Exactamente à hora de ponta. Flores, gente, despojos de arranjos, velas e candelabros, mulheres que corriam de um lado para o outro, o irmão que refilava com a irmã, mãe com a filha e os empregados e as flores num vai-vem estonteante. Percebi que de todas as horas aquela seria a menos certa, a mais incómoda. A rapariga desculpou-se. Passou a encomenda para uma senhora tranquila de meia-idade com pronúncia saloia cerrada. Rosas vermelhas? Sim. Margaridas bordeaux? Sim. E proteias também. E recolhidas a um cantinho da loja, pouco a pouco, o arranjo tomou forma. E depois a senhora perguntou como ficaria melhor, acrescentando que era para o cemitério e eu a recorrer aos óculos de sol para esconder os olhos marejados de lágrimas. A falta do meu pai. A ausência. As flores para o meu pai. O nome do meu pai inequívoco no granito negro. A rapariga acrescentou que arranjava as flores pensando nas pessoas em vida, nas flores que e como as pessoas gostariam, as flores deviam homenagear a vida. Concordei, mesmo sabendo que pedir flores para o meu pai como eu acho que ele gostaria e para celebrar a sua vida, o dia em que nasceu, não o que partiu é tão pouco, uma panaceia tola, um engano débil e tonto para esta saudade sentada em mim, lentamente em silêncio, sem acabar dia algum.
Um beijo enorme, em si, para o seu Pai.
ResponderEliminarUm beijo, Leonor.
ResponderEliminarAs flores nunca sao pouco.
Por vezes não sabemos como vamos conseguir aguentar viver mais um dia sem eles, os que partiram, não é?
ResponderEliminarBeijocas
É mesmo. Beijocas
ResponderEliminarHá datas que nos ficam marcadas.
ResponderEliminarO 16 de Agosto é uma em que estou contigo. Acho que não vou esquecer nunca. Beijos grandes, querida T.
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