Domingo de manhã é um dia improvável para visitas ao supermercado. Contudo acontece, raramente, mas acontece e por isso neste Domingo cumpriu-se a improbabilidade e a excepção.
Entre o burburinho que presumo habitual, uma fila desencorajadora no peixe e os carrinhos a abarrotar, cruzei-me com uma mãe carregando o filho de um lado e o carrinho de compras no outro. O ar de desânimo e estafa no rosto da mulher bem jovem denunciam o suplício que passará entre dois pólos da sua existência, a vida doméstica de um lado, e do outro, a maternidade, empurrada como quem empurra o mundo, o contraste infeliz com a manhã tépida e apaziguadora de sol. Mais um volta e ouço o grito de uma outra mãe, o eco lá para o corredor das bolachas Francisco! Ó Francisco! e depois a reincidência num tom ainda mais elevado Francisco! Avisto entretanto o Francisco, uma criança de uns quatro, cinco anos previsivelmente, a empurrar o carrinho de compras, cada vez mais alheado ao chamamento da mãe. Impávido e sereno o Francisco seguia o seu caminho como se nada, rigorosamente nada, fosse. Francisco! Desta feita, o Francisco ia já bem ligeiro a afastar-se da vista da mãe. A progenitora acorreu à criança para que não a perdesse de vista e arremessou-lhe com mais uma ralhadelas sonoras, a que o Francisco correspondeu com uma altaneira ignorância do alto da sua ínfima idade. Francisco, o que é que tínhamos combinado? Nada. Mãos adentro de uma prateleira, ia lampeiro buscar algo da sua preferência. Já que o obrigaram a ficar pelo menos traria algo consigo. Mais uma admoestação e nada. A mãe corre lesta para o carrinho, furiosa e descontrolada, e retira algo a que o Francisco finalmente reage com o choro imediato. A mãe, com o desespero estampado no rosto, cede e diz-lhe Então pronto! Surpreendente que aos quatro, cinco anos aquela mãe não consiga impor-se, ceda às chantagens do pequenote e que fique desesperada. Menos surpreendente é, pois, que quando adolescentes não lhes consigam fazer nada.
Entre o burburinho que presumo habitual, uma fila desencorajadora no peixe e os carrinhos a abarrotar, cruzei-me com uma mãe carregando o filho de um lado e o carrinho de compras no outro. O ar de desânimo e estafa no rosto da mulher bem jovem denunciam o suplício que passará entre dois pólos da sua existência, a vida doméstica de um lado, e do outro, a maternidade, empurrada como quem empurra o mundo, o contraste infeliz com a manhã tépida e apaziguadora de sol. Mais um volta e ouço o grito de uma outra mãe, o eco lá para o corredor das bolachas Francisco! Ó Francisco! e depois a reincidência num tom ainda mais elevado Francisco! Avisto entretanto o Francisco, uma criança de uns quatro, cinco anos previsivelmente, a empurrar o carrinho de compras, cada vez mais alheado ao chamamento da mãe. Impávido e sereno o Francisco seguia o seu caminho como se nada, rigorosamente nada, fosse. Francisco! Desta feita, o Francisco ia já bem ligeiro a afastar-se da vista da mãe. A progenitora acorreu à criança para que não a perdesse de vista e arremessou-lhe com mais uma ralhadelas sonoras, a que o Francisco correspondeu com uma altaneira ignorância do alto da sua ínfima idade. Francisco, o que é que tínhamos combinado? Nada. Mãos adentro de uma prateleira, ia lampeiro buscar algo da sua preferência. Já que o obrigaram a ficar pelo menos traria algo consigo. Mais uma admoestação e nada. A mãe corre lesta para o carrinho, furiosa e descontrolada, e retira algo a que o Francisco finalmente reage com o choro imediato. A mãe, com o desespero estampado no rosto, cede e diz-lhe Então pronto! Surpreendente que aos quatro, cinco anos aquela mãe não consiga impor-se, ceda às chantagens do pequenote e que fique desesperada. Menos surpreendente é, pois, que quando adolescentes não lhes consigam fazer nada.
Também no Delito de Opinião
Essa mãe ainda não entendeu duas coisas:
ResponderEliminar1ª - As crianças muito pequenas não vão ao supermercado.
2ª - Se têm que ir porque não há onde as deixar, educam-se para a "viagem ao mundo do consumo".
Como a mãezinha acha giro passear o petiz no meio de prateleiras e não tem estofo para dizer "não", acontece que faz figuras ridiculas que, mais grave, acha que são normais!!!
O problema principal é a mãe não conseguir dizer não e impor-se. A criança tentou descontrolá-la, ignorando-a, e ela consentiu. Do piorio, o desespero da mulher.
ResponderEliminarCrianças como o Francisco não aprendem o significado do não. Aprendem sim, a ausência de limites,o valor da chantagem e a invalidade das regras. Excelentes, os adultos que andamos a criar...
ResponderEliminarEu não me conseguia aguentar... não tenho mesmo feitio para andar a chamar por Franciscos.
ResponderEliminar:)
Beijos!
Exactamente, Cristina, O que mais me arrepiou foi o desespero da mãe. Compreendo obviamente que as crianças façam birras mas isto não era uma birra, era uma exibição de falta de respeito e educação.
