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sábado, 25 de outubro de 2008

Vidas com música

Admito. Não foi de imediato que caí de amores por Havana. Cedendo há uns bons anos a mais um destino da moda, terei assim entrado no penúltimo ano do milénio, algures entre a chuva e o sol de Varadero. Frente fria, diziam eles. Muito pouco para quem aprecia mais que sol, céu límpido e águas cristalinas e não encontra em paraísos semelhantes, reservas de turistas rosados como leitõezinhos, o encanto pleno e compensação para as lentas, arrastadas, monótonas, insípidas e longas horas de avião na travessia do Atlântico. Em Havana apenas umas duas noites, um dia de clausura no hotel com algo que os cubanos apelidaram de catarro, muito pouco tempo, portanto, para deixar a cidade entrar em mim. Regressei resignada. Foi, pois, numa sessão da tarde numa sala tranquila de cinema que me reencontrei com o que havia perdido naqueles três dias a que os turistas estão condenados na sua condição. E, a sós na sala pequena com a tela que se abria como uma janela, entrei finalmente em Havana.
A história que conta Buena Vista Social Club é simples e conhecida. E que história contam os documentários, de resto? Vidas com música apagadas por um tempo passado e que lentamente se reencontram pela mão de Ry Cooder e a mestria de Wim Wenders. Os músicos outrora ilustres regressam do nevoeiro do esquecimento para encantar o mundo e cimentar o legado da música cubana. E, porque de um documentário se trata, ao contrário de Antes que anoiteça, a título de exemplo, o tempo é de recolhimento e de fruição da melodia, das vozes, dos sorrisos, da cor e do ritmo compassado da cidade decadente, nostálgica e surpreendentemente sedutora, do mar batendo no Malecón, sem juízos ou recriminações. Sentir primeiro. Buena Vista Social Club é uma viagem a uma das Havanas possíveis pela mão titubeante daquele grupo de músicos e uma viagem que os músicos encetam pela mão da sua própria música mundo fora com Ry Cooder e Wim Wenders a seu lado.



Ainda sobre Havana um texto antigo repescado.

5 comentários:

  1. Antes da Revolução era uma estância de férias luxuosa para servir a população rica retirada na Florida, com a atmosfera dos casinos, dos espectáculos e de uma arquitectura únca naquela região quase a criarem um quadradinho de Europa exilada.
    Beijinho, Querida Leonor

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  2. Gosto imenso desta música «caribeña», Leonor. É certamente da mistura do latino, do índio e do negro, com aquele balanço rítmico irresistível. :-)

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  3. É em momentos como este que nos confrontamos com o significado dos sentidos. Bem sei que faz toda a diferença já lá ter estado 3 vezes, mas mais que qualquer texto, por mais bem escrito, poético e envolvente que possa ter lido, este post (esta música) levou-me a Havana com arrepios o tempo todo... :D

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  4. Beijinho, Paulo, Havana é uma das minhas cidades preferidas, mas que não me atrevo a recomendá-la à toa. Nem todos gostam. Tem algo muito próprio.

    Esta música e o CD do filme acompanham-me há dez anos mal medidos, Luísa, sem nunca me cansar. Tenho quase tudo o que saiu posteriormente com cada uma dos elementos da formação inicial. Coisas que não se explicam. O Dos Gardenias comove-me sempre.

    Mike, estive duas vezes em Cuba e duas em Havana. A segunda estive só em Havana. Foi aí que me apaixonei pela cidade. O tempo e o espírito são fundamentais para nos deixarmos seduzir.

    Beijinhos a todos

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  5. Nunca estive Leonor .. mas depois de ler estes seus pedaços e de ter visto "havana Cidade Perdida" confesso vontade de visitar .. :)

    Beijinho e boa semana *

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