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domingo, 25 de setembro de 2011

Apetites


Nunca me tinha acontecido. Aconteceu-me um destes dias enquanto andava displicente de cabeça no ar, admirando salas e pormenores como se fosse a vez primeira que punha pé ali dentro e me aventurava além das fachadas imponentes, as mesmas que me acompanham há décadas, cobertas de neblina, tão góticas e tão misteriosas e adentrava torreões e claustros prenhes de santos monumentais em esgares místicos. Assim, de repente, vindo do nada, e sei que foi enquanto andava mesmo de cabeça no ar, a vertigem breve da admiração de sempre Mas como? Como é que aqueles gajos naquela altura fizeram isto? pensamento recorrente sempre que me encontro com obras além do seu tempo. E terá sido aí que me apeteceu um livro. Apeteceu-me um livro como apetece uma peça de fruta lustrosa e voluptuosa, um naco de bolo de chocolate húmido, um copo de vinho tinto degustado à lareira em dias de invernia, e apeteceu-me tanto. Devorar palavras, galgar páginas, deglutir vírgulas e pontos e sentar-me depois tranquila e digerir o prazer de palavras e mundos. Era um vez uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento em Mafra. Era uma vez a gente que construiu esse convento. Era uma vez.


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