ResponderEliminarAcho que não precisavas de chamar por Franciscos, fantasminha ;-)
Leonor, tenho que lhe confessar que ri com o seu texto (que não era para ser cómico). E ri-me mais por ter pensado que um dia será professora do Francisco. (Acho que a Leonor não me vai perdoar)... (sorriso amarelo e aflito)
ResponderEliminarNem me diga, Mike, e cá para mim, deve haver uma grande probabilidade de encontrar o Francisco.. ;-)
ResponderEliminarpois
ResponderEliminarcomo se um choro fosse passaporte para o que quer que seja
depois admiram-se
e ensinar os pais a serem pais?
ensinar?! nã, dá mto trabalho; dizer-lhes como ser pais, impor, mas para isso era preciso uma ditadura; é que se confunde democracia com balda e direito a fazer tudo, mesmo chorar para em troca se ter tudo o que se quer
sou prof universitário
avisei que não admitia que entrassem depois dos 10 minutos de tolerância (entravam a qq hora e momento a fazer barulho, ao tm, a cumprimentarem-se... you name it); vi-lhes nos olhos a incredulidade do "está bem está"
mas aprenderam rapidamente a entrar a tempo ou a não se darem ao trabalho de entrar qdo comecei a expulsar todos sem excepção que entravam depois da tolerância dos 10 minutos; os primeiros saíam de olhos arregalados sem acreditar, mas aprenderam
não há pachorra para más-criações e faltas de respeito
Olá Pedro, seja bem-vindo :-)
ResponderEliminarNo ano lectivo passado aconteceu-me um fenómeno que muito me irritava e que era comum a duas turmas. Quando falava com os alunos, em especial quando os advertia, ignoravam-me. Foi preciso ser muito dura e ameaçá-los que os poria na rua se voltassem a fazer o mesmo para nunca mais acontecer. Na quinta-feira dar-lhes-ei a última aula e sei que vou ter saudades deles, porque uma vez ultrapassada esta questão mostaram ser garotos simpáticos e amorosos. Isto para lhe dizer que o entendo muitíssimo bem e que ainda vai havendo solução, mas para tal é precisa muita firmeza e autoridade. O que não entendi foi como é que chegaram ao décimo ano assim.
Volte sempre, Pedro
O facto é que muitas mães estão demasiado estafadas para impor algo à criança... criança esta que passa mais de metade da sua curta existência sem a mãe....e quando está a mãe esta demasiado ocupada com o jantar, com a roupa, com as compras.....
ResponderEliminarinfelizmente há poucas crianças que passam tempo de "luxo" com a mãe....
antes de educar, estas mães precisam de ser educadas!
andava a vaguear e encontrei este blog.... parabéns!
ResponderEliminarBem-vinda, Bi :-)
ResponderEliminarSim, eu compreendo que o quotidiano é difícil, sou professora e infelizmente lido com situações em que os pais, não todos, apesar da boa vontade, não têm tempo. A questão é que há que ser firme e não desistir, nem deles nem de nós.
Beijinho e volte sempre
E o mais grave é que na escola quando há queixas aos pais sobre os Franciscos, estes tendem cada vez mais a acreditar no seus Franciscos do que nos professores e/ou auxiliares. Vejo-o todos os dias, também sou professor, mas de Educação Física no 1º ciclo.
ResponderEliminarExctamente, Viagens. Esse é outro fenómeno curioso, os pais deixaram de dar aqueles lastro que os pais devem dar e, embora amem os filhos, não deviam nunca esquecer-se que são crianças ou adolescentes e que viram as histórias à sua maneira.
ResponderEliminarComo mae de duas criancas pequenas vou deixar aqui as minhas achegas.
ResponderEliminar1-Ninguem gosta de andar a passear criancas no supermercado, mas muitas vezes nao ha opcao.
2-Estamos sempre presas por ter cao presas por nao ter, se por acaso a mae contrariasse o Francisco e ele desatasse num grande pranto ou numa fita enorme ia haver sempre as boas almas que iam por-se a lancar um olhar de reprovacao porque a criancinha estava a ser maltratada e vai ficar "traumatizada".
Infelizmente o que me parece estara acontecer e que estamos numa sociedade cada vez menos habituada a criancas pequenas
Como mae de duas criancas pequenas vou deixar aqui as minhas achegas.
ResponderEliminar1-Ninguem gosta de andar a passear criancas no supermercado, mas muitas vezes nao ha opcao.
2-Estamos sempre presas por ter cao presas por nao ter, se por acaso a mae contrariasse o Francisco e ele desatasse num grande pranto ou numa fita enorme ia haver sempre as boas almas que iam por-se a lancar um olhar de reprovacao porque a criancinha estava a ser maltratada e vai ficar "traumatizada".
Infelizmente o que me parece estara acontecer e que estamos numa sociedade cada vez menos habituada a criancas pequenas
A questão não é falta de habituação a crianças pequenas. Não tenho rigorosamente nada contra crianças no supermercado ou em lado algum, não pertenço aquele grupo que se sente incomodado com a presença de crianças. Sinto-me incomodada com a presença de gente mal-educada, adultos ou crianças. Como já referi aqui ou no Delito, as crianças são crianças, não pequenos adultos, em momento algum espero que o sejam, mas é do mais elementar bom senso que as mães não se deixem dominar pelos filhos. O que presenciei não foi uma birra, foi um acto de domínio da criança sobre a mãe, incapaz de tomar controlo da situação. A criança naturalmente jogou com isso.
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