O telemóvel estava aborrecido. Mas que me queres agora? perguntou ao Cartão Galp. O cartão Galp respondeu-lhe amargo Ora, que hei-de querer? Mas que maçada! disse o telemóvel Já não te mandei ir ter com o cartão Cortefiel? Já, respondeu assertivo o cartão Galp, Mas já que estás aí com coisas, diz-me, achas que compram mais roupa ou falam mais ao telemóvel? O telemóvel admitiu Sim, pronto, falam mais ao telemóvel! Então vês, tu é que tens mais pontos. O telemóvel estava enfurecido. O visor incendiou-se-lhe colérico. Porra! Mas já não te disse que não quero essa porcaria? Vá, vá, vai mas é ter com o cartão Fnac, há malta que compra livros que se desunha… Tás parvo?! disse-lhe o cartão Galp, Nem penses nisso! Preferem falar do que ler e tu és a prova disso. A malta fala em casa, fala na rua, fala na casa-de-banho, fala no cinema, fala no teatro, fala a comer, fala a dormir, fala a sonhar, fala na igreja, fala em casamentos, enterros e baptizados, fala, fala, fala. O cartão Galp estava visivelmente irritado, até lhe se doía a fita magnética e gritou ao telemóvel Tomara eu ser como tu, nem precisas de preocupar-te…. E vais mandar naquela malta toda. O telemóvel arrumou-lhe E quem te disse a ti que eu gosto de mandar? Nisto apareceu o cartão Corte Inglês E eu também tenho pontos… e tenho aqui uns de uns saldos de há três anos. E achas que isso te conta para alguma coisa, ó cartão da moda? Pois não sei, vou ver… Ah pois, vai lá ver, vai... disse-lhe o cartão Galp, o telemóvel retorquiu Esses pontos não contam nada, não vês que já passou tanto tempo. O cartão Corte Inglês não se ficou, Pois, olha, não sei, vou ver. O Tibúrcio apareceu de mansinho e disse Eu tenho pontos, eu tenho mais pontos do que vocês todos. Ó Tibúrcio, mas tu andaste a contar os pontos para quê? O Tibúrcio continuou E eu tenho pontos e eu sou grande e tenho mais pontos do que vocês. Os cartões entreolharam-se, entretanto apareceu o cartão Fnac, que confirmou ter alguns pontos, e o Tibúrcio continuou Eu, eu é que tenho pontos. Enquanto os cartões assumiam os seus lugares, o Tibúrcio insistia Eu é que sou bom e eu é que tenho pontos e eu tenho muitos pontos. Tibúrcio, tu não tens pontos, tu não vês que não foste chamado? O Tibúrcio continuou Mas eu tenho pontos, eu tenho mais pontos do que vocês e eu é que sou bom e é de mim que gostam. O telemóvel irritou-se com o raio dos pontos Ó Tibúrcio, vê se entendes, tu não concorres, logo tu não tens pontos. Temos pena. Temos muita pena, Tibúrcio. Que pena que nós temos.
E não apareceu nesta história nenhum cartão Zara ou Mango? Muito hispânica essa crônica de consumo...
ResponderEliminarAventino, esta crónica é mais sobre a progressão dos professores. Agora para se progredir na carreira são precisos pontos e os pontos são somados de acordo com a quantidade de cargos que os professores desempenharam e as habilitações académicas. O pior de tudo foi o ambiente que se instalou na(s) escola(s) e a atitude de alguns de nós que, não podendo concorrer, andaram a somar pontos para mostrar aos outros, como o Tibúcio ;-)
ResponderEliminarPorqu� minhas senhoras?Porqu�?
ResponderEliminarhttp://absolutamenteninguem.blogspot.com/2007/08/as-damas-6.html
Mas tendo o Tibúrcio alcançado uma situação penosa, que "papalagui" também considera "lamentável", porque "carrega" tanto (já nao é a primeira vez aqui no blogue) no Tibúrcio?
ResponderEliminarEle é daqueles que merece a injustiça (a crer nas suas palavras) que desabou sobre todos?
É mesmo "foleiro" esse Tibúrcio, nao?
Caso seja "um ponto" esse Tibúrcio, solicito que edite mais "alegorias" onde inclua esse personagem idílico!
Injustiça ninguém merece senão não seria injustiça, mas o Tibúrcio é como é como é, coitado, põe-se bastante em bicos de pés e não pensaria duas vezes se tivesse que pisar alguém. Quanto a voltar a falar no Tibúrcio, não sei, acho que ele serviu o que eu queria ilustrar, agora é deixá-lo lá no canto a contar os pontos :-D
ResponderEliminarPara quem não percebe nada desse mundo dos professores, como eu, esta crónica tem a enorme vantagem de ser uma alegoria abrangente e aplicar-se a mais uns tantos outrso mundos, ou ao mundo em geral. E isso, cara Papalagui, só consegue quem escreve muito bem. Parabéns.
ResponderEliminarComo já deve ter reparado, estou a ler o blog de cima para baixo. Os seus textos são muito bons, infelizmente não tenho tempo agora para muito mais. Mas volto.
Ana
Obrigada, Ana.
ResponderEliminarConcordo que há características que infelizmente são transversais a todas as profissões :-)