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domingo, 21 de agosto de 2011

Sul

Dentro de mim faz Sul*. Penso nisto enquanto me abalanço fora de casa, para lá das portas, junto à relva e às hortênsias e um vento quente me cumprimenta sem cerimónias. E há uma reminiscência desse Sul de que tanto gosto, o cliché já usado anteriormente da porta do avião que se abre e a humidade tépida que beija o corpo**, um perfume que se cola a nós inebriante e a certeza quase imediata da felicidade. Estranha sensação, a de que apenas um bafo quente e húmido, um perfume de terra molhada e um vaguear imenso de chinela no dedo, acompanhado de silêncios partilhados e gargalhadas cúmplices nos bastaria para a plenitude. Mas faz Sul em mim. Quando rumo a Sul, esse que em mim faz, há uma janela de fugazes sensações lânguidas e despreocupadas que se abre, um eterno espreguiçar entre cigarras e ocasos cintilantes. Abro a porta. Lá fora é Sul. Como cá dentro.

* Usurpado do título de um livro do Ondjaki
** Miguel Sousa Tavares no livro Sul

2 comentários:

  1. Aquela humidade tépida abraça e embrulha o corpo; ou envolve mas não beija, ali, assim, como diz o Sousa Tavares.

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