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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Manifesto

É que não são só as palavras, não é apenas o miolo, não conta simplesmente o diálogo entre as personagens e o leitor, por vezes entre o escritor e o leitor. Não é o que se lê, o que sente, o que emociona e enfurece. É o objecto. As centenas de páginas agarradas umas às outras, as capas coloridas, o cheiro, sim, um cliché, eu sei. O texto na contracapa, as palavras insossas nas badanas. O prazer de o abrir e espreitar. Um livro não é apenas palavras. Um livro é uma companhia. E são muitos os que me acompanham casa fora. Os que repousam caoticamente no chão ao lado da minha mesa-de-cabeceira, os que me colorem as estantes cá de casa, os que se espalham por aqui e ali. E depois o prazer. A procura. Os momentos em frente das estantes Estava aqui, guardei-o aqui, tem de estar por aqui. A tranquilidade de horas a folheá-los na senda do excerto perdido, a curiosidade dos minutos à procura de uma novidade entre as páginas, a certeza de se encontrar sempre algo novo. A partilha Olha aqui, o que encontrei. E as memórias Este comprei-o em Salvador, lembras-te? Um pedaço de história de vida encerrada em páginas e lombadas carinhosamente preservado como testemunho de momentos felizes Foi o primeiro livro que comprei no Rio. Os presentes e quem os ofereceu. São os autógrafos dos escritores,as letras desenhadas à sombra dos jacarandás com o Tejo em fundo. E andar com eles na carteira ou entre os dossiers. E são isto os livros. São as dedicatórias. O meu nome bem legível na primeira página, data e local, a marca indelével de posse e a afirmação de território São meus. E isto jamais poderá ser substituído por uma geringonça electrónica. Isso não são livros. Esses não serão nunca os meus livros.

6 comentários:

  1. Concordo inteiramente, Leonor. Mas mesmo assim, tenho alguma curiosidade nessas geringonças. Diz que permitem que se aumente o tamanho das letras, para se ler melhor... ;-D

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  2. Não tenho grande curiosidade, Luísa, mas já estou a esticar tanto os braços que sou capaz de precisar de óculos :D

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  3. Sinceramente não sei como acham que essas geringonças podem substituir os livros. Por mim bem podem tentar, mas não me convencem. Eu gosto do toque, eu gosto do cheiro, eu gosto de os sentir no meu colo... bjs

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  4. Eu sinto curiosidade com os ebook readers e já estive tentada a arranjar um, mas eu perco-me um bocadinho com gadgets novos...
    Mas depois penso - e será que eu uso aquilo? Dar-me-ia algum jeito?? Porque a verdade é que ler, é nos livros mesmo, com capa, papel, toque, cheiro, sensação... e tudo o que disseste no post.
    Nada substituirá o verdadeiro livro, isso é certo. Mesmo que se ache piada às engenhocas :)

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  5. Não sinto curiosidade nenhuma, também porque não sou nada de gadgetes, acho que é mesmo geracional, mas nada me tira os meus livrinhos :)

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