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quinta-feira, 23 de julho de 2009

Julhos

Saí do aeroporto de Lisboa de t-shirt. Com um casaco leve apenas para abafar o frio demoníaco dos aviões e nos pés umas sandálias veraneantes, arremessei-me por esse mundo fora para me cultivar nos linguajares anglófonos. Assim que cheguei ao aeroporto de Luton, o céu plúmbeo ameaçador brindou-me com absoluta indiferença e uma vez ultrapassados os trâmites legais e de bagagem ao meu lado fui recebida do lado de fora do aeroporto com um friozinho cortante nos dedos dos pés. É sabido que me podem fazer quase tudo, tenho quase sempre o mesmo mau feitio, portanto será igual mas, se por acaso, for acarinhada com frio o mau humor habitual cresce exponencialmente transformando-me num animal absolutamente intratável. Nem eu me aturo. Não que fique implicativa. Não fico, mas não estou. Para ninguém. Nesse dia não tinha quem mal tratar, tinha mas não quis.
Fiz-me, pois, à vida queixando-me furiosamente e desejando com todo o ardor chegar àquela que seria a minha casa nas duas semanas seguintes para calçar a única coisa que me podia salvar do frio infernal: uns ténis comprados à pressa, não fossem os ingleses terem virado alemães e dar-lhes para fazer umas Wanderungen pelos matos oxfordianos fora. Uma vez chegada a uma das típicas casas inglesas de baywindow em pleno countryside, a alguns quilómetros de Oxford, descansei. Era pôr-do-sol. Umas réstias de sol entrecortavam a janela de onde avistava um bosque retemperador, lá para o outro lado da estrada. Era assim a minha casa onde habitavam dois boys com actividades de tempos livres capazes de ocupar uma família inteira não fossem peder-se num qualquer minuto livro com os respectivos pai e mãe e um gato, Jasper de seu nome. Depois dos cumprimentos e apresentações, algumas palavras de circunstância com os anfitriões sobre o ténis em Wimbledon entre Nadal e Federer, a passar no ecrã gigante da casa de baywindow, dei-me um tempo para ver se aquele friozinho que entretanto se estendera a outras partes do corpo não seria apenas das diferenças de temperatura, algum tempo de aeroportos e aviões. Não era. Era frio, frio que me obrigou a pedir à Paula e ao Keith, os meus anfitriões, que me ligassem o aquecimento do quarto, please. Era Julho.
E nos dias seguintes, Londres, Bath, Stonehenge, Christ Church, Alice’s Shop, Bodleian Libary, museus, torres, universidades, tea and scones e ales depois, o frio foi uma constante e, por assim ser, todos, mas todos os dias me ressarci com uma chávena de chá bem quente, o melhor bálsamo que conheço para a invernia depois de Glühwein. Era isto em Julho. E não mais bebi chá no Verão. Até hoje. Hoje que não pedi ao Keith e à Paula que me ligassem o aquecimento, não teci comentários de circunstância ao Nadal e ao Federer, não quis saber dos boys no remo, no atletismo, no futebol, na pesca, estou a beber uma caneca de chá. Como se fosse Oxford e o frio entrasse na alma. Earl Grey descafeinado, para que conste. Uma caneca cónica laranja com flores vermelhas, reminiscência do Verão que fugiu. Em pleno Julho.
Oxford
fotografia minha

12 comentários:

  1. Raios! Acho que nunca escreverei assim! E o pior... quer dizer, o melhor, é que Ela escreve bem os Julhos, os Junhos, os Maios, os Outubros... ;D
    Ah, eu também não bebo chá no Verão. Nem no Inverno. Aliás, nunca bebi. (risos)
    A bem dizer, o único chá que bebo é da Escócia com 3 pedras de gelo, tanto no Verão como no Inverno. Bom, agora é só verificar as vírgulas (pois, pois, que não estou a fim de uma reprimenda, que nunca se sabe se Leo's mummy is watching us) e publicar o comentário. :)

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  2. Lindo! lindo! ... os chás de Julhembro! ;)

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  3. Escreve muito bem...quase me vi eu prória a beber Earl Grey descafeinado,numa caneca cónica laranja com flores vermelhas :)

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  4. Olá Mike! Cá estou eu, sempre vigilante. Quanto às suas vírgulas tudo bem, já quanto às dEla... há lá umas faltasitas, isso há. (gargalhada)
    Sou suspeita, eu sei, mas também gostei muito do texto :)

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  5. Yupiii!... ena, estou orgulhoso das minhas vírgulas. (risos)
    Muito obrigado, Teimosita. :)

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  6. Muito obrigada pelo elogio, Mike. A avaliar pelo seu inestimável cavalheirismo não lhe faltou chá de certeza :-) Esse chá da Escócia não é muito do meu agrado. Nada como um gin tónico, um mojito ou uma caipirinha e no Inverno um Porto.
    Quanto às vírgulas, já me tinha constadp que estava de parabéns, não sendo o mesmo aplicável ao meu texto... ;-)

    Belíssima palavra: Julhembro, querida Sinapse

    :0), fantasminha

    Obrigada, Ana, Earl Grey é o meu chá preferido :-)

    Ora se não houvesse faltas nem era eu, teimosita :-)

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  7. pois para mim pode até faltar o bendito chá (que me sabe tão bem no Inverno), mas "posts" da Leonorzinha, querida, papalaguizinha estimada, é que seria uma grande lástima, se faltassem!!

    que post delicioso e aconchegante :-D

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  8. Mil beijos, Maria, és uma querida como sempre :-)

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  9. Que saudades de Oxford...
    Bath está prevista num futuro próximo juntamente com Bristol e Cardiff.

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  10. Estive em Bath no ano passado, quando estive em Oxford. É engraçado porque tinha lá estado uns vinte anos antes e a imagem que tinha da cidade era completamente diferente. Recomendo.

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  11. Sabes que ainda este fim de semana a minha cunhada me falou muito bem de Bath? Agora estou mesmo curiosa :)

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  12. É giro. Uma cidade termal nada plana e muito verdejante.

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