-me até uma boa opção. Ela riu-se e continuou feliz.
Hoje quando cheguei à aula, numa outra turma apenas de raparigas, as alunas estavam agitadas e entusiasmadas. Tinham feito pela manhã um debate sobre a homossexualidade e, como o tema lhes é muito controverso, a conversa espraiou-se-me pela sala dentro. Apresentaram os argumentos, perguntando amiúde a setora acha bem que …? A setora, eu mesma, achava umas coisas bem, outras assim assim, tentando sempre fomentar uma e única coisa: respeito e tolerância por aquilo que se considera diferente, que elas consideram diferente. A conversa cavalgava que nem um corcel, umas atropelando-se às outras, relatando o que uma argumentou e o que outra rebateu e que a A. disse assim e que a I. perguntou assado, quando de repente se saltou para a transexualidade. A I. disse a respeito de uma transexual agora mulher ela, setora, tomou coisas, aquilo… acrescentei em seu auxílio hormonas e ela continuou isso, para lhe cresceram as mamas. A colega logo ao lado emendou-a seios! e uma vez que a I. é moldava e, embora fale português com poucos erros gramaticais, nem sempre consegue adequar o discurso ao contexto por desconhecer as conotações que algumas palavras detêm, expliquei-lhe que enfim, pronto, poderia dizer mamas mas não em todas as situações e assim em contexto de sala de aula e noutros não ficava muito bem. Uma acrescentou sorridente lá do fundo maminhas! tentando facultar um equivalente harmonioso e eu lá continuei a prelecção, prevenindo teoricamente embaraços futuros à I., que ouvia atenta e interessada. Disse-lhe que cientificamente a designação estava correcta, daí falar-se em mamografia ou em patologias associadas à mama, cancro da mama, por exemplo, e não contente com isso, que isto de ser professor faz-nos ter a mania de ser por demais explicativos, rematei que os médicos, quando usam a palavra seios, referem-se, regra geral, aos seios nasais e acabei com a redundância seios do nariz para que não subsistissem mais dúvidas. Cada coisa em seu sítio. A C. apanhou a conversa no ar. Estava eléctrica e perguntou incrédula O quê? O quê? Quem é que tem as mamas no nariz? Portanto, se amanhã as vir com os dedos no nariz já sei do que estão à procura.

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