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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Devaneios terapêuticos

Enquanto o povo estrebucha com os cortes de tudo e mais alguma coisa, exactamente no dia em que se soube um filho vale a generosa quantia de uma dúzia de euros quando chegar a altura de nos levarem o subsídio de Natal, mantenho-me estupidamente a tentar pensar noutras coisas. Se assim não for não chegarei sã ao Natal e não tenho dinheiro para gastar com maleitas da alma que eu própria poderei evitar se inverter a tendência suicida de ter pensamentos catastrofistas e derrotistas e outras coisas mais em -istas. Neste meu devaneio terapêutico arredo furiosamente a hipótese de uma ilha tropical, na verdade nunca foi possibilidade mas apetece-me dizer isto, e entretenho-me a pensar na tentação imensa desta rentrée – odeio esta palavra- literária. Este mês de Setembro faz-me ter vontade de um Outono aconchegado, refastelada no sofá, enquanto não tenho de o penhorar para pagar a luz e a água, e rodeada das novidades. Ah, as novidades! Perdoem-me esta exclamação inflamada mas eu sou rapariga que gosta de novidades, desde que não seja o Vítor Gaspar a dar-mas evidentemente. E o que vem aí é muito tentador. Mário de Carvalho, Valter Hugo Mãe que se converteu às maiúsculas, logo agora que já me tinha habituado às minúsculas e José Luís Peixoto andarão por aí a espalhar a palavra escrita aos leitores com títulos muito sugestivos, Quando o Diabo Reza, O Filho de Mil Homens e Abraço respectivamente. Sairá ainda Comissão das Lágrimas de António Lobo Antunes e Uma Mentira Mil Vezes Repetida de Manuel Jorge Marmelo que me deixou curiosa. Isto para não falar de mais um livro de contos de José Eduardo Agualusa. Nos escaparates dos livreiros, sim, também gosto de acalentar esta ideia peregrina de que há livrarias à antiga com estantes de madeira até ao tecto e silêncios apenas entrecortados com o restolhar dos casacos e o virar das páginas, brilharão as capas novinhas em folha ainda perfumadas de tinta. Haverá melhor? Dream on.



4 comentários:

  1. Um daqueles textos que nos desperta a sensação familiar do "revejo-me tanto"...

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  2. E o cheiro maravilhoso de um livro novo? Mergulho sempre o nariz no meio das páginas para absorver bem esse cheiro.
    Tenho uma relação quase sensual com os livros.

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  3. Maravilhoso mesmo! Há um texto muito giro do João Ubaldo Ribeiro que fala disso. Também gosto de os cheirar :)

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