Manda o bom-senso, o respeito e o amor filial que não se sobrecarreguem os progenitores com tarefas pesadas, árduas ou desconfortáveis. Tento seguir estes mandamentos auto-impostos. Mãe é para ser poupada. Está, pois, aconselhada por prescrição caseira a não aturar ladainhas alheias, a evitar ultrapassar-se a si própria para socorrer os demais e proibida de dar conversa aos energúmenos que a toda a hora e momento lhe tentam impingir seja o que for pelo telefone.
Digamos que quando se tem uma mãe como a minha nem todos estes princípios são passíveis de ser postos em prática. Imaginem mãe e filha às compras num desses antros de consumismo. Mãe ou filha adquirem algo: livros, CDs, uns sapatos ou uma peça de roupa. Irrelevante para o que se segue. A mãe é menos jovem do que a filha, como se sabe, ou não seriam mãe e filha. A filha é uma rapariga preocupada com a mãe. Faz o quê? Carrega os sacos, sem esforço algum. Errado. A mãe agarra-se vigorosamente aos sacos. A filha também. Uma pega de um lado, outra do outro Dá cá! Não. Eu levo, mamã! Mas ó filha se não me custa nada… Mas que teimosa… Mas é para veres melhor, argumenta a mãe. A filha não desiste, ou não fosse filha de uma senhora teimosa e de um senhor obstinado. A mãe, mesmo sendo mãe de uma rapariga persistente, não desiste de igual forma e ambas se digladiam publicamente pela posse de um saco de plástico.
Hoje, por exemplo, a única vez em que consegui ter o saco em meu poder foi quando a senhora minha mãe levou os seus livros a Luís Sepúlveda para serem autografados. Chegada a sua vez, disse-lhe apenas Mamã, não vais com esse saco enorme..., subliminar chantagem de pacotilha Não vais apresentar-te perante um escritor de renome com um saco dessa natureza e sem demora Zás, agarrei-o. Uma vez em meu poder, regressou o duelo Dá cá, Mas não me custa nada… Mas para que é que hás-de ir pesada? Mas assim nem consegues ver nada! Certo é que ver é manifestamente insuficiente na relação que as mulheres travam com os objectos do seu desejo consumista, há que mexer também sempre. A vitória seguinte foi dela, claro, e se bem me lembro, aconteceu quando me perdi com o último DVD do Chico Buarque. Enquanto o imaginava de olhar cristalino meio perdido no tempo, a pele morena e os gestos tranquilos, flanando por Lisboa e Budapeste, flanando também eu por lugares recônditos e ocultos, a minha mãe agarrou-me no saco, aproveitando-se-me da ausência fugaz do espírito e desatenção do corpo. Nos homens não se pode confiar nunca, mesmo que venham trancados numa caixa espalmada e comprimidos num disco. Mãe 1 - Filha 0.
Digamos que quando se tem uma mãe como a minha nem todos estes princípios são passíveis de ser postos em prática. Imaginem mãe e filha às compras num desses antros de consumismo. Mãe ou filha adquirem algo: livros, CDs, uns sapatos ou uma peça de roupa. Irrelevante para o que se segue. A mãe é menos jovem do que a filha, como se sabe, ou não seriam mãe e filha. A filha é uma rapariga preocupada com a mãe. Faz o quê? Carrega os sacos, sem esforço algum. Errado. A mãe agarra-se vigorosamente aos sacos. A filha também. Uma pega de um lado, outra do outro Dá cá! Não. Eu levo, mamã! Mas ó filha se não me custa nada… Mas que teimosa… Mas é para veres melhor, argumenta a mãe. A filha não desiste, ou não fosse filha de uma senhora teimosa e de um senhor obstinado. A mãe, mesmo sendo mãe de uma rapariga persistente, não desiste de igual forma e ambas se digladiam publicamente pela posse de um saco de plástico.
Hoje, por exemplo, a única vez em que consegui ter o saco em meu poder foi quando a senhora minha mãe levou os seus livros a Luís Sepúlveda para serem autografados. Chegada a sua vez, disse-lhe apenas Mamã, não vais com esse saco enorme..., subliminar chantagem de pacotilha Não vais apresentar-te perante um escritor de renome com um saco dessa natureza e sem demora Zás, agarrei-o. Uma vez em meu poder, regressou o duelo Dá cá, Mas não me custa nada… Mas para que é que hás-de ir pesada? Mas assim nem consegues ver nada! Certo é que ver é manifestamente insuficiente na relação que as mulheres travam com os objectos do seu desejo consumista, há que mexer também sempre. A vitória seguinte foi dela, claro, e se bem me lembro, aconteceu quando me perdi com o último DVD do Chico Buarque. Enquanto o imaginava de olhar cristalino meio perdido no tempo, a pele morena e os gestos tranquilos, flanando por Lisboa e Budapeste, flanando também eu por lugares recônditos e ocultos, a minha mãe agarrou-me no saco, aproveitando-se-me da ausência fugaz do espírito e desatenção do corpo. Nos homens não se pode confiar nunca, mesmo que venham trancados numa caixa espalmada e comprimidos num disco. Mãe 1 - Filha 0.
Ora, não generalizesses: tu não me conheces pessoalmente.Caso contrário, mudavas de opinião: eu é que carrego com os sacos. Os meus e os dela
ResponderEliminar;) Bjokas
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ResponderEliminarOs teus textos deixam-me sempre com um sorriso nos lábios, mesmo às 8 da manhã! :)
ResponderEliminar:)
ResponderEliminarDesta vez ganhou a teimosita, mas só porque tu não foste sagaz o suficiente para a levares à papelaria mais próxima para junto da prateleira dos post it e companhia... é que agora acho que há uns novos que são lindossssss e óptimos para marcar tudo e mais alguma coisa nos livros;)
Patrícia, o problema é que os post-its estavam longe dos DVDs...
ResponderEliminarAs generalizações são brincadeira mas se não fosse o Chico Buarque não me tinha distraído, Carlos.
Syrin, sorrir é o que nos resta num dia tão cinzento:))
Beijos
LOL!
ResponderEliminarPor acaso também andei ontem às compras com a minha mãe. Mas apesar de sermos as 2 bem teimosas (ela Leão, eu Escorpião), dividimos entre nós os 2 saquitos que tinhamos. Só na altura do jantar lhe "roubei" o que ela tinha na mão e ali fiquei a tentar equilibrar tudo, com alguma dificuldade, confesso...
Tb eu me distraio com facilidade em Fnacs e afins, mas como aí a minha mãe prefere ir sentar-se, ela toma conta dos sacos e eu vou descansada perder-me por lá... :)
:) Deve ser lindo de assitir a essa vossa luta pelos sacos. :)
ResponderEliminarÉ favor retirar o de da mensagem anterior :P
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