A vida de professor implica muitas coisas. Implica dar colinho aos alunos, tentar dar aulas aos alunos, aprender com eles e ensiná-los de volta. Implica também manifestações de carinho que nos deixam um sorriso pateta no rosto e o coração transbordante de alegria. Mas ser professor, exactamente como as outras profissões, implica uma fatia generosa do tempo a aturar energúmenos que podem vir das mais diversas direcções. Podem ser alunos também, podem ser pais, podem ser funcionários e podem ser os meus pares, cruzes credo, tem um par assim até me arrepia a mais recôndita das pilosidades.
Foi isto numa segunda-feira, depois da manhã cheia de aulas, reuniões à tarde. Sentada de esguelha para fugir da luz cumpria obedientemente as instruções do Sr. Dr. Ministério da Educação e frequentava uma acção de formação. Estava naturalmente com pouca paciência para disparates com tantas horas de escola no bucho e aquilo que desejava ardentemente, tal como os meus alunos, era ver-me dali para fora e que não me importunassem mais com a ferramenta última que erradicará para todo o sempre a geração mais antiga de professores, aquela que não se ter conseguido adaptar a tamanha modernice acabará por extinguir-se naturalmente. Chegarão algures, por enquanto existe apenas uma caixa espetada no meio da parede, mas quando eles chegarem, far-se-á uma reinauguração e os ditos desfilarão ufanos sob o pálio da estupefacção da escola azul cueca. Abram alas, senhoras e senhores, para os Quadros Interactivos Multimédia, QIM, para os amigos.
E foi logo no início de três horas encafuados numa sala mínima recozendo odores e humores que o chefe máximo das formações se abeirou com a sua costumeira arrogância, um ser que deve trazer consigo um pedestal oculto no qual se encavalita quando se quer dirigir aos reles professores que dão aulas, que, como se sabe estes doutos seres não dão aulas, estão sentadinhos em gabinetes com os rabinhos almofadados na acalmia de mandar nos outros. Ora, o povo é rapaz que precisa de muita coisa e tendo em conta o número de cabeças pensantes no espaço exíguo, precisávamos de mais extensões, é que os computadores ainda não funcionam a energia solar e o professor é um rapaz pobre que não se pode dar a devaneios tecnológicos. Na verbalização desta necessidade o douto ser arrumou-nos com um educadíssimo Para a próxima tragam de casa. Já não me bastava o cabo VGA, agora tenho de levar de casa uma extensão e quem diz uma extensão, diz outras coisas, por que não? É só pedir por boca que o povo é ordeiro e temente. Não há paciência e amanhã é segunda-feira e depois é terça e depois quarta.
E assim se resolve o problema não é? trazer de casa, fantástica resposta... enfim... beijoca
ResponderEliminarIsso é como ir jantar fora e levar a comida connosco...
ResponderEliminarNa minha experiência, os formadores raramente se encarregavam da logística das coisas, a não ser quando a sessão decorria em instalações deles. Agora os formandos terem de o fazer, isso nunca vi! :-)
ResponderEliminarTipos repelentes esses cujo ar tão bem definiu. Levam-se tão a sério que, se não doesse davam vontade de rir.
ResponderEliminar[Muito tenho eu contado o caso da escola azul-cueca]
:)))
Esta criatrura de que falo é pródiga neste tipo de arrogância e em fazer disparates. Troca tudo, mas como não há mais candidatos ao cargo manter-se-á alegremente a mandar nos outros e, pior, tem uma palavra a dizer na nossa avaliação. Uma miséria.
ResponderEliminarBeijinhos e todas :)