A tarde aconchegava-se no regaço da noite. Entre cariocas e turistas, caipirinhas saboreadas à porta dos bares ou nas janelas para o outro lado do casario encavalitado, e souvenirs acabados de adquirir nas lojas para o efeito, um bulício miudinho instalava-se em Santa Tereza. A hora anunciava o regresso.
Do outro lado da rua, numa pequena praça, um táxi largava turistas e de turistas se havia de ocupar de novo, quando atravessámos a rua e lhe pedimos que nos levasse ladeiras abaixo até Ipanema na Zona Sul. O trajecto escolhido seria um pouco mais longo, mas certamente com menos trânsito. Confiar em taxistas pode ser um risco, mas pode também abrir janelas do desconhecido.
Cosme Velho, no sopé do caminho, morro acima, que levaria ao Corcovado e que dias antes percorrêramos. Detive-me na paisagem, embrenhada na Mata Atlântica com o perfume da clorofila densa a entrar pela janela aberta do táxi. Lá dentro, a conversa começara a girar ao ritmo tranquilo da tarde que se escondia. Portugueses? Sim, portugueses. Sei que terei dito como era única aquela cidade, mesmo não me lembrando de o ter feito. Quem algum dia viu o Rio de Janeiro a seus pés jamais recuperará de tanta beleza e sei que teria no rosto o sorriso pateta de quem se deixa absorver por essa beleza insondável instalada na alma para ficar até ao último dia de memória. O taxista sorriu, feliz pelo elogio, habituado, contudo, a ele.
Seria Domingo e dia de Fla-Flu. O Maracanã estaria então a esvaziar-se após o clássico dos clássicos não muito longe dali. Mesmo quem não gosta de futebol sabe que Fla-Flu é Fla-Flu. No rádio, ainda os resquícios do jogo. O resultado? Um empate talvez. À saída do túnel Rebouças, a conversa soltara-se desinibida. E quais dos brasileiros estavam jogando em Portugal? Liedson, por exemplo. Não, esse não conheço não. Luisão? Sim, claro. E Felipão, o gaúcho teimoso que impôs sua vontade mas trouxe o título para casa em 2002, estava agora ao serviço de Portugal.
A tarde cada vez menos nítida e lá fora a brisa suave de Março, misturada com uma humidade perfumada e o linguajar doce desse português do Brasil, musical e carinhoso. E ao atravessarmos a cidade, de repente com a Lagoa Rodrigo de Freitas em frente, a conversa escorregou para a festa de recepção dos pentacampeões no Rio que o taxista relatava com emoção potenciada pela alma brasileira e a paixão pelo futebol. Isso aqui tava assim de gente… e continuava O senhor não conhece? Zeca Pagodinho? O nome não era de todo estranho, também a propósito da Copa do Mundo e da obstinação de Scolari ao preterir todos os afamados cantores brasileiros por um simples pagodeiro que pelo sonho ajudara a levar o país à vitória, surgira algures numa conversa passada. A melodia absolutamente desconhecida, porém. E o taxista, mais convincente que qualquer outro guia de viagem credenciado, cantou-nos Confesso que sou de origem pobre, meu coração é nobre, foi assim que deus me fez…Deixa a vida me levar. Vida leva eu. Deixa a vida me levar… Conhece agora? E continuava cantando Vida leva eu… Naquele táxi atravessando a cidade talhada entre morros, céu e mar, surgiu mais um hino para a banda sonora da cidade maravilhosa, sem o brilhantismo de outros compositores, igualmente genuíno e autêntico. Nada como deixar a vida nos levar.
Do outro lado da rua, numa pequena praça, um táxi largava turistas e de turistas se havia de ocupar de novo, quando atravessámos a rua e lhe pedimos que nos levasse ladeiras abaixo até Ipanema na Zona Sul. O trajecto escolhido seria um pouco mais longo, mas certamente com menos trânsito. Confiar em taxistas pode ser um risco, mas pode também abrir janelas do desconhecido.
Cosme Velho, no sopé do caminho, morro acima, que levaria ao Corcovado e que dias antes percorrêramos. Detive-me na paisagem, embrenhada na Mata Atlântica com o perfume da clorofila densa a entrar pela janela aberta do táxi. Lá dentro, a conversa começara a girar ao ritmo tranquilo da tarde que se escondia. Portugueses? Sim, portugueses. Sei que terei dito como era única aquela cidade, mesmo não me lembrando de o ter feito. Quem algum dia viu o Rio de Janeiro a seus pés jamais recuperará de tanta beleza e sei que teria no rosto o sorriso pateta de quem se deixa absorver por essa beleza insondável instalada na alma para ficar até ao último dia de memória. O taxista sorriu, feliz pelo elogio, habituado, contudo, a ele.
