Na aldeia existe um código desconhecido a forasteiros e transeuntes de ocasião, um acordo não verbal, escrito em lado algum de que se tenha memória que dita de forma oculta as regras de conduta rodoviária. Desengane-se quem, em tempo de passeio ou de volta domingueira de arejamento da indumentária sagrada, ousar pensar que, entrando pelas ruas estreitas do vilarejo, está em posse dos conhecimentos basilares para circular em segurança. Na aldeia reina quem está na aldeia e quem está na aldeia reina como entende: os ritmos impostos pelo remanso dos vagares e algum sossego. Na aldeia, não impera a preguiça, impera a sua própria cadência e nesta cadência idiossincrática não cabem as normas e prescrições dos afobados condutores citadinos a espumar pelos escapes o fumo do stress da urbe sempre marcado pelo fortissimo vivacissimo das correrias destemperadas.
Na aldeia, um sentido proibido é um sentido proibido, regra respeitada sem discussões ou transgressões conhecidas mas um estacionamento proibido nem sempre é estacionamento proibido. Há dias em que é proibido, outros em que as riscas amarelas servem apenas o propósito de quebrar a monotonia do asfalto acinzentado e outros ainda que são cabalmente ignorados, tão ignorados que se lhes estaciona por cima. Nos dias em que anda à roda a clientela da tabacaria espraia-se tabacaria afora, nesses dias o estacionamento proibido não é estacionamento proibido, a sorte pode ser uma urgência, nos dias em que há missa é maioritariamente ignorado e nos dias em que há velórios na igreja idem. Razões de monta evidentemente. Contudo, em dias de muita chuva ou muito sol os estacionamentos proibidos observam o mesmo lastro de permissividade. Se chove não há tempo para delongas e se está sol para quê ter tanta pressa.
Para viver na aldeia é preciso largar à porta os espartilhos da condução orientada pelo tempo limite de deslocação entre um ponto e outro. Atestei-o quando num dia passado me fiz à aldeia vinda da cidade, envolta num furioso incandescente de semáforos e passadeiras. Movida a frenesi urbano e ainda com o fumo dos escapes presente na pituitária, ousei entrar irrequieta na ruela estreita para desembocar na igreja. À minha frente um carro branco pausado e lento. Sem aviso prévio parou na faixa de rodagem e condutor e transeunte encetaram o que parecia ser uma conversa amistosa, o sol de fim de tarde convidava à cavaqueira inconsequente. Exasperei de impaciência, refilei de incompreensão e enraiveci de intolerância. Tudo isto sozinha no meu carro, enquanto a conversa continuava absolutamente alheia e indiferente ao meu desesperar colérico e, quando terminaram, fui ainda simpaticamente cumprimentada pelo condutor sorridente. Melhor do que qualquer livro de auto-ajuda a aldeia convida a um dos ensinamentos que tenho como válidos para os dias de correria desvairada: há que saber parar.
Na aldeia, um sentido proibido é um sentido proibido, regra respeitada sem discussões ou transgressões conhecidas mas um estacionamento proibido nem sempre é estacionamento proibido. Há dias em que é proibido, outros em que as riscas amarelas servem apenas o propósito de quebrar a monotonia do asfalto acinzentado e outros ainda que são cabalmente ignorados, tão ignorados que se lhes estaciona por cima. Nos dias em que anda à roda a clientela da tabacaria espraia-se tabacaria afora, nesses dias o estacionamento proibido não é estacionamento proibido, a sorte pode ser uma urgência, nos dias em que há missa é maioritariamente ignorado e nos dias em que há velórios na igreja idem. Razões de monta evidentemente. Contudo, em dias de muita chuva ou muito sol os estacionamentos proibidos observam o mesmo lastro de permissividade. Se chove não há tempo para delongas e se está sol para quê ter tanta pressa.
Para viver na aldeia é preciso largar à porta os espartilhos da condução orientada pelo tempo limite de deslocação entre um ponto e outro. Atestei-o quando num dia passado me fiz à aldeia vinda da cidade, envolta num furioso incandescente de semáforos e passadeiras. Movida a frenesi urbano e ainda com o fumo dos escapes presente na pituitária, ousei entrar irrequieta na ruela estreita para desembocar na igreja. À minha frente um carro branco pausado e lento. Sem aviso prévio parou na faixa de rodagem e condutor e transeunte encetaram o que parecia ser uma conversa amistosa, o sol de fim de tarde convidava à cavaqueira inconsequente. Exasperei de impaciência, refilei de incompreensão e enraiveci de intolerância. Tudo isto sozinha no meu carro, enquanto a conversa continuava absolutamente alheia e indiferente ao meu desesperar colérico e, quando terminaram, fui ainda simpaticamente cumprimentada pelo condutor sorridente. Melhor do que qualquer livro de auto-ajuda a aldeia convida a um dos ensinamentos que tenho como válidos para os dias de correria desvairada: há que saber parar.
Esta crónica escrita para o PNETMulher foi inspirada pelo Mestre José Franco que se me atravessou no caminho num dia de correria desenfreada. Repesquei-a hoje no dia em partiu e deixou a aldeia mais pobre.
Há sim, senhora, Leonor. Há que saber parar... mas também é preciso saber tanta coisa para saber quando parar...
ResponderEliminarEstá tudo ligado :-)
ResponderEliminarRefere-se ao José Franco, oleiro do Sobreiro?
ResponderEliminarExactamente, James
ResponderEliminarLindo...
ResponderEliminarObrigada e bem-vinda
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