Páginas

terça-feira, 12 de maio de 2009

Palavras

As homenagens raramente são feitas de visitas ao cemitério. As homenagens ao meu pai são momentos e palavras partilhadas ou apenas sentidas sem que de tal dê sinal, sem alaridos ou exuberâncias, exactamente como sei que ele gostaria, amante confesso da vida singela prenhe de afectos e amor, caminho único que conheci para lhe chegar à alma. As homenagens ao meu pai são os momentos íntimos que guardo na morrinha dos dias longos e breves. Momentos sem alvoroços e choros. Um vinho que se bebe, o do seu agrado, os livros que afago e leio, as palavras que ainda julgo que me dirige quando me falta, falta-me sempre, o sorriso que relembro, gestos quotidianos embrulhados em silêncios longos e ausências dolorosas invisíveis aos demais, inaudíveis a todos. As homenagens ao meu pai raramente se cumprem em visitas ao cemitério. Hoje no dia em que faria anos preferi dedicar-lhe palavras. Estas. Não murcham como as flores.

14 comentários:

  1. Um beijo grande. Daqui a oito dias vou ser eu com (mais) saudades.

    ResponderEliminar
  2. Saudades destas deviam ser proibidas!!!! Beijos

    ResponderEliminar
  3. Nem as leva o vento, mesmo em dia de vendaval, Leonor. Um abraço a si e à sua mãe. As minhas saudades, por incrível que pareça não gosto desta palavra, vão chegar antes das da Mad. Daqui a 5 dias faz 3 anos que ele partiu, esse pirata. (Leonor, não sei lhe peça para apagar este comentário, não vá ele lê-lo). ;)

    ResponderEliminar
  4. Obrigada, Mike. Fica registada a deferência através do uso dessa palavra malvada. Cá para mim, os pais rondam os blogues, mas se o meu cá aparecer, nem quero pensar... a esta hora já moeu o juízo ao S. Pedro com a minha falta de vírgulas, estrangeirismos, "estória" assim escrito, e se me apanhou algum stress escrito com -e no fim nem imagino o que terá sido por aquela eternidade... É que a minha mãe, comparada com ele, é a bondade em pessoa no que toca a vírgulas e outras imperfeições ;-)
    Beijos, Mike

    ResponderEliminar
  5. Esta é a prova, Leonor, de que os pais nunca morrem.
    Um beijinho.

    ResponderEliminar
  6. São estas saudades, vestidas de pequenos rituais, apenas descodificados pelos nossos afectos que tornam a existência de pai num momento perpétuo.


    Um abraço de quem reconhece na sua, a minha saudade.

    ResponderEliminar
  7. São estas as melhores homenagens...

    ResponderEliminar
  8. Podias estar a falar do meu, tão parecidos que eram pelas tuas palavras... engraçado.
    As minhas homenagens também não passam nunca pelo cemitério, até porque ele não está lá. Nunca esteve, aliás.

    Como diz a miúda lá em cima, não tarda nada estamos nós a falar em saudades. É para isso, sobretudo, que servem as datas (que deviam ser proibidas, como as saudades)

    Um beijo

    ResponderEliminar
  9. Beijo também ao Mike, já agora. Não sabia que se herdava a pirataria... :-)

    ResponderEliminar
  10. Obrigada a todos pelos comentários. As palavras perpetuam a memória.

    ResponderEliminar
  11. Um abraço Leonor! E as saudades nunca passam. Ficam apenas mais redondas.
    :))

    ResponderEliminar
  12. Querida, que definição linda, linda, de saudade...
    estou emocionada. vc descreveu com muita beleza um sentimento meu.
    um beijo
    M.

    ResponderEliminar
  13. Que bem dito, Maria do Sol, mais redondas doem menos.
    Beijinho

    Martha, eu sei que infelizmente me entende.
    Beijo

    ResponderEliminar

Comments are welcome :-)