Seria Domingo e dia de Fla-Flu. O Maracanã estaria então a esvaziar-se após o clássico dos clássicos não muito longe dali. Mesmo quem não gosta de futebol sabe que Fla-Flu é Fla-Flu. No rádio, ainda os resquícios do jogo. O resultado? Um empate talvez. À saída do túnel Rebouças, a conversa soltara-se desinibida. E quais dos brasileiros estavam jogando em Portugal? Liedson, por exemplo. Não, esse não conheço não. Luisão? Sim, claro. E Felipão, o gaúcho teimoso que impôs sua vontade mas trouxe o título para casa em 2002, estava agora ao serviço de Portugal.
A tarde cada vez menos nítida e lá fora a brisa suave de Março, misturada com uma humidade perfumada e o linguajar doce desse português do Brasil, musical e carinhoso. E ao atravessarmos a cidade, de repente com a Lagoa Rodrigo de Freitas em frente, a conversa escorregou para a festa de recepção dos pentacampeões no Rio que o taxista relatava com emoção potenciada pela alma brasileira e a paixão pelo futebol. Isso aqui tava assim de gente… e continuava O senhor não conhece? Zeca Pagodinho? O nome não era de todo estranho, também a propósito da Copa do Mundo e da obstinação de Scolari ao preterir todos os afamados cantores brasileiros por um simples pagodeiro que pelo sonho ajudara a levar o país à vitória, surgira algures numa conversa passada. A melodia absolutamente desconhecida, porém. E o taxista, mais convincente que qualquer outro guia de viagem credenciado, cantou-nos Confesso que sou de origem pobre, meu coração é nobre, foi assim que deus me fez…Deixa a vida me levar. Vida leva eu. Deixa a vida me levar… Conhece agora? E continuava cantando Vida leva eu… Naquele táxi atravessando a cidade talhada entre morros, céu e mar, surgiu mais um hino para a banda sonora da cidade maravilhosa, sem o brilhantismo de outros compositores, igualmente genuíno e autêntico. Nada como deixar a vida nos levar.
Dá vontade de levantar e começar a dançar :)
ResponderEliminar"Deixa a vida me levar" era o refrão preferido dos jogadores da seleção brasileira de 2002, nas batucadas no ônibus nas idas e vindas entre estádios e hotéis. O pagode é uma música que se originou nas feijoadas nos quintais dos subúrbios cariocas. Tem muito improviso, o rítmo é contagiante, o refrão se aprende facilmente. Zeca Pagodinho foi descoberto por Beth Carvalho e tornou-se um sucesso.
ResponderEliminarFicámos fãs absolutos desta canção mas acho que foi por toda a envolvência. O ritmo é mesmo contagiante, não há mau humor que resista. Gosto particularmente do "Vida leva eu". Tão mais fácil do que sermos nós a levar a vida ;-)
ResponderEliminarBeijos
"Minha alma canta
ResponderEliminarvejo o Rio de Janeiro
estou morrendo de saudade...."
Fiquei comovida!
ResponderEliminarNa próxima, tens que vir também ao sul.
No Pagode do Vavá
ResponderEliminar(Paulinho da Viola)
Domingo, lá na casa do Vavá
Teve um tremendo pagode
Que você não pode imaginar
Provei do famoso feijão da Vicentina
Só quem é da Portela é que sabe
Que a coisa é divina
Tinha gente de todo lugar
No pagode do Vavá
Nego tirava o sapato, ficava à vontade
Comia com a mão
Uma batida gostosa que tinha o nome
De doce ilusão
Vi muita nega bonita
Fazer partideiro ficar esquecido
Mais apesar do ciúme
Nenhuma mulher ficou sem o marido
Um assovio de bala
Cortou o espaço e ninguém machucou
Muito malandro corria
Quando Elton Medeiros chegou
Minha gente não fique apressada
Que não há motivo pra ter correria
Foi um nego que fez 13 pontos
E ficou maluco de tanta alegria
Aquele abraço para vocês do outro lado do mar :-)
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