A campainha da porta foi peremptória e insistente. Algures depois das nove e trinta fez-se soar o toque e não mais parou até sensivelmente depois das doze, a hora em que, segundo a tradição, as crianças recolhem aos lares de sacos cheios, imagino que ruborizados e cansados da correria matinal porta a porta, pedindo o que a tradição ensinou para este primeiro dia do mês de Novembro, Pão por Deus. Este é um dia em que a porta de casa se abre e as crianças entram, às vezes aos magotes, outras acompanhadas de familiares, avós, mães, tias e se vão felizes para depois se derrubarem nos doces o resto da tarde.
No primeiro ano em que estivemos na aldeia, a nossa porta foi a única que se abriu na rua e tornou-se, desde então, paragem obrigatória. De véspera fica preparada uma mesa pequena à entrada de casa, onde vários recipientes acolhem as guloseimas sortidas: rebuçados, bolinhas de chocolate, chocolates, chupas e, excepcionalmente este ano, gomas. A grande sensação são sempre as moedas e notas de chocolate, prioridade absoluta na lista de compras para a ocasião. Gosto de receber as crianças em minha casa, o meu afilhado todos os anos sem excepção. Gosto de receber os pais que acompanham as crianças e de ver os rostos iluminados dos pequenotes, os olhitos brilhantes perante a mesa colorida, as bochechas rosadas e mãozitas pequenas e a ansiedade com que abrem os sacos de pano, bem à moda saloia, ou sacos díspares de grandes superfícies comerciais, e escrutinam o que lhes vou dando, com toda a atenção e sentido de equidade. Despeço-me com um sorriso, retribuem com um agradecimento e o chilrear inocente, enquanto caminhamos até ao portão, esperando sempre que haja mais para o ano. Entretanto uns deixarão de vir, por já terem ultrapassado a idade, outros repetirão a visita, mais crescidos já, os mais espigadotes passarão a vir a acompanhar os irmãos ou irmãs mais novos. A tradição já não é o que era mas ainda é tradição. Nada como o sorriso de uma criança para iluminar os dias. Até para o ano então.
No primeiro ano em que estivemos na aldeia, a nossa porta foi a única que se abriu na rua e tornou-se, desde então, paragem obrigatória. De véspera fica preparada uma mesa pequena à entrada de casa, onde vários recipientes acolhem as guloseimas sortidas: rebuçados, bolinhas de chocolate, chocolates, chupas e, excepcionalmente este ano, gomas. A grande sensação são sempre as moedas e notas de chocolate, prioridade absoluta na lista de compras para a ocasião. Gosto de receber as crianças em minha casa, o meu afilhado todos os anos sem excepção. Gosto de receber os pais que acompanham as crianças e de ver os rostos iluminados dos pequenotes, os olhitos brilhantes perante a mesa colorida, as bochechas rosadas e mãozitas pequenas e a ansiedade com que abrem os sacos de pano, bem à moda saloia, ou sacos díspares de grandes superfícies comerciais, e escrutinam o que lhes vou dando, com toda a atenção e sentido de equidade. Despeço-me com um sorriso, retribuem com um agradecimento e o chilrear inocente, enquanto caminhamos até ao portão, esperando sempre que haja mais para o ano. Entretanto uns deixarão de vir, por já terem ultrapassado a idade, outros repetirão a visita, mais crescidos já, os mais espigadotes passarão a vir a acompanhar os irmãos ou irmãs mais novos. A tradição já não é o que era mas ainda é tradição. Nada como o sorriso de uma criança para iluminar os dias. Até para o ano então.
ieozuhOntem passei à tua terra. Aliás, fui percorrendo a zona saloia, sempre por estradas secundárias, até parar na praia da assenta, o meu destino final. Vi tanto pirralho na rua ao pão por deus, e tanto saco que já me parecia rebentar, que por duas vezes brinquei com o Cazé, que os próximos que passassemos parávamos nós e pediamos-lhes o nosso pão por deus. Onde moro nunca ninguém ia ao pão por deus, e só quando comecei a frequentar Caneças é que soube da tradição. Ontem achei piada, porque passei por alguns que tinham ido a casas onde a tradição ainda era verdadeiramente o que foi em tempos passados, levavam sacos de tremoços e frutos secos.
ResponderEliminarBeijocas Nô!
LOL! Aquelas primeiras 6 letras são o word verification que não sei como foram parar ali! Eu bem achei estranho ter de repetir!!
ResponderEliminarDeve ser giro, deve :o)
ResponderEliminar(lol, patricia! :op)
cá na fig foz não é costume, faz se algo parecido mas é na manhã da quinta feira santa, e chama se o «dia da esmolinha». mas em peniche, na terra dos meus avós, é costume, ou pelo menos era quando eu era pequenininha, lembro me que calhou estar uma vez lá neste dia e a minha avó foi comigo a casa das vizinhas - lembro me perfeitamente que uma delas me deu um pêro, que para mim na altura era apenas uma maça de forma um bocadnho diferente, mas era vermelhinha, brilhante e eu achei tão linda que só descansei quando a comi ao almoço :)
ResponderEliminaré uma tradição bonita, é pena estar cada vez menos presente...
É a globalização também nisso!
ResponderEliminarBeijos
O pão por deus é uma tradição aqui da zona. No Norte do país é absolutamente desconhecido e na Ericeira por exemplo é no dia dois de Novembro. O que acho engraçado é que há imensas famílias de fora do cencelho a morar aqui e as crianças vão adeirndo a esta tradição. São cada vez mais de ano para ano. Dão-me é cabo do orçamento... ;-)
ResponderEliminarPatrícia, para a próxima trazes cá o pequenote para pedir pão por deus.
Achei linda a expressão: Pão por Deus.
ResponderEliminarPor aqui, os brasileiros têm adaptado a nossa moda o halloween. Aqui em casa fizemos uma festa com as crianças, com fogueira e tudo.
Ano que vem tentarei substituir o "trick or treat" por pão por Deus. Só não sei se conseguirei.
Um abraço,
Martha
Os beijinhos, esqueceste-te de falar dos beijinhos e das línguas de gato
ResponderEliminarBom fim de semana.
ResponderEliminarQue bonito! E que pena, que aqui não haja essa tradição. Bem, sempre temos as Janeiras...
ResponderEliminarMartha, só há uns dois anos é que associei o Halloween ao Pão por Deus. Ao que parece a tradição tem a ver com um dia em que os pobres iam pedir a casa dos ricos, mas também já ouvi que remonta ao terramoto de 1755, em que as pessoas ficaram sem os seus lares e foram pedir. A verdade é que em Lisboa não há e é apenas aqui nos arredores.
ResponderEliminarBjs
Pois, aqui não temos Janeiras, Pequete, mas ainda assim vem cá um grupo aqui da associação desportiva cantá-las.
Carlos, vou a uma superfície comercial de origem alemã que começa por L e acaba em L abastecer-me para este dia e não encontrei línguas de gato nem beijinhos ;-)
Bom fim de semana e se passarem aqui peçam pão pr deus que algo se arranjará sempre.
Que bonita a tradição do Pão por Deus: dar, repartir, ainda por cima ter como recompensa o sorriso das crianças... Ainda bem que há lares de jovens onde os pequenos podem bater à porta e ter tão calorosa recepção, como noutros tempos.
ResponderEliminarQue a vossa casa, que acolhe, seja sempre cheia, de Pão e Amor.
Bjinhos a quem nela vive.