Quando comuniquei cá em casa que
este ano não iria pensar em viagens o anúncio foi acolhido com entusiasmo Fazes bem. Fazes muito bem! Só faltou
darem-me um biscoito e uma festa no lombo Good good girl enquanto me afastava
de cauda abanicando no ar. Cumprindo a minha condição de depauperada de
ordenado e subsídios houve que estabelecer prioridades e viajar foi
liminarmente afastado até ordem em contrário. Mantenho-me afastada de sites de
companhias aéreas à procura de uma promoção, esqueço os blogues de viagens e
fiz unlike a uma série de páginas no Facebook. Se me chamam, Olha, está a dar uma coisa gira no Travel Channel
respondo com um safanão Não quero saber,
ponho o meu ar de raposa, sacudo o pêlo e erguendo a cauda, afasto-me,
ignorando por completo as uvas. Estão verdes, demasiado verdes. Se me custa? Ó,
se me custa. Custa-me sentir-me presa e não viajar não porque não quero mas
porque se me foram ao guito. Custa-me este isolamento forçado, este não ter um
destino em vista, uma cidade na calha, planos e mais planos na antecipação
daqueles dias de inominável evasão. E dói tanto que esta noite sonhei com Liverpool, uma evocação clara da última vez que pus pé
fora deste rectângulo luso. Um fim-de-semana prolongado em que deixei Portugal
com um calor abrasador e fui encontrar Liverpool com muito mais frio do que já
senti este ano por cá. Uma ventania endiabrada que me proibiu de atravessar o Mersey esperava-nos lá onde se fala Scouse e a febre de sábado à noite ainda é
regra para o mulherio engalanado. Foi pôr pé na estrada e conhecer a cidade e senti-la, como sempre se
faz. Em cada viajante há um animal curioso disposto a cruzar as fronteiras da intimidade
da cidade. Quer tudo e ver tudo. E conhecer gente. O Mick e a Margaret, Scousers
de gema, bem-dispostos e divertidos. Iam ao Cavern todos os dias nos últimos
trinta anos e acompanhados de um pint de ale e de Guinness fomos trocando
risadas e palavras, quando se sentaram à nossa mesa ao som dos inevitáveis
quatro rapazes de Liverpool. Devo ter-lhes sentido a falta. Aos rapazes, à
Eleanor Rigby, ao Strawberry Fields e ao
Penny Lane, ao Mick e à Margaret, ao Mersey, a todas as pints que bebi, ao
scouse que comi ao almoço de Sábado e a tudo o que vivi, rua acima rua abaixo
na esperança de me apropriar da cidade. Devo ter-lhes sentido muito a falta quando
esta noite quase sobrevoei a cidade nas asas de um Liver Bird e a cavalguei no
lombo do Superlambanana. Maldito inconsciente. Xô! Xô, bicho malvado!
fotografia minha
Conheço essa dor e também partilho dela :)
ResponderEliminarPS: Gostei muito de Liverpool, estive lá num frio dia de Dezembro em 1997. Pelo mesmo facto não atravessei o Mersey.
Esperemos melhores dias :)
ResponderEliminarGostei tanto da escapadinha. Às vezes sabem-me melhor do que férias.
Estava tanto frio que tive de comprar um casaco mas gostei mesmo muito.
Pode ser que uma viagem surja no caminho quando não esperares e terá um gostinho especial...
ResponderEliminarBeijos.
Duvido muito que a coisa está negra mas melhores anos virão :)
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