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terça-feira, 8 de maio de 2007

Miúdos barbados

O Jonas é um marmanjo de dezanove anos, tem barba e senta-se na primeira carteira da fila do meio. É um conversador nato, intrépido e incansável, tem sempre histórias e aventuras, o skate e a música, os Festivais de Verão e a Quinta-feira da Espiga, e mesmo se advertido e quando admoestado faz um ar contristado manifestando o seu evidente desagrado por ter sido chamado à atenção. Regra geral, olha-me com ar escandalizado, pergunta que é que eu fiz agora, stora? Abre os braços e encolhe os ombros ao mesmo ritmo e depois arruma-se na carteira. Jamais se resigna. Desde quando falar com o colega do lado direito, do lado esquerdo e de trás é motivo para admoestação? Exigentes, estes professores. Separei-o do colega do lado certo dia, e, assim que me virei, o Jonas já estava acompanhado de outro marmanjo de dezanove anos também que me sorria como um miúdo que acaba de fazer uma traquinice. Tudo muito certo, não estivesse numa turma de décimo primeiro ano e os dois não fossem os mais velhos logo a seguir a mim. Mais uma admoestadela, mais uma chamadela de atenção, o colega continua com sorriso malandro, vai de volta para o lugar de onde veio e o Jonas arranja maneira de encetar conversa com mais alguém à frente, ao lado, atrás.
Um destes dias, quando a minha paciência estava rarefeita e o Jonas tinha o telemóvel bem visível em cima da secretária, tirei-lho sem mais avisos e coloquei-o sobre a minha secretária. O Jonas abriu os braços num acto de desespero, mais uma vez vítima da injustiça da professora de Inglês. Pediu explicações mas porquê, stora? mesmo sabendo que não é permitido o uso do telemóvel nas aulas. Lá papagueei umas consideraçõezitas acerca do que é ou não apropriado na sala de aula e a aula propriamente dita começou, não sem ser interrompida pela pedinchice e súplica ladainhenta Ó stora, vá lá… stora, por favor, stora... A stora a tudo disse não, ou não fosse regra básica da educação. Lá mais para o fim da aula e quando estava tudo relativamente concentrado o Jonas interveio mais uma vez. Desta feita tinha olhinhos doces, o tom de voz açucarado e algo arrastado. Lancei-lhe o olhar impaciente Chega, acabou, NÃO! Dera-se por vencido aparentemente Não stora, não é isso… Sim, o que foi então? retorqui Stora? Sim, sou eu! Sim?! Suplicou reincidente fazendo uso das mais variadas técnicas de manipulação Stora, veja só se recebi alguma mensagem, por favor, stora… ainda perguntei se queria que respondesse também mas isso ele já achou confiança a mais. Onde é que já se viu professora mais abusada?

10 comentários:

  1. Mandar umas mensagens às moçoilas era bem pensado. Podia ser que ficassem impressionadas com o português dele ;)

    Beijocas

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  2. Hehehehe
    Fizeste bem, onde já se viu... :s

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  3. Ah, isso é que era, responderes por ele!!
    :)

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  4. Foi uma risada :D
    É mesmo de todo, o raio do miúdo e deviam ver a naturalidade...
    Beijos

    Carlos, acho que elas iam gostar, uma mulher sabe o que gosta de ouvir ;-)

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  5. Ai mulher, que paciência a tua...

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  6. Olha, também tenho uns assim, que sofrem de bicho carpinteiro e não conseguem deixar de falar para os lados, de mandar bocas, de gesticular... têm mais idade, mas os mesmos hábitos... alguns são engraçados, mas ao fim de umas horas torno-me um bocado má (embora não sirva de muito...).

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  7. Também eu, é que por muita paciência que se tenha é tudo uma questão de limites e respeito. O mais curioso é que não têm noção do que é menos próprio.
    Beijos

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  8. Adorei ler esta crónica de uma professora do século xxi mas eu já não quereria ter estado no seu lugar.Lidou muito bem com a situação e definiu muito bem os limites.Mas eu, aos 36 anos de serviço, já estou sem paciência para essas e outras coisas que ocorrem nas aulas.Ainda bem que as colegas mais jovens sabem lidar com a geração'morangos com açucar'!Eu já não sei...
    Bjinhos

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  9. O ano em que regressei da faculdade foi muito duro, não que tivesse estado afastada totalmente, na formação de professores nunca se está, mas porque, de facto, as coisas mudaram surpreendentemente ao longo daqueles sete anos. Este é só um episódio entre muitos. O problema é que eles deixaram de conseguir adequar o comportamento ao contexto. A maior parte das vezes não são mal educados, não há intenção de ofender o professor, "apenas" não entendem o que não devem fazer. Beijinhos

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  10. que seca os telemóveis por todo o lado !...

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