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terça-feira, 9 de outubro de 2007

O Botas

O Botas voltou. O Botas moderno não tem nariz aquilino. O Botas moderno tem um nariz arredondado na ponta. O Botas moderno tem mais cabelo do que o antigo, mas está mais branco, pobre Botas moderno. O Botas moderno já não usa as roupagens tão cinzentas mas o Botas moderno usa fatinho cinzento também. O Botas antigo foi árvore que não deu fruto a não ser o Botas moderno, descendente directo do Botas antigo, só que mais moderno. O Botas antigo vivia na sua toca, tinha voz fraca mas mão de ferro, vivia só mas orgulhosamente só. A diferença que faz um advérbio de modo. O Botas antigo desconhecia essa tal coisa moderna e democrática de oposição. Que é lá isso oposição? Ai, ai, vamos lá ver o respeitinho. O Botas moderno tem que viver com a oposição, modernices, é o que é, quem inventou a democracia devia ser assassinado como o rei, mas partilha com o Botas antigo um mesmo princípio quem não é por mim é contra mim, por isso o Botas moderno não gosta que o vaiem BÚ BÚ BÚ BÚ BÚ BÚ BÚ BÚ BÚ BÚ BÚ BÚ BÚ BÚ, Botas moderno, até porque nos tempos modernos do Botas moderno, o mundo é um local civilizado cheio de realeza e gente com pergaminhos, educação e berço Ah, onde já se viu vaiar um Primeiro-Ministro, perdão, um Botas moderno, um senhor dr. Botas Moderno? Xô, bichos do mato, vá, vá, recolhei em vossas tocas gentalha menor. E, como nos tempos do Botas antigo, protestar é coisa daqueles tais que comiam criancinhas ao pequeno-almoço, ai como é que era o nome? Comunistas? Mas esses já não acabaram? Ora essa, então e quem protesta assim? Quem? Quem mais? Quem mais se atreve? Os comunistas, pois claro. Quem não é por mim é contra mim. E quem é que está contra mim? Os comunistas, pois, a restante população reage em júbilo perante os impostos que aumentam, os hospitais a rebentar pelas costuras, as escolas que fecham, as inverdades pelas bocas fora sem o menor pudor ou respeito. E quem protesta, então? Os comunistas, senhor Botas moderno, o resto do povo é ordeiro e submisso. O Botas moderno quer saber quem são. Sim, quem são esses tais? Ide averiguar, ide. Aqui está uma diferença relativamente ao Botas antigo. Já não há a António Maria Cardoso, o Forte de Peniche é uma fortaleza sita numa cidade piscatória batida pelo Atlântico, lá para Oeste, o Tarrafal uma localidade de Cabo Verde. E sem tudo isto, que há-de, pois, o Botas moderno fazer? Investigar, claro, contornar, fugir. Dantes não havia estas modernices de protestar assim, e se o Botas moderno não tem a António Maria Cardoso, tem de tomar as suas providências, compreenderão. O Botas antigo caiu um dia da cadeira, pobre Botas antigo, mas o Botas moderno está agarrado à cadeira com uma cola mais eficaz do que a tal que colava cientistas ao tecto e, quando cair, só se for com a cadeira, mas claro empurrado pelos comunistas, os únicos que protestam, o restante povo é ordeiro e submisso e feliz.


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9 comentários:

  1. BÚ BÚ BÚ BÚ BÚ

    Aqui fica mais um protesto!

    P.S. - É estranho aprender a linguagem BÚ BÚ com esta idade mas no entanto, a coisa (BÚ BÚ) merece.

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  2. Cara Papalgui, compreendi o seu texto, mas em muito estou em desacordo (na essência).
    Existem eleições e os cidadãos votam (e irão votar num futuro até relativamente próximo).
    Quase que aposto que o "botas" como lhe chama, irá ganhar... nao pela sua competencia, mas pela mediocridade dos concorrentes.
    O que fazem com o primeiro ministro é indecente, sempre que vai a algum lado existem grupos organizados (sim organizados) para o ofenderem, vaiarem, provocarem distúrbios gratuitos. Existem excepçoes, mas nao sao a regra.
    Se nao estao contentes com ele, votem diferente nas próximas eleiçoes.
    Mas é verdade que já nao há respeito. É lamentável.
    Pois não me considere defensor deste ou daquele porque nao sou (como sabe nao vivo em Portugal nem pretendo), nem irei votar, mesmo que perto esteja (quem está fora nao racha lenha, diz o proverbio).
    Somente comento o desproposito de muitos, sem respeito por quem desempenha um alto cargo para o qual foi democraticamente eleito.
    Há lugar e momento para protesto, nao a rua, onde anonimamente se atiram nomes e ofensas. Estou seguro que frente a frente, a sós, nenhum desses "manifestantes" teria coragem de proferir certas palavras que a mistura do anonimate lhes permite.
    Fico triste, porque isso acontece, seja ao "botas" seja ao "anti-botas" seja ao antecessor ou ao sucessor. Não existe respeito como existia no tempo do outro "botas".
    Alguma coisa se perdeu com o desparecimento do "Estado novo".

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  3. Caro James,
    O dito Botas é o primeiro a desrespeitar os cidadãos, obviamente isso não é razão para ser ofendido, mas os protestos indiciam a insatisfação e ele merece-os. Já disse isto antes, mas um Primeiro-Ministro ou um governante deve estar habituado a conviver com a contestação e esta deve levá-lo a reflectir sobre a sua actuação. Para mim é fácil, porque sou professora, estou habituada ao escrutínio permanente e diário dos meus alunos. Se me contestarem penso porquê em primeiro lugar antes de começar a disparatar e jamais fugirei das minhas responsabilidades. Quem não consegue viver com o escrutínio público não está preparado para a vida em sociedade e, no caso de um político, é gravíssimo. Se o Primeiro-Ministro se sente ofendido, deve fazer queixa da ofensa. Protestar não é ofender, é antes o exercício de um direito. Fugir é cobardia e acusar o protesto como ofensa um défice democrático inominável, muito grave vindo de alguém que se diz socialista.

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  4. No Estado Novo existia algo que impedia o protesto: medo. Felizmente o Estado Novo caiu de velho e infelizmente deixou cá raízes.

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  5. O Senhor Botas deve andar a precisar... que lhe façam uma C.I.F.
    :\

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  6. Papalagui
    Gostei do teu texto. Para não variar.
    Beijos

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  7. PA, Cif só se for para lavar a casa de banho... ;-)

    Obrigada Pitucha :-)
    Beijos

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  8. Quando ingressei na escola primária, já não existia "Estado novo", mas um "Estado qualquer" que me injectou desde pequeno com essas chachadas da "abrilândia" que ainda muitos continuam a defender, porque sobrevivem como "gente" com base nessa vergonha com capa de liberdade e democracia.
    Os "gulosos" da revolução ainda são os donos do poder. Já vão passando a pasta aos discípulos, alguns habilitados sabe-se lá como, licenciados em não-sei-quê com diplomas "sacados" aos domingos e tudo.
    Não há respeito por todas e para todas as partes, chamem-he audácia ou coragem (se isso significa ausência do mêdo), a mim mete-me tudo muito nojo. Pelos que ofendem (sim ofendem) e os que talvez até mereçam essa ofensa.
    Não insisto, até porque bem sei que o seu blogue não é nenhum "forum" de opinião nem uma "sala" de "bitaites", tal como o meu também não é.
    E todavia o facto de nem sempre estar de acordo consigo, não invalida que aprecie bastante a sua escrita, pela forma nem sempre forçosamente pelo conteúdo, outras vezes também pelo conteúdo.

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  9. "E todavia o facto de nem sempre estar de acordo consigo, não invalida que aprecie bastante a sua escrita, pela forma nem sempre forçosamente pelo conteúdo, outras vezes também pelo conteúdo."

    Caro James, registo com agrado estas suas palavras. Esta é uma verdadeira vivência respeitadora e democrática e saiba que é recíproco. Apareça sempre. Diferenças não são necessariamente incompatibilidades.

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