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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Parva, imbecil e idiota

Fim de tarde em Berlim. Junto à Gedächtniskirche grupos de turistas passeiam-se pelas bancas de postais, contemplando a Igreja e o que ficou dela.. Ao fundo o Kurfürstendam, sem a elegância de outrora, ainda assim imponente, árvores que se erguem de um lado e de outro. Dou uma volta, deito o olho aos postais, cumprindo parcialmente a minha existência de turista na mais emblemática do século XX e do outro lado da praça avisto a desgraça das desgraças, a tentação das tentações, mesmo com poucas horas de sono pelo voo madrugador aquilo a que resisto jamais: uma livraria. Do outro lado e em rebordo redondo ladeando a praça, as parangonas anunciavam o espaço, ainda mais evidenciado pelas bancas de saldos ou livros de ocasião no passeio. Faço um desvio. O Kurfürstendam pode esperar, dez dias seriam. Entro, como sempre, na senda das novidades e tendo em conta que já não visitava solo germânico há uns anos acorro fazendo mentalmente as contas do que perdi naqueles anos de ausência. No escaparate do lado esquerdo as novidades, nada pior para uma alma geminiana, a novidade, e deparo com um livro que havia de trazer na bagagem, um dos muitos.
O título sugestivo, Generation Doof, é uma réplica a um outro livro que apareceu há uns anos na Alemanha intitulado Generation Golf, o retrato de uma geração que cresceu com o famoso carro. Mas doof marcaria toda a diferença, porque doof em alemão significa parvo. Estaríamos pois perante a Geração Parva, embora o título soe pessimamente em português, pelo que arriscaria antes, Geração Cretina ou Geração Idiota, Imbecil também não iria mal.
No recato do lar, há livros que deixo a marinar durante uns tempos, pego no livro, enfastiada com as letras lusas e cansada das anglófonas num desses dias de Primavera serôdia. O episódio inicial revela um conteúdo promissor. Num concurso de beleza, foi pedido às candidatas que identificassem no mapa do seu país alguns Estados Federais e até cidades. A outra concorrente foi pedido que indicasse onde ficava a ex-RDA ao que a prestável beleza teutónica desenhou um risco longitudinal e arrumou a Baviera para a ex-Alemanha de Leste. E o disparate continuou: a Polónia no meio da Alemanha, Berlim logo ao lado.
A Geração Idiota pavoneia-se livro afora. Abrange indivíduos dos 15 aos 45 anos, o que não me deixou nada tranquila, e que se manifesta nas mais diversas áreas da vida: pessoal, profissional, no amor, no lazer, na educação, na relação com o dinheiro. Abundam os comportamentos desconexos, sem maneiras e imbecis. O livro é profusamente ilustrado com exemplos. A estupidificação em frente do LCD de última geração, esparramados no sofá entre snacks hipercalóricos, algures entre o DVD e a XBox e um sem número de gadgets.
Teria já lido cerca de metade do livro quando fui tomada por um assomo de provincianismo e dei por mim a pensar que afinal, cá no nosso cantinho luso, não estávamos assim tão mal, já que os alemães sofriam da mesma ignorância e imbecilidade. Foi tudo isto antes de me aperceber – dêem-me o desconto, afinal estou quase no limite de idade para fazer parte da imbecil geração – que também os alemães, os ingleses, talvez os franceses, quiçá os espanhóis. Asnos e imbecis. A globalização no seu esplendor. Uma pandemia para a qual se desconhece vacina.



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6 comentários:

  1. Ah, Leonor, não há vacina para isso. (risos)
    E com a ignorância e imbecilidade dos outros podemos nós bem, certo? ;)

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  2. Às vezes, Mike, quando não temos de a aturar. Se eu pudesse escreveria uma série de posts sobre a vida escolar na era da gripe A e pode ter a certeza de qeu imbecilidade não iria faltar ;-)

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  3. Coitadinho do Donkey que não tem culpa de nada :)

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  4. Antes o Donkey que um cat. (risos)

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  5. Este burro é inigualável. E fotogénico, o magano!

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