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terça-feira, 30 de junho de 2009

A derradeira


E passaram sessenta e uma semanas, houve uma semana em que escrevi duas crónicas, e assim derramei no papel e ecrã sessenta e duas crónicas, a módica quantia de mais de cento e cinquenta e cinco mil caracteres escritos sempre ao mesmo dia da semana, sensivelmente à mesma hora, sem qualquer ritual digno desse nome nem sequer imbuída do espírito místico da inspiração transcendental. Apenas eu sentada ao computador que após uma incursão furiosa sobre a temática a que me iria cingir e abordar na segunda-feira seguinte, para que a crónica pudesse invadir o espaço cibernético na terça-feira, me desmultiplicava em ideias e letras.

Ide ao PNETMulher uma última vez.

imagem: Conrad Knutsen

domingo, 28 de junho de 2009

Memorando

Agora que mudei a cara ao blogue está na altura de recomeçar a escrever.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Leituras

Luanda, já o disse, é um alfobre de personagens insólitos.

José Eduardo Agualusa, Barroco Tropical.

Luanda e o livro, diria eu.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Cronicando pela 61ª vez


O Verão, o Cristiano Ronaldo, a Dona Dolores, as amigas do Ronaldo e a crise estão juntos na mesma crónica.
Ide espreitar.


imagem: David Hockney, The Bigger Splash

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Palavras inúteis

Três horas e meia, três horas e meia bem medidas eram tudo o que tinha para ver a cidade. Refiz as contas e num assomo de optimismo elaborei uma lista mental do que se poderia fazer. Com sorte, uma volta de autocarro aberto pela cidade fazendo pela enésima vez figura de turista sem que isso me deixasse a menor mágoa ou constrangimento, não me teria deixado também naquele Agosto cálido de céu azul iluminando a velha Albion. Assim pensei, lamentando a fugacidade daquelas horas, enquanto via a paisagem pela janela de comboio que tranquilamente me levaria à cidade dos Beatles, inscrita na minha memória como tal, vagamente também a cidade industrial incaracterística, sem pontos de atracção que não fossem o quarteto mais famoso da história e os lugares que imortalizaram em melodias sem data nem idade. Cruzei os braços sobre a mesa à minha frente. O calor dentro da carruagem convidava a uma soneca rápida ritmada pela cadência do comboio, a cabeça sobre os braços e o embalo do ritmo dolente. E o calor. Muito calor. E a lentidão. Que lentidão. E as três horas e meia na cidade e o autocarro de tecto aberto vermelho com letras inscritas Citysightseeing Liverpool a passar-me à frente, eu a vê-lo como se vê um comboio em movimento lento de partida enquanto ficamos estáticos no cais de embarque. O tempo, sempre o tempo, a escassear-me entre as mãos até o comboio onde seguia ter parado na estação, logo após Manchester. Um calor abrasador e uma marcha excessivamente lenta obstaram aos meus planos, a avaria implacável far-me-ia riscar Penny Lane da minha lista de intenções e das quase quatro o tempo foi retirando horas, uma, duas, três. Meia hora. Meia hora entre comer algo rápido e deixar-me respirar o perfume da cidade, espreitar os habitantes, ver como seriam, como falavam, tão lá a Norte. Ponho pé na estrada, o centro é ali mesmo, dizem-me, e vou sem discutir ou regatear. Do lado esquerdo um museu grandioso, agora feito inútil pela minha falta de tempo, que faria ali agora? Contorno a direita, atravesso a rua, carros de um lado e de outro, o Citysightseeing Liverpool passa-me à frente, três carros atrás um outro autocarro a abarrotar de turistas e deixo-me enlear pelo sol escaldante e céu brilhante e límpido enquanto avisto o centro da cidade, uma praça quadrangular cheia de transeuntes abafados pelo calor impiedoso a Norte. E dou uma volta. Crianças que brincam num túnel de fios de água. Gente que abandona o corpo à privilégio do calor. E vejo uma loja. Para ti seria. No contraste contra o fundo vermelho as letras inequívocas You' ll never walk alone. As declarações de amor raramente necessitam da palavra amor.

Com um beijo de Parabéns

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Nacos de Prosa (11)

Não sei como se chamaria o medo de não ter o que ler. Existem as conhecidas claustrofobia (medo de lugares fechados), agorafobia (medo de espaços abertos), acrofobia (medo de altura), collorfobia (medo do que ele vai nos aprontar agora) e as menos conhecidas ailurofobia (medo de gatos), iatrofobia (medo de médicos) e até treiskaidekafobia (medo do número treze), mas o pânico de estar, por exemplo, num quarto de hotel, com insónia, sem nada para ler não sei que nome tem. É uma das minhas neuroses. O vício que lhe dá origem é a gutembergomania, uma dependência patológica na palavra impressa. Na falta dela, qualquer palavra serve, já saí de cama de hotel no meio da noite e entrei no banheiro para ver se as torneiras tinham «Frio» e «Quente» escritos por extenso, para saciar minha sede de letras, já ajeitei o travesseiro, ajustei a luz e abri a lista telefónica, tentando me convencer que, pelo menos no número de personagens, seria um razoável substituto para um romance russo. Já revirei cobertores e lençóis, à procura de uma etiqueta, qualquer coisa.
Alguns hotéis brasileiros imitam os americanos e deixam uma Bíblia no quarto, e ela tem sido a minha salvação, embora não no modo pretendido. Nada como um best-seller numa hora dessas. A Bíblia tem tudo para acompanhar uma insónia: enredo fantástico, grandes personagens, romance, o sexo em todas as suas formas, ação, paixão, violência - e uma mensagem positiva. Recomendo «Génesis» pelo ímpeto narrativo, «O cântico dos cânticos» pela poesia e «Isaías» e «João» pela força dramática, mesmo que seja difícil dormir depois do Apocalipse.


Luis Fernando Veríssimo, "Fobias" in Comédias para se ler na Escola.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Gestação em curso

A minha sexagésima crónica pontapeia-me ansiosa.

Os dias com Eulálio

Os dias com Eulálio não foram simples. Não que tenham sido propriamente problemáticos ou fastidiosos, Eulálio é fluente e agradável na conversa, mesmo naquela cama de hospital e apesar dos cem anos - onde já se viu centenário com tamanha memória?- mas a história raramente tem o mesmo fim. Cada vez que se julga ter sido rematado o desaparecimento de Matilde surge mais uma versão. E assim andamos, corremos, cavalgamos páginas - quase duzentas- para saber como foi com Matilde, como foi com Matilde, afinal? Contudo, Eulálio, ainda cheio de pose e de pergaminhos, apesar de na penúria, Eulálio d’ Assumpção, não esqueçamos, é um velho arguto e sagaz que burila a história de um amor infeliz ao sabor de si próprio e da sua memória. Ora com a filha ora com as enfermeiras vai trocando palavras que oscilam esparsas ou consistentes na esperança de fixar a memória de ancião. E Matilde. Sempre Matilde. Voa temporariamente a resgatar os interlocutores perdidos no passado, há que perdoar Eulálio por estas ausências pontuais, para retomar a vida longa agora confinada às quatro paredes de um quarto de hospital, infecto, diz ele. E assim galgamos páginas. Mais e mais. Na senda de Matilde, com a história do Brasil em pano de fundo, as questões raciais, a família enredada em episódios curiosos de uma decadência anunciada, as alterações urbanísticas do Rio de Janeiro, várias gerações de Eulálios entre o casarão de Botafogo e a casa dos fundos de uma Igreja Evangélica, morada última antes da cama de hospital de onde lhe ouvimos a vida antes que chegue a morte. Deixei Eulálio ontem à noite mas continua comigo, o velho Eulálio d’ Assumpção, Lalinho, Lálá, Lilico, a prova evidente de que Leite Derramado vale a pena.

também no Delito de Opinião

sexta-feira, 12 de junho de 2009

quinta-feira, 11 de junho de 2009

À espera do estio

Nunca entendi os estados sombrios que ajudam à escrita, pelo menos bloguística. Os estados sombrios são uma rolha que me tapa a escrita, uma mordaça em torno das palavras, um travão inequívoco sobre frases e expressões. Voltarei assim que me regresse a vontade de sorrir e os dias de estio a envolver a alma.

terça-feira, 9 de junho de 2009

O mundo pode acabar...


mas terça-feira é dia de cronicar. No sítio de sempre: PNETMulher



A Geração Idiota pavoneia-se livro afora. Abrange indivíduos dos 15 aos 45 anos, o que não me deixou nada tranquila, e que se manifesta nas mais diversas áreas da vida: pessoal, profissional, no amor, no lazer, na educação, na relação com o dinheiro. Abundam os comportamentos desconexos, sem maneiras e imbecis.

sábado, 6 de junho de 2009

Ossos do ofício

Ai que prazer ter um livro para ler e não o fazer
Fernando Pessoa

Neste momento, e pegando na metáfora, tenho não um, mas uma pilha de livros para ler, e não posso deixar de os ler. Assim sendo, os posts vão ficar arrumadinhos em gavetas até me regressar o tempo.