Os dias de invernia revelam mistérios insondáveis encobertos pela bruma. Um desses dias de frio pálido a revelação fez-se como epifania Vê lá tu que a minha mãe está cheia de tosse. As sogras, entre outras maleitas que variam em intensidade de acordo com a tipologia de sogra, têm tosse, portanto não me surpreendi, surpreendente é que não tenham tosse nem coisa alguma, e continuei com a minha vidinha não sem antes ter lamentado o facto. Muito bem. Terei acrescentado o habitual, sou rapariga parca em falas no que respeita a assuntos médicos e estados de saúde fragilizados por doenças de pouca monta, largo habitualmente um É fruto da época. Está muito frio ou Anda aí uma virose furiosa. Pois, pois, uma maleita danada. Uma gripe horrorosa, consoante os dias e a disposição e ando para a frente sem me perder em delongas e em lamentos pungentes e ladainhas lancinantes Não lhe passa. Está a tomar Azomyr mas não lhe passa a tosse. Tendo em conta que estava um frio de enregelar até o mais afoito ser invernoso não valorizei a verbalização mas fiquei em suspenso com a prontidão do nome oficial da mezinha contra estados calamitosos, aparentemente um antitússico que, pela desenvoltura, devia ter-me já sido apresentado antes. Não tinha. Não conhecia. Fiquei a cogitar de onde, como, quando e porquê surgira assim, sem mais e com inusitada rapidez, o nome de um fármaco, particularmente vindo de um ser para quem o estômago começava no estômago e se prolongava pelo abdómen e para quem os enigmas da medicina mais banal e quotidiana sempre foram mistérios tão insondáveis como Stonehenge ou a construção das Pirâmides. E hoje ele apareceu outra vez A tosse da minha mãe não passa. Nem com o Azomyr. Quanta intimidade. O tratamento coloquial e estreito. O que me incomodou foi o tu cá, tu lá com o dito antitússico, ainda por cima incompetente, a abordagem sem cerimónia nem salamaleques. Prevejo um estreitamento de relações com o Brufen, conversas de pé de orelha com o Benuron, tertúlias com o Clónix, bate-papos com o Aerius e conferências com Ciproxina, um dos antibióticos de largo espectro, fala-se muito neles nos dias que correm, algo me diz que são importantes.
Céus, levaste uma verdadeira ensaboadela de nomes de medicamentos!
ResponderEliminarOlha, pode ser que ainda te seja útil. Mas esperemos com muita força que não.
Xi-♥.
Só tu para escreveres tão bem sobre tosse e antibióticos :)
ResponderEliminarE se te serve de consolo, também nunca ouvi falar do Azomyr ;)
nem eu .. :) e faço minhas as palavras da "fantasma" * .. como de algo corriqueiro sai uma prosa deliciosa e sem sabor a remédio *
ResponderEliminarBeijinho Leonor
Leva-me o companheiro Google, oráculo, mestre e farol dos tempos modernos, à conclusão (via European Medicines Agency, haja credibilidade) de que o Azomyr é um medicamento aplicável à rinite alérgica, ou seja, eficaz contra sintomas entre os quais a tosse não se encontra...
ResponderEliminarRealmente, isso é caso para preocupação... se fosse aqui por casa, também achava muito estranho...
ResponderEliminarLevei nada, o nome dos medicamentos é de minha total responsabilidade. O pior é Azomyr, o medicamento que bem podia ser um título dum livro do Paulo Coelho, O Azomyr :-)
ResponderEliminarÉ preciso é tempo para escrever, fantasma e once :)
Pedro, está tudo explicado, então. As sogras também gostam de tomar medicamentos errados ;-)
Nem mais, fungaga, muito estranho mesmo :-)
Eu arriscaria a dizer que a sogra tinha um bom remédio, bastando que lesse este seu texto. Passava-lhe a tosse e começava a sorrir. :-)
ResponderEliminarPara além da escrita, Leonor, é o bem apanhado da situação. É que me acontece precisamente o mesmo e ainda não tinha dado por isso: uma perplexidade com as grandes intimidades – especialmente «masculinas» - com remédios. :-)
ResponderEliminarJá lhe passou a tosse, felizmente, Mike ;-)
ResponderEliminarAté fiquei preocupada com tanto conhecimento repentino, Luísa... ;-)
;)
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