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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A interpretação dos sonhos


Quando comuniquei cá em casa que este ano não iria pensar em viagens o anúncio foi acolhido com entusiasmo Fazes bem. Fazes muito bem! Só faltou darem-me um biscoito e uma festa no lombo Good good girl enquanto me afastava de cauda abanicando no ar. Cumprindo a minha condição de depauperada de ordenado e subsídios houve que estabelecer prioridades e viajar foi liminarmente afastado até ordem em contrário. Mantenho-me afastada de sites de companhias aéreas à procura de uma promoção, esqueço os blogues de viagens e fiz unlike a uma série de páginas no Facebook. Se me chamam, Olha, está a dar uma coisa gira no Travel Channel respondo com um safanão Não quero saber, ponho o meu ar de raposa, sacudo o pêlo e erguendo a cauda, afasto-me, ignorando por completo as uvas. Estão verdes, demasiado verdes. Se me custa? Ó, se me custa. Custa-me sentir-me presa e não viajar não porque não quero mas porque se me foram ao guito. Custa-me este isolamento forçado, este não ter um destino em vista, uma cidade na calha, planos e mais planos na antecipação daqueles dias de inominável evasão. E dói tanto que esta noite sonhei com Liverpool, uma evocação clara da última vez que pus pé fora deste rectângulo luso. Um fim-de-semana prolongado em que deixei Portugal com um calor abrasador e fui encontrar Liverpool com muito mais frio do que já senti este ano por cá. Uma ventania endiabrada que me proibiu de atravessar o Mersey esperava-nos lá onde se fala Scouse e a febre de sábado à noite ainda é regra para o mulherio engalanado. Foi pôr pé na estrada e conhecer a cidade e senti-la, como sempre se faz. Em cada viajante há um animal curioso disposto a cruzar as fronteiras da intimidade da cidade. Quer tudo e ver tudo. E conhecer gente. O Mick e a Margaret, Scousers de gema, bem-dispostos e divertidos. Iam ao Cavern todos os dias nos últimos trinta anos e acompanhados de um pint de ale e de Guinness fomos trocando risadas e palavras, quando se sentaram à nossa mesa ao som dos inevitáveis quatro rapazes de Liverpool. Devo ter-lhes sentido a falta. Aos rapazes, à Eleanor Rigby, ao Strawberry  Fields e ao Penny Lane, ao Mick e à Margaret, ao Mersey, a todas as pints que bebi, ao scouse que comi ao almoço de Sábado e a tudo o que vivi, rua acima rua abaixo na esperança de me apropriar da cidade. Devo ter-lhes sentido muito a falta quando esta noite quase sobrevoei a cidade nas asas de um Liver Bird e a cavalguei no lombo do Superlambanana. Maldito inconsciente. Xô! Xô, bicho malvado!
fotografia minha

4 comentários:

  1. Conheço essa dor e também partilho dela :)
    PS: Gostei muito de Liverpool, estive lá num frio dia de Dezembro em 1997. Pelo mesmo facto não atravessei o Mersey.

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  2. Esperemos melhores dias :)
    Gostei tanto da escapadinha. Às vezes sabem-me melhor do que férias.
    Estava tanto frio que tive de comprar um casaco mas gostei mesmo muito.

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  3. Pode ser que uma viagem surja no caminho quando não esperares e terá um gostinho especial...
    Beijos.

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  4. Duvido muito que a coisa está negra mas melhores anos virão :)

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