Se o contar não lhe falhava eram seis. Seis pares. Seis pares e mais um que tinha ido buscar aos cafundós da gaveta. Havia tempo que não lhe punha a vista em cima, e depois as meias, as normais, nem mais nem menos um par. Seis eram então, seis mais uma e, se a memória não a atraiçoava também, tal como o contar, a última vez que tinha feito uma máquina de roupa interior teria sido lá pelo início da semana, ora sete dias, sete pares. O sol aquecia-lhe as costas, contou de novo -detestava sol- na esperança de que estivesse um ou outro a menos, nunca a mais e muito menos em número exacto com os dias da semana. Nada ficara igual depois do fim-de-semana em que o filho trouxera os nórdicos para casa, a nórdica especialmente, com olhos azuis que nem farpas cravadas em tudo para onde dirigia o olhar. Nunca se deve ter olhos tão claros. A nórdica fazia jus ao estereótipo: alta, louríssima, de pernas infinitas, os olhos límpidos através dos quais se julgava ver os fiordes lá longe, o azul que parecia o céu, e o apetite de algo mais descontraído sem ser o trejeito maljeitoso de corpo hirto dos escandinavos quando se aproximam para um beijo. Além de cumprir o estereótipo tinha algo que a trazia mais a sul: as nádegas salientes sob as calças de ganga, indício de que o exercício físico era uma constante na sua vida e de que os glúteos faziam parte integrante dessa constante. Andaria talvez de patins pelos lagos gelados nas paisagens pintalgadas de branco e azul quando o sol escandinavo brilhava para acender a neve. Apanhara-o a olhar para a nórdica. Nada de mal, a nórdica era o pólo de exotismo à mesa, a cabeça como uma tocha que iluminava as restantes melenas acastanhadas, os olhos como pedras cristalinas. Também ela olhara para a nórdica e para o nórdico. Esperava, contudo, que o olhar não a tivesse atraiçoado e que não tivesse fulminado o pobre rapaz com o olhar com que o consorte brindara a nórdica quando se levantaram na mesa: o olhar de desejo que ela julgara até então estar-lhe reservado. Enganara-se pois. Depois daquele dia nada foi igual.
O sol não a largava, agudo como os olhos da nórdica, enquanto pendurava a restante roupa no estendal: camisas, toalhas, uma ou outra peça pequena e a soma regressou-lhe como uma facada: sete, como os dias da semana. A evidência que precisava para comprovar a tese de que depois da nórdica nada ficara igual e que além da nórdica, regressada ao seu país natal, havia uma, uma outra, a outra, já se vê, que o obrigava a mudar a roupa interior todos os dias. Não era ela. Não era a nórdica. Quem seria?
O sol não a largava, agudo como os olhos da nórdica, enquanto pendurava a restante roupa no estendal: camisas, toalhas, uma ou outra peça pequena e a soma regressou-lhe como uma facada: sete, como os dias da semana. A evidência que precisava para comprovar a tese de que depois da nórdica nada ficara igual e que além da nórdica, regressada ao seu país natal, havia uma, uma outra, a outra, já se vê, que o obrigava a mudar a roupa interior todos os dias. Não era ela. Não era a nórdica. Quem seria?
Ah, as belas paisagens pintalgadas de branco e azul, que me fazem lembrar uma bela quadra (ler com sotaque adequado):
ResponderEliminarO céu é azul
As nuvens são brancas
Que bonito que é
O Estádio das Antas
[já agora, o hóme também trocava de cuecas todos os dias?... ao que as mulheres obrigam :-)]
LOL
ResponderEliminarO home é que trocava de cuecas todos os dias, a mulher certamente e quanto à nórdica não sei... ;-)
... ai Leonor! que de repente me lembraste o Lobo Antunes!
ResponderEliminarSe for um elogio, obrigada :-)
ResponderEliminarBela intriga policial... fico à espera de continuação. Talvez a reacção da "outra" ao efeito devastador da nórdica... LOL
ResponderEliminarBeijinhos
Claro que é um elogio!!
ResponderEliminar:-)
ResponderEliminarTal cmo o ALA, era tudo o que queria da vida: escrever, escrever, escrever.