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sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Chiado, Tejo e tudo (2)

Entre o Tejo e o casario

Situado entre duas das sete colinas de Lisboa, a de Santa Catarina e a de São Roque, o Chiado reparte-se entre ruas estreitas e avenidas que serpenteiam em várias direcções: a Baixa, o Cais do Sodré, o Príncipe Real, a Calçada do Combro que levará a outro local de passagem obrigatória para quem se queira aventurar além dos roteiros turísticos. Os olisipógrafos dividem-se quanto à origem do nome desta zona da cidade, oscilando entre a onomatopeia do chiar das rodas das carroças e o epíteto de António Ribeiro, poeta satírico do século XVI, o Poeta Chiado ou apenas o Chiado. O mistério é o condimento necessário para a perpetuação dos mitos. Pode ser neste caso também.
Facilmente alcançável por três elevadores, Bica, Glória e Santa Justa, datados do fim do século XIX, início do século XX, o Chiado é mais do que apenas um bairro. É também a língua de casario, de um lado a precipitar-se para o Tejo e do outro a espreitar a encosta íngreme de sacadas pombalinas, decadente e simultaneamente encantatória como em outras cidades crepusculares, Veneza ou Havana.
O Chiado encerra a história centenária de boémia, tertúlias, de passeios públicos onde a elite portuguesa do século XIX se passeava para ver e ser vista. Muito mais do que um bairro, portanto. “O Chiado não pode ficar resumido a uma efeméride, a um livro de ouro ou a um belvedere por onde passam as primaveras das Belas-Letras/Belas-Artes dum país. Está também na trajectória do nosso Pensamento Social e Contemporâneo, na evolução da nossa política e esse é um capítulo que lhe cabe em parágrafos de honra maior” diz-nos José Cardoso Pires em Lisboa Livro de Bordo, obra obrigatória para quem quer conhecer Lisboa. E tem razão.
Desde sempre o ponto convergente entre o povo do Bairro Alto com vidas aquém da moralidade vigente, a elite prestigiada, e o percurso peripatético de pensadores, escritores e poetas, o Chiado mantém essa diversidade. A reabilitação do Bairro Alto como um dos locais de culto da noite lisboeta, onde o alternativo se mistura com as tascas tradicionais com vinho a copo dissuadiu as mulheres de má vida e as varinas de Eça que “de canastra à cabeça, meneavam os quadris fortes e ágeis na plena luz” também já não moram ali. Pululante de um novo estilo de comércio, com pequenas lojas alternativas escondidas nas vielas encimadas por canteiros de gerânios rubros ou pungentes estendais de roupa alardeando a intimidade, o Bairro Alto constitui hoje um pólo atraente da cidade. Nada como perder-se a pé para melhor sentir a alma de um local como poucos no mundo.
(continua)

3 comentários:

  1. E, continuar Bairro Alto fora ...
    :)))

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  2. E eu ia la perder-me a pé?... e depois ainda perdia o elécrico, safa!;)

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  3. Claro, Maria do Sol :-)

    Perdia nada, Mike, ainda falta para o elevador :-)

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