Nunca me tinha acontecido.
Aconteceu-me um destes dias enquanto andava displicente de cabeça no ar,
admirando salas e pormenores como se fosse a vez primeira que punha pé ali
dentro e me aventurava além das fachadas imponentes, as mesmas que me
acompanham há décadas, cobertas de neblina, tão góticas e tão misteriosas e adentrava torreões e claustros prenhes de santos monumentais em esgares místicos. Assim,
de repente, vindo do nada, e sei que foi enquanto andava mesmo de cabeça no ar,
a vertigem breve da admiração de sempre Mas
como? Como é que aqueles gajos naquela altura fizeram isto? pensamento recorrente
sempre que me encontro com obras além do seu tempo. E terá sido aí que me
apeteceu um livro. Apeteceu-me um livro como apetece uma peça de fruta lustrosa
e voluptuosa, um naco de bolo de chocolate húmido, um copo de vinho tinto degustado
à lareira em dias de invernia, e apeteceu-me tanto. Devorar palavras, galgar
páginas, deglutir vírgulas e pontos e sentar-me depois tranquila e digerir o prazer de
palavras e mundos. Era um vez uma vez um rei que fez promessa de levantar um
convento em Mafra. Era uma vez a gente que construiu esse convento. Era uma vez.
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