De há um tempo a esta parte arquitecto na minha cabeça um folhetim de episódios vários já confessado aqui, uma espécie de literatura de cordel para ser vendida em fascículos lado a lado com o Borda da Água. Depois de ter aberto uma grande superfície comercial aqui perto, ir ao supermercado tem sido uma aventura. Há dias que me desloco numa intencional caça ao post ou à crónica. Nesses dias o atendimento corre sem incidentes, as crónicas e posts encolhem-se entre os frascos de espargos, já vi uma esgueirar-se entre as beringelas e as courgettes e outro dia apanhei um post pela cauda, ia já escapulir-se ligeirinho entre o detergente para a roupa e o amaciador. Agarrei-o in extremis e aprisionei-o às letras.
Neste dia não ia à caça ao post. Cansada depois de um dia de trabalho lancei-me nas compras tradicionais e cumpri com exactidão a declaração de intenções lavrada num diminuto papelito branco pela fugaz hora de almoço. Há sempre algo que escapa, porém, e quando me ia embora lembrei-me que me faltavam ovos, agarro pois uma embalagem de uma dúzia e dirijo-me à caixa. Nos tempos que correm, deixámos de ser donos e senhores no que respeita à arrumação das compras nos sacos de supermercado, suspeito que a razão se deverá a uma usurpação pungente dos ditos por parte da fauna hipermercadeira que os arruma aos magotes entre as compras, o português é detentor de uma incontrolável ímpeto usurpador caso lhe seja oferecido algo. Assim sendo, tenho-me visto privada desse momento e vejo as minhas compras a serem encafuadas nos sacos de acordo com os humores dos caixas que, à semelhança de outros espécimes da fauna lusa, têm humores muito diversos. Encontro ex-alunos sorridentes e bem-dispostos prontos a cumprimentar a ex-professora, outros mais tímidos, mulheres de carranca em dias difíceis, jovem inanes incapazes de juntar um mais um e outros espécimes sem classificação. O último destes encontrei-o neste mesmo dia, quando ao arrumar-me as compras, espetou-me a embalagem de uma dúzia de ovos, altiva, na vertical, provavelmente uma estratégia para aumentar as vendas. Quando chegasse ao carro nem as cascas se aproveitariam. É melhor pensar assim do que admitir que nos dias que correm a maior parte das pessoas que nos atendem não são capazes dos gestos mais básicos e confundem uma dúzia de ovos com uma baguete de pão.
Neste dia não ia à caça ao post. Cansada depois de um dia de trabalho lancei-me nas compras tradicionais e cumpri com exactidão a declaração de intenções lavrada num diminuto papelito branco pela fugaz hora de almoço. Há sempre algo que escapa, porém, e quando me ia embora lembrei-me que me faltavam ovos, agarro pois uma embalagem de uma dúzia e dirijo-me à caixa. Nos tempos que correm, deixámos de ser donos e senhores no que respeita à arrumação das compras nos sacos de supermercado, suspeito que a razão se deverá a uma usurpação pungente dos ditos por parte da fauna hipermercadeira que os arruma aos magotes entre as compras, o português é detentor de uma incontrolável ímpeto usurpador caso lhe seja oferecido algo. Assim sendo, tenho-me visto privada desse momento e vejo as minhas compras a serem encafuadas nos sacos de acordo com os humores dos caixas que, à semelhança de outros espécimes da fauna lusa, têm humores muito diversos. Encontro ex-alunos sorridentes e bem-dispostos prontos a cumprimentar a ex-professora, outros mais tímidos, mulheres de carranca em dias difíceis, jovem inanes incapazes de juntar um mais um e outros espécimes sem classificação. O último destes encontrei-o neste mesmo dia, quando ao arrumar-me as compras, espetou-me a embalagem de uma dúzia de ovos, altiva, na vertical, provavelmente uma estratégia para aumentar as vendas. Quando chegasse ao carro nem as cascas se aproveitariam. É melhor pensar assim do que admitir que nos dias que correm a maior parte das pessoas que nos atendem não são capazes dos gestos mais básicos e confundem uma dúzia de ovos com uma baguete de pão.
As pessoas não são melhores nem piores por ser mais ou menos arrumadas. Mas são-no, sem dúvida, pela maneira como arrumam as coisas, Leonor. E as pessoas que não têm quaisquer noções de espaço e de equilíbrio são, no mínimo, umas lambisgóias!!! ;-D
ResponderEliminarLambisgóias ou flausinas. Mas este post não deixa que confundamos umas dúzias de palavras com um texto de mão cheia. E não é que de repente me deu vontade de uma sandwich de ovo em baguete? ;-)
ResponderEliminarE estou sem vontade de ter qualquer noção de espaço ou equilíbrio... ainda bem que a Luísa não deve cá voltar, senão chamava-me lambisgóio. (risada)
lambisgóia! há muito tempo não "ouço" essa palavra!
ResponderEliminarbeijo
Espero que sim, Luísa, porque eu sou desarrumada. Aqui a questão é apenas o bom senso que parece ter desaparecido por completo. Quanto ao resto acho que não, pobres desses então :-)
ResponderEliminarA si e a mim, Mike. Somos uns lambisgóios, e já agora esperemos que a minha mãe não venha também senão vai perguntar-me que raio de palavra é essa "lambisgóios"... :D
Martha, por isso é bom vir aqui vistar-me :-)
Cá estou eu! Mas não para referir "lambisgóios" - simples liberdade linguística :)- nem para falar das vírgulas - não tenha medo Mike :). Só para registar que me ri com o episódio tão bem descrito, como sempre. Quantas vezes já sucedeu comigo, que lhes vou dizendo "olhe, é melhor pôr aqui" ou " deixe que eu arrumo, obrigada"; o resultado é, por vezes, um olhar algo indignado ou, então, fingem nem ouvir ...
ResponderEliminarJinhos
LOL
ResponderEliminarNão falha a minha mãe :-)
Mike, ó Mike, chegue aqui, por favor :-)
Cá estou eu. Chego a medo e a Leonor e a Teimosita podem ter a certeza que não usarei uma única vírgula neste comentário. (gargalhada)
ResponderEliminarAndasse eu à caça de post e destes nunca poderia escrever. Recuso sempre os sacos no super-mercado quando estou em Portugal. (Aflige-me o desperdício causado pelos caixeiros.) Meto tudo nos sacos azuis do Ikea.
ResponderEliminarE fazes tu muito bem, Carlota
ResponderEliminarRealmente, é bom vir te visitar!
ResponderEliminarLambisgóia foi uma palavra muito usada na minha infância nas brigas: Sua lambisgóia!Era um bom xingamento, ofendia bastante.
;) beijo
Lambisgóias e flausinas dão invariavelmente bons posts na tua "caneta", Leonor. Valha-nos isso, assim sempre têm alguma utilidade!
ResponderEliminarAqui também é usada para xingar, Martha :-)
ResponderEliminarTal como digo na crónica que linko ainda irei escrever a Série Lambisgóia, Ana :-)