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domingo, 3 de outubro de 2010

E queria sempre que voltasses. Quando está sol, penso, Se ele tivesse visto dias destes nunca tinha feito aquilo. Às vezes queria ouvir-te chamar Ó Tio!, naquele jeito tão beirão e tão genuíno que tinhas. Queria o teu jeito arisco a chamar-me nomes na cozinha da vovó, lembras-te? Puta de merda e eu a responder-te no mesmo jeito arisco e intempestivo Puta é tua avó! E a vovó a entrar pela cozinha, coisas de pré adolescentes tolos e desbocados. Às vezes queria ver-te de novo a fazer birras, birras enormes à beira da água na Figueira, e que fria, que gelo, Né. Quatro ou cinco anos teríamos na altura. E queria sempre que voltasses, igual se continuaríamos a ser crianças ou adultos reconhecendo a passagem do tempo. Terias cabelos brancos também? Notar-se-iam as rugas de expressão? Queria sempre que voltasses. Queria sempre que nunca tivesses querido partir. Queria sempre que nunca o tivesses feito. E talvez nem te telefonasse hoje a dar-te os parabéns. Saber-te-ia contudo em celebração. Nada mais precisaria. Bastar-me-ia saber-te vivo.

Para o meu primo que faria hoje 44 anos.

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