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sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

A recuperação e as provas

As carteiras de senhora são um labirinto insondável, albergam mistérios e tralhas em número excessivo. Descobrir o que se procura pode ser uma tarefa hercúlea levada a cabo com tacto e persistência. O telemóvel tocava, insistente, num final de tarde em que acabava de deixar a escola. Para trás o dia que se aconchegava no crepúsculo gélido mas luminoso, o chilreio de adolescentes em delírio e a sala de professores pontilhada de rostos pessimistas. Para trás, tudo, então, o tempo que se afirmava peremptoriamente de tranquilidade e aconchego entre os livros e a lareira, a preguiça das gatas na arte de nada fazer, só os felinos o conseguem com mestria. Encontro finalmente o telemóvel, após tentativas infrutíferas. A um número desconhecido correspondeu uma voz igualmente desconhecida. Quem seria? Do lado de lá soava alguma inquietação e ansiedade. Reconhecida então a voz, a conversa foi correndo com sucessivas tentativas de acalmar a mãe da minha aluna: a burocracia não deve sobrepôr-se às partidas que a saúde ou falta dela pregam, tento convencer-me, tudo se resolverá, pois, tento acalmá-la, tudo tem solução. Depois de ter sido submetida a uma intervenção cirúrgica delicada e de recuperação lenta, a minha aluna ficará retida em casa por um tempo que se adivinha longo. Desencadeados mecanismos para colmatar a ausência forçada das aulas, acresce a inquietação de fazer provas de recuperação a todas as disciplinas assim que regressar à escola e que constituem apenas aquilo que tão bem se faz neste país: burocratizar o sistema. Nada me oporia às provas caso ela, e outros como ela, se tivessem entretido no café em frente à escola em vez de ir às aulas. O absentismo não deve ser premiado em circunstância alguma. Em caso de doença comprovada não são senão uma enorme injustiça.

7 comentários:

  1. As cabeças dos miúdos andam como a carteira das senhoras.

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  2. sem dúvida .. há tempos em conversa com a Directora de Turma da minha filha chegámos a essa mesma conclusão.

    Vale aos seus alunos uma professora assim Leonor .. assegurando que tudo tem solução :)

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  3. Imagino, Patti.

    Não tem lógica nenhuma esta história das provas em caso de doença.
    Não faço nada de mais, Once, se eu, como professora, não for capaz de ar ânimo nesta situação, muito mal vão as coisas.
    Beijinho

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  4. Hum... acho que a Leonor fez muito bem. Mas quanto à história das provas em caso de doença... ele há gente muito sabida e às vezes não há outra solução senão pagar o justo pelo pecador. Infelizmente.

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  5. Doença, Mike, é doença mesmo, assim como esta. Dores de cabeça e menstruais, o pão nosso de cada dia, não contam. Não é muito difícil distinguir.

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  6. Ok aceito, mas mesmo assim... ;-)

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  7. Eu também compreendo o seu ponto de vista, Mike :-)

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