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quarta-feira, 11 de abril de 2007

Alunos que ficam

O meu pai recordou até ao fim dos seus dias uma das alunas que mais admirava pela escrita desde tenra idade. Com o tempo, o talento dessa aluna desvelou-se na esfera pública e, da aluna muito tímida, nasceu a escritora. Tanto ele como a minha mãe seguiram o percurso da sua aluna. Ambos recordavam na conversa um com o outro as composições sem mácula numa escrita escorreita e irrepreensível. Conta a minha mãe que o meu pai, tendo sido professor da Hélia, assim é chamada lá em casa, antes da minha mãe, teria ficado de tal forma encantado com a escrita da sua aluna, que não hesitara em partilhá-la com a minha mãe, ainda antes da sua vinda para Mafra. Assisti várias vezes a esta conversa, assunto recorrente, esse tal texto que nunca li mas que marcara para sempre a vida dos meus pais. Cresci com ele, de certa forma, mesmo sem nunca o ter lido. O meu pai nutria pela Hélia um carinho imenso, recíproco, reencontrou-a cá em Mafra numa ocasião solene e ficou embevecido com a ternura da sua sempre aluna, escritora de renome então, mas que regressava aos seus professores com a humildade de sempre, a simplicidade de sorriso infantil e genuíno que a caracteriza. Para o meu pai, os afectos sempre foram a linguagem única do coração, a razão pura da existência. Tinham, para ele, portanto, muito significado as manifestações de afecto e ternura. A minha mãe segue atenta os passos da Hélia, orgulhosa da sua aluna, o carinho sempre presente. Raramente se encontram, mas a Hélia não se esquece dos seus professores, manda cumprimentos e beijinhos. Perdoar-me-ão pois que tenha ficado tão sensibilizada com isto que a própria Hélia se encarregou de fazer chegar à minha querida mãe e que o divulgue aqui. Onde estiver, o meu querido pai sorrirá mais uma vez babado com a sua eterna aluna. Da minha querida mãe ouvi a voz embargada e adivinho-lhe os olhos humedecidos. Esta será a mais bela homenagem que os alunos podem fazer aos seus professores e a mais plena que uma filha pode testemunhar. Obrigada, Hélia.

8 comentários:

  1. Que bonito!
    Também recordo com ternura alguns dos meus professores.
    Beijos

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  2. Num balanço final, tendo em conta os professores que ficaram, os "bons" - recordados com ternura - acabam por ganhar aos "maus" - insultados interiormente a cada memória. Nem tudo são rosas, mas também nem tudo tem de o ser, e este balanço positivo é o que, no fundo, se quer :)

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  3. Que texto maravilhoso. Até eu fiquei comovida. É uma belíssima escritora.

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  4. Como fiquei feliz! O F., sempre presente, sempre ao meu lado, terá sorrido com orgulho, com o orgulho que sentia sempre que um novo livro era publicado. E a pergunta habitual quase foi real "Já estás com a lágrima no olho?" eu sorri enquanto uma lágrima teimosa descia silenciosa pela face. Não de saudade mas de amor, do amor que sempre dediquei aos muitos alunos que passaram pela minha vida e continuam presentes com a sua amizade. Um beijo grande Hélia.

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  5. Linda homenagem a seus pais, professores maravilhosos, empenhados, envolventes, cheios de disponibilidade e coração grande. Falo do que sei!A amizade e carinho dos alunos é o retorno do muito que deram. Lembro-me de chegar ao hospital, perguntar ao meu pai como se sentia e ele responder:'Estou bem, muito bem. A enfermeira chefe deste serviço foi minha aluna', com um sorriso de quem está tranquilo e confiante. A nossa carreira vale por estes momentos, sobretudo. É deles que somos 'titulares'...
    Bjinhos, com muito carinho, à sua mãe e, através das duas, ao seu querido pai, sempre presente.

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  6. A nossa carreira vale por estes momentos, sobretudo. É deles que somos 'titulares', que bonito, Milucha, é mesmo assim!
    Obrigada por tudo

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