Planear uma viagem é como planificar uma aula: uma declaração de intenções, com objectivos e metas a alcançar, meios a utilizar, intervenientes e actividades a realizar para cumprir objectivos e desenvolver as competências dos aprendentes/viajantes. Contudo, exactamente como num plano de aula deve haver espaço para o imprevisto e, tal como num plano de aula, o imprevisto não aparece expresso, paira antes como um ente etéreo, uma possibilidade nem sempre tida em conta em ambas as situações e que pode ser mais ou menos aterradora de acordo com a inexperiência de quem ensina e viaja. Uma vez presente, tal como na aula, cabe ao gestor das aventuras tirar o melhor proveito, contornar as situações se necessário for, mas jamais, em ambas as situações, permitir que o imprevisto ocupe honras de estado e aniquile a experiência plena de aprender e de viajar.
Pobres, pois, os planificadores exaustivos, escrupulosos cumpridores de tarefas ao segundo, maníacos da ordem e do rigor, ser-lhes-á pesado o viajar quando por artes inexplicadas o plano segue um percurso paralelo e decide cortar por um trilho secundário. Os rostos dos turistas embrulhados nas toalhas de banho de hotel para apaziguar o frio cortante do ar condicionado naquele autocarro que nos acudiu no meio de caminho, algures antes de Montego Bay, atestaram por completo a ausência de sentido de humor e a exigência feroz de que nas férias tudo siga a contento como nos países de origem. Assim não é e assim não deve ser. Tudo piorou quando esse mesmo autocarro desistiu da marcha quilómetros à frente, no meio de caminho nenhum numa noite sem luar em plena estrada para Negril, um problema de motor talvez, e obrigou o turistame a largar o autocarro, cheirar o perfume da noite jamaicana e submeter-se à fome voraz dos mosquitos cá fora, enquanto ajuda chegava. A guia, já se sabe, era guia mas tinha a sua vidinha, portanto abeirou-se-nos e despediu-se cordata. Sabem como é que é, se for convosco venho para casa muito tarde… Yah mon! No problem, mon. O turistame ficou entregue a outra guia e, quando horas depois chegámos à nossa casa jamaicana, a guia número dois tinha sido contagiada pelo humor canídeo do seu grupo e oferecia-nos um semblante furibundo.
Daquela vez em que passei três dias à espera que a chuva desaparecesse, a neblina se dissipasse e o Cristo Redentor se mostrasse, sabe deus quanto esperara por aquele momento, aproveitei para dar uma banda sonora à praia de Ipanema batida pela chuva. Águas de Março, era Março, e a espaços ainda ecoava a marcha de Carnaval que ouvira na infância nos LPs que a minha tia trazia nas visitas fugazes a Portugal Tomara que chova três dias sem parar…ou Chove chuva, chove sem parar. E quando Copenhaga surgiu como destino e uma visita a Elsinore como uma possibilidade forte, o que os livros nos fazem, a neblina densa, abrupta e quase impenetrável que se abateu sobre o castelo que, à medida que o ferry se aproximava de Helsinborg do lado de lá do mar, se tornava uma mancha informe e irreconhecível, só podia ser maldição, Hamlet não deixa as coisas por menos. Imprevisto mas belo. Como o viajar.
Pobres, pois, os planificadores exaustivos, escrupulosos cumpridores de tarefas ao segundo, maníacos da ordem e do rigor, ser-lhes-á pesado o viajar quando por artes inexplicadas o plano segue um percurso paralelo e decide cortar por um trilho secundário. Os rostos dos turistas embrulhados nas toalhas de banho de hotel para apaziguar o frio cortante do ar condicionado naquele autocarro que nos acudiu no meio de caminho, algures antes de Montego Bay, atestaram por completo a ausência de sentido de humor e a exigência feroz de que nas férias tudo siga a contento como nos países de origem. Assim não é e assim não deve ser. Tudo piorou quando esse mesmo autocarro desistiu da marcha quilómetros à frente, no meio de caminho nenhum numa noite sem luar em plena estrada para Negril, um problema de motor talvez, e obrigou o turistame a largar o autocarro, cheirar o perfume da noite jamaicana e submeter-se à fome voraz dos mosquitos cá fora, enquanto ajuda chegava. A guia, já se sabe, era guia mas tinha a sua vidinha, portanto abeirou-se-nos e despediu-se cordata. Sabem como é que é, se for convosco venho para casa muito tarde… Yah mon! No problem, mon. O turistame ficou entregue a outra guia e, quando horas depois chegámos à nossa casa jamaicana, a guia número dois tinha sido contagiada pelo humor canídeo do seu grupo e oferecia-nos um semblante furibundo.
Daquela vez em que passei três dias à espera que a chuva desaparecesse, a neblina se dissipasse e o Cristo Redentor se mostrasse, sabe deus quanto esperara por aquele momento, aproveitei para dar uma banda sonora à praia de Ipanema batida pela chuva. Águas de Março, era Março, e a espaços ainda ecoava a marcha de Carnaval que ouvira na infância nos LPs que a minha tia trazia nas visitas fugazes a Portugal Tomara que chova três dias sem parar…ou Chove chuva, chove sem parar. E quando Copenhaga surgiu como destino e uma visita a Elsinore como uma possibilidade forte, o que os livros nos fazem, a neblina densa, abrupta e quase impenetrável que se abateu sobre o castelo que, à medida que o ferry se aproximava de Helsinborg do lado de lá do mar, se tornava uma mancha informe e irreconhecível, só podia ser maldição, Hamlet não deixa as coisas por menos. Imprevisto mas belo. Como o viajar.
E o teu texto também :)
ResponderEliminarÉ tramado quando temos as coisas tão bem planeadas e esperadas na nossa cabeça e depois o tempo e sabe-se lá que mais prega-nos partidas...
(olha que já não sei se vou à Jamaica, assim! :oP)
Obrigada :)
ResponderEliminarEntrámos em 3 autocarros diferentes até chegar ao destino... mas claro que vale a pena.