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domingo, 18 de março de 2007

Sweetest thing

Pedir desculpa, retratar-se ou reconhecer faltas e erros nem sempre se apresenta como a mais fácil das tarefas na vida a dois. Certo é que depende mais de factores de personalidade das partes envolvidas do que exteriores aos opositores beligerantes. A verbalização surge como uma tarefa hercúlea, não raras vezes inexequível e, na sua impossibilidade, mas adivinhando-se a acalmia da tempestade, o dia-a-dia começa então a colorir-se de gestos delico-doces, subitamente mais carinhosos, uma chamada inesperada, um sms igualmente surpreendente, um gesto ressuscitado na rotina dos dias pálidos. Assim se irá caminhando até que a voracidade do tempo degluta os episódios inconsequentes da partilha do quotidiano. A dois, é sabido, vigoram as regras desses dois, e nas regras desses dois a panóplia da dinâmica dual aumenta significativamente. Há, portanto, os mais intempestivos e coléricos, entre os quais desgraçadamente me incluo e que com duas ou três palavras, mais do que estas, confesso, arrumam os infortúnios e as mágoas. Existe, porém, uma categoria mais sofisticada de manipuladores natos, sedutores irredutíveis de inominável sensualidade sub-reptícia, aos quais dificilmente se resiste. Pode ser aquele ar de quem acabou de sair do banho, perfumado e barbeado, o outro de quem carrega a rotina aos ombros ou um infortúnio temporário, mesmo sem banho nem barba feita. A verdade é que esta raça estuporada possui insondáveis e misteriosos poderes.
Paul Hewson, de sua graça, Bono Vox no mundo do showbiz e da música, pertencerá sem qualquer dúvida a esta estirpe. Conta-se que se terá esquecido do aniversário de Ali Hewson, sua mulher, enquanto gravava The Joshua Tree. Os fãs certamente perdoar-lhe-iam o esquecimento perante a intensidade e excelência do álbum, mas na vida a dois nem tudo é assim fácil e as mulheres, sabe-se, são capazes de chorar semanas a fio perante a falta sem perdão, martirizando-se e martirizando o infractor, infligindo-lhe penas recheadas e cobertas de malvadezas várias. Desconheço o que terá feito Ali Hewson no momento. Sabe-se o que Bono fez: compôs-lhe uma música e dedicou-lha. Mulher alguma resistiria a tal talento. Ain´t that the sweetest thing?

6 comentários:

  1. Conhecia essa história do Bono Vox. Uma bonita forma de pedir desculpa :-)

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  2. Mas será que a forma escolhida, indiscutivelmente bela e irresistível, não esconde uma outra realidade: a que um pedido sincero de desculpas, feito de forma simples já não basta? A palavra desculpa já estará demasiado gasta?
    Cogitemos no assunto, cara Papalagui ;)

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  3. Desculpa, :)
    esqueci-me das beijocas

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  4. Até que enfim que um ilustre elemento do sexo masculino se manifesta!!!!!! É que o texto contém essa provocação mesmo que seja subliminar ;-)
    Beijocas

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  5. Ah, a mim ninguém me dedica uma música..... :oP
    Claro que um simples desculpa não basta! ;)
    Beijos

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