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quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Tu cá, tu lá

Os dias de invernia revelam mistérios insondáveis encobertos pela bruma. Um desses dias de frio pálido a revelação fez-se como epifania Vê lá tu que a minha mãe está cheia de tosse. As sogras, entre outras maleitas que variam em intensidade de acordo com a tipologia de sogra, têm tosse, portanto não me surpreendi, surpreendente é que não tenham tosse nem coisa alguma, e continuei com a minha vidinha não sem antes ter lamentado o facto. Muito bem. Terei acrescentado o habitual, sou rapariga parca em falas no que respeita a assuntos médicos e estados de saúde fragilizados por doenças de pouca monta, largo habitualmente um É fruto da época. Está muito frio ou Anda aí uma virose furiosa. Pois, pois, uma maleita danada. Uma gripe horrorosa, consoante os dias e a disposição e ando para a frente sem me perder em delongas e em lamentos pungentes e ladainhas lancinantes Não lhe passa. Está a tomar Azomyr mas não lhe passa a tosse. Tendo em conta que estava um frio de enregelar até o mais afoito ser invernoso não valorizei a verbalização mas fiquei em suspenso com a prontidão do nome oficial da mezinha contra estados calamitosos, aparentemente um antitússico que, pela desenvoltura, devia ter-me já sido apresentado antes. Não tinha. Não conhecia. Fiquei a cogitar de onde, como, quando e porquê surgira assim, sem mais e com inusitada rapidez, o nome de um fármaco, particularmente vindo de um ser para quem o estômago começava no estômago e se prolongava pelo abdómen e para quem os enigmas da medicina mais banal e quotidiana sempre foram mistérios tão insondáveis como Stonehenge ou a construção das Pirâmides. E hoje ele apareceu outra vez A tosse da minha mãe não passa. Nem com o Azomyr. Quanta intimidade. O tratamento coloquial e estreito. O que me incomodou foi o tu cá, tu lá com o dito antitússico, ainda por cima incompetente, a abordagem sem cerimónia nem salamaleques. Prevejo um estreitamento de relações com o Brufen, conversas de pé de orelha com o Benuron, tertúlias com o Clónix, bate-papos com o Aerius e conferências com Ciproxina, um dos antibióticos de largo espectro, fala-se muito neles nos dias que correm, algo me diz que são importantes.

10 comentários:

  1. Céus, levaste uma verdadeira ensaboadela de nomes de medicamentos!
    Olha, pode ser que ainda te seja útil. Mas esperemos com muita força que não.
    Xi-♥.

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  2. Só tu para escreveres tão bem sobre tosse e antibióticos :)
    E se te serve de consolo, também nunca ouvi falar do Azomyr ;)

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  3. nem eu .. :) e faço minhas as palavras da "fantasma" * .. como de algo corriqueiro sai uma prosa deliciosa e sem sabor a remédio *

    Beijinho Leonor

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  4. Leva-me o companheiro Google, oráculo, mestre e farol dos tempos modernos, à conclusão (via European Medicines Agency, haja credibilidade) de que o Azomyr é um medicamento aplicável à rinite alérgica, ou seja, eficaz contra sintomas entre os quais a tosse não se encontra...

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  5. Realmente, isso é caso para preocupação... se fosse aqui por casa, também achava muito estranho...

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  6. Levei nada, o nome dos medicamentos é de minha total responsabilidade. O pior é Azomyr, o medicamento que bem podia ser um título dum livro do Paulo Coelho, O Azomyr :-)

    É preciso é tempo para escrever, fantasma e once :)

    Pedro, está tudo explicado, então. As sogras também gostam de tomar medicamentos errados ;-)

    Nem mais, fungaga, muito estranho mesmo :-)

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  7. Eu arriscaria a dizer que a sogra tinha um bom remédio, bastando que lesse este seu texto. Passava-lhe a tosse e começava a sorrir. :-)

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  8. Para além da escrita, Leonor, é o bem apanhado da situação. É que me acontece precisamente o mesmo e ainda não tinha dado por isso: uma perplexidade com as grandes intimidades – especialmente «masculinas» - com remédios. :-)

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  9. Já lhe passou a tosse, felizmente, Mike ;-)

    Até fiquei preocupada com tanto conhecimento repentino, Luísa... ;-)

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