Agora eu quero contar as histórias da beira do cais da Bahia.
Os velhos marinheiros que remendam velas, os mestres de saveiros, os pretos tatuados, os malandros sabem essas histórias e essas canções. Eu as ouvi nas noites de lua no cais do mercado, nas feiras, nos portos do Recôncavo, junto aos enormes navios suecos nas pontes de Ilhéus.
O povo de Yemanjá tem muito que contar.
Vinde ouvir essas histórias e essas canções.
Jorge Amado, Mar Morto
Os velhos marinheiros que remendam velas, os mestres de saveiros, os pretos tatuados, os malandros sabem essas histórias e essas canções. Eu as ouvi nas noites de lua no cais do mercado, nas feiras, nos portos do Recôncavo, junto aos enormes navios suecos nas pontes de Ilhéus.
O povo de Yemanjá tem muito que contar.
Vinde ouvir essas histórias e essas canções.
Jorge Amado, Mar Morto
Uma caipirinha com uma carne de sol na Cantina da Lua, longe de ser tranquila, vertiginosa e sensual como o movimento de transeuntes, soteropolitanos e gringos que se deslocavam num vaivém frenético e colorido, ladeiras acima e abaixo até ao Largo do Pelourinho, iluminado pela Igreja do Rosário dos Pretos e a Fundação-Casa Jorge Amado, azuis ambas, ponto obrigatório de qualquer visita à cidade do Salvador, coração negro do Brasil, capital primeira do Brasil. E o movimento que se instala, cada vez mais intenso e vivo, um desfile que foi tomando o seu lugar pelas ladeiras circundantes: os filhos de Gandhi, o Olodum, as baianas como se conhecem por esse mundo fora, Bumba Meu Boi, Iemanjá. E de máquina fotográfica em punho embalada com o ritmo contagiante, o cortejo rodopiou, com o sol a brilhar já cadente por trás da Igreja de São Domingos de Gusmão, o contraste necessário para o fulgor do desfile, que soube depois, seria do Dia do Folclore, celebrado a 22 de Agosto no Brasil, escrito para sempre nos meus 22 de Agosto vindouros.
Mas Salvador é mais do que uma data. Salvador é um sentimento que não se deixa pôr por palavras. É ir ao Bonfim e conversar com a Carol e o Jairson sobre patuás e orixás, Erê, o meu, e ninguém tocou ainda, Carol, e fitinhas coloridas, trazer a pagela do Santo Expedito que todos os dias me olha aqui mesmo ao lado, é ver a cidade lá em baixo, é subir e descer as ladeiras do Pelô, regatear com o Caetano o preço dos colares de sementes, descer o elevador Lacerda com a Baía de Todos os Santos em frente, azul e imensa, e vislumbrar do outro lado Itaparica, berço de João Ubaldo Ribeiro, é passear no Mercado Modelo entre souvenirs e pinturas, comprar o que quase todos os turistas compram, mas não, um berimbau não, sentarmo-nos no Maria de São Pedro com a baía que se estende como um lençol azul prateado até encontrar as nuvens plúmbeas do Inverno baiano, ver os capitães da areia lá em baixo, trocar impressões com os inúmeros artistas que frequentam o restaurante - é sabido que baiano não nasce, estreia- enquanto se saboreia uma moqueca ou se relê mentalmente, sem livro algum à nossa frente, a prosa poética de Jorge Amado, alguma dela escrita no Rio Vermelho, onde se pode provar o acarajé longe do burburinho do Pelô. Salvador é o Recôncavo de Dona Canô e o Reconvexo de Bethânia. É saber ali perto Itapoã, onde Toquinho e Vinicius passaram uma tarde de vagabundagem e onde um dia irei sentir a terra toda a rodar. Sem palavras, portanto.
Mas Salvador é mais do que uma data. Salvador é um sentimento que não se deixa pôr por palavras. É ir ao Bonfim e conversar com a Carol e o Jairson sobre patuás e orixás, Erê, o meu, e ninguém tocou ainda, Carol, e fitinhas coloridas, trazer a pagela do Santo Expedito que todos os dias me olha aqui mesmo ao lado, é ver a cidade lá em baixo, é subir e descer as ladeiras do Pelô, regatear com o Caetano o preço dos colares de sementes, descer o elevador Lacerda com a Baía de Todos os Santos em frente, azul e imensa, e vislumbrar do outro lado Itaparica, berço de João Ubaldo Ribeiro, é passear no Mercado Modelo entre souvenirs e pinturas, comprar o que quase todos os turistas compram, mas não, um berimbau não, sentarmo-nos no Maria de São Pedro com a baía que se estende como um lençol azul prateado até encontrar as nuvens plúmbeas do Inverno baiano, ver os capitães da areia lá em baixo, trocar impressões com os inúmeros artistas que frequentam o restaurante - é sabido que baiano não nasce, estreia- enquanto se saboreia uma moqueca ou se relê mentalmente, sem livro algum à nossa frente, a prosa poética de Jorge Amado, alguma dela escrita no Rio Vermelho, onde se pode provar o acarajé longe do burburinho do Pelô. Salvador é o Recôncavo de Dona Canô e o Reconvexo de Bethânia. É saber ali perto Itapoã, onde Toquinho e Vinicius passaram uma tarde de vagabundagem e onde um dia irei sentir a terra toda a rodar. Sem palavras, portanto.
foto: minha
Como já te comentei o Brasil não me atrai muito, mas com palavras tuas, a vontade de seguir direita a Salvador aparece logo! :)
ResponderEliminarQuando te apetecer ir ao Brasil começa por um destino que não seja só praia. Eu estive anos até ir ao Brasil, porque queria começar pelo Rio. Se tivesse começado por Porto Seguro tenho a certeza de que não tinha gostado tanto.
ResponderEliminarSalvador e o Rio são duas cidades obrigatórias no Brasil, haverá mais, gostava de conhecer Olinda e o sul também mas Fortaleza não me diz nada, por exemplo.
Hei-de voltar a Salvador com mais tempo.
Nasci e amo Salvador. Olha que bonito:
ResponderEliminarO HOMEM É A CIDADE EM QUE NASCE. (...) O povo na convivência termina sendo a grande família anônima, da qual nós vivemos. Por isso, eu acredito aos oitenta anos, que quem não tiver debaixo dos pés da alma, a areia de sua terra, não resiste aos atritos da sua viagem na vida, acaba incolor, inodoro e insípido, parecido com todos.
Luis da Câmara Cascudo
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarMuito bonito e bem verdade, Martha.
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