Faço parte daquela espécie de portugueses que cresceu com os livros de Jorge Amado, ainda do tempo em que eram proibidos pela censura e que chegavam às mãos dos meus pais através da tia carioca. Desse tempo é também José Mauro de Vasconcellos e depois desse tempo a literatura brasileira passou a fazer parte integrante das minhas preferências literárias. Não há viagem ao Brasil sem um périplo pelas livrarias. Já dei por mim a arrumar os livros numa livraria em Maceió, a tentar entender uma ordem que me apareceu obscura em Natal até ter percebido que os livros estavam arrumados pelo primeiro nome do autor e não pelo apelido e a escapulir-me dentro de um centro comercial apenas para poder comprar mais um livro, aquele mesmo que tanta falta me fazia. Frequentemente vem-me à memória o primeiro livro que comprei na Livraria da Travessa em Ipanema, Rio de Janeiro, Carnaval no Fogo de Ruy Castro: a experiência matricial numa livraria com estantes de madeira e empregados solícitos na mais bela cidade do meu mundo. Não há viagem a Terras de Vera Cruz em que não venha a abarrotar de livros que me alimentam as longas noites de Inverno e perfumam a esperança de dias mais quentes e tropicais. Quando soube, consequentemente que o Brasil iria ser o país convidado na Feira do Livro, comecei a salivar esperançosamente, as capas, os livros, a possibilidade que se me abria de comprar livros de autores brasileiros em edições brasileiras, quem sabe não iria descobrir escritores novos e certamente teriam o livro que me tem deixado em suspense na ansiedade de o devorar e ter entre mãos.
Sábado soalheiro e escaldante. Dirijo-me aos pavilhões do Brasil para satisfazer o meu desejo. Fui informada de que havia livros de autores brasileiros na representante habitual em Portugal e, depois de atravessar o parque, dei de caras com a editora. Os livros brasileiros ocupavam um espaço ínfimo, ainda consegui vislumbrar do lado de lá alguns livros do Drummond. Nada de novo, portanto, motivo suficiente para uma rotunda desilusão. Não seria de esperar um maior oferta tendo em conta o país convidado? Entretanto, um homem não muito jovem acorreu em meu auxílio, ter-me-á visto de cabeça esticada a tentar decifrar as lombadas, e após a habitual procura nas estantes decidiu-se Não tenho, mas espere que vou perguntar se há no armazém. Seguiu-se uma troca curiosa de palavras. O homem perguntava-me se eu tinha internet, que podia pedir pela internet, que também podia ir à livraria, era mesmo ali, para ir lá. Ora uma mulher tem os seus limites e nunca vi alguém estar em plena Feira do Livro e sugerirem-lhe que mandasse vir o livro pela internet ou que fosse à livraria. O meu desagrado pelo insólito começava a notar-se. Livraria? Internet? Entretanto aproximou-se um homem mais jovem. Que ia ver se tinha no armazém. Pedi-lhe então que me reservasse um exemplar de Leite Derramado de Chico Buarque, caso houvesse, e que passaria um dia desta semana para o ir buscar. O homem não se deu por achado. Não era preciso. Não era preciso deixar nome. Ia ver e se houvesse trazia uns para a feira. Tentei explicar em vão que queria mesmo o livro e que não queria correr o risco de que fosse vendido antes de eu lá ir. O homem menos jovem insistia na internet, também na livraria, ali, é mesmo ali. O mais jovem acrescentou que segunda-feira de manhã me ligaria então, sem falta nenhuma. Hoje é quarta-feira e, pelo caminho e sintomático silêncio, não só não há Leite Derramado, como temos o caldo entornado.
Sábado soalheiro e escaldante. Dirijo-me aos pavilhões do Brasil para satisfazer o meu desejo. Fui informada de que havia livros de autores brasileiros na representante habitual em Portugal e, depois de atravessar o parque, dei de caras com a editora. Os livros brasileiros ocupavam um espaço ínfimo, ainda consegui vislumbrar do lado de lá alguns livros do Drummond. Nada de novo, portanto, motivo suficiente para uma rotunda desilusão. Não seria de esperar um maior oferta tendo em conta o país convidado? Entretanto, um homem não muito jovem acorreu em meu auxílio, ter-me-á visto de cabeça esticada a tentar decifrar as lombadas, e após a habitual procura nas estantes decidiu-se Não tenho, mas espere que vou perguntar se há no armazém. Seguiu-se uma troca curiosa de palavras. O homem perguntava-me se eu tinha internet, que podia pedir pela internet, que também podia ir à livraria, era mesmo ali, para ir lá. Ora uma mulher tem os seus limites e nunca vi alguém estar em plena Feira do Livro e sugerirem-lhe que mandasse vir o livro pela internet ou que fosse à livraria. O meu desagrado pelo insólito começava a notar-se. Livraria? Internet? Entretanto aproximou-se um homem mais jovem. Que ia ver se tinha no armazém. Pedi-lhe então que me reservasse um exemplar de Leite Derramado de Chico Buarque, caso houvesse, e que passaria um dia desta semana para o ir buscar. O homem não se deu por achado. Não era preciso. Não era preciso deixar nome. Ia ver e se houvesse trazia uns para a feira. Tentei explicar em vão que queria mesmo o livro e que não queria correr o risco de que fosse vendido antes de eu lá ir. O homem menos jovem insistia na internet, também na livraria, ali, é mesmo ali. O mais jovem acrescentou que segunda-feira de manhã me ligaria então, sem falta nenhuma. Hoje é quarta-feira e, pelo caminho e sintomático silêncio, não só não há Leite Derramado, como temos o caldo entornado.
também no Delito de Opinião
:(
ResponderEliminare não digo mais nada, saindo muito de fininho ...
Noto por aí alguma ironia, Patti ;-)
ResponderEliminarAgora a sério, não se compreende.
É verdade, parece coisa de terceiro mundo.
ResponderEliminarEu li em qualquer lado, que o livro do Chico seria editado cá, lá para o final do ano.
Vou mandá-lo vir do Brasil um destes dias pela Livraria Cultura. Aproveito o conselho do vendedor da Feira do Livro :-)
ResponderEliminarQue conselhos mais disparatados, realmente. Isso também nós sabemos.
ResponderEliminarAfinal vai-se a uma feira do livro para quê?
Precisamente. Quando dei por mim, estava irritada com a situação. Ainda argumentei isso mesmo, mas nada do lado de lá. Não devem perceber o conceito de Feira do Livro
ResponderEliminarQue delícia de caldo este que a Leonor entornou. :)
ResponderEliminarDiz a Patti que parece coisa de terceiro mundo... e nós estamos onde, válhamedeus?
ihihihihih! quase sinto a fumaça de fúria que se solta desse caldo entornado!
ResponderEliminar;)
Realmente, ir à Feira e dizerem-te para encomendares na internet, é assim uma coisa do outro mundo :oS
ResponderEliminarEu ainda lá não fui...
(and now for something completely different, já viste o meu blog? ;)
Não é do outro mundo, Fantasma, é do terceiro mundo. (risos)
ResponderEliminarNem me diga, Mike, aqui entre nós, quando dei por mim já estava a falar mais alto ao homem de tanta irritação. ´
ResponderEliminarJá se sente aí na Big Apple, Sinapse? ;-)
Já lá fui, fantasminha, que fofas :